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O Povo índio e a questão do suicídio – Uma breve reflexão.

Por:   •  17/9/2018  •  Dissertação  •  1.073 Palavras (5 Páginas)  •  158 Visualizações

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O povo índio e a questão do suicídio – Uma breve reflexão.
Ana Maria Alves Coelho – 12/06/2018

O Brasil ocupa a 8ª posição no ranking do número de suicídios no mundo, isto significa 6,3% no ranking percentual. Como no resto do mundo, são números preocupantes, contudo, no Brasil acontece há muitos anos um crescimento silencioso, que não chama a atenção dos estudiosos e governos, pois trata-se do aumento do número de suicídios entre a população indígena.

Segundo o Censo Demográfico IBGE 2010 (https://ww2.ibge.gov.br/indigenas/indigena_censo2010.pdf), os índios representam 0,4% (não estão considerados “índios isolados e também indígenas que não se declaram como tal). Neste Censo, 47,7% , dos respondentes consideraram-se brancos; 7,6%, pretos; 1,1%, amarelos e 43,1%, pardos.

Se observarmos os estados brasileiros veremos que é do Amazonas a maior população autodeclarada indígena, com 168,7 mil; já o Rio Grande do Norte fica com a menor:  2,5 mil. Estes números podem ser vistos sob outra ótica se observarmos que em Roraima 11% do total da população é indígena autodeclarada.

Assim, podemos observar a predominância desta população nas regiões Norte e Centro-Oeste, o que significa dizer que uma pequena população ocupa uma grande dimensão de terras, muitas vezes cobiçadas, que para eles representam sobrevivência, além de cultura e sobretudo, identidade. Muitas destas terras, atualmente consideradas indígenas são fronteiriças com alguns países da América do Sul. A questão das terras parece estar no cerne dos problemas que envolvem o alto número de suicídios entre os indígenas. A taxa de mortalidade por suicídio chega a quase o triplo da média nacional, que é de 5,7 óbitos a cada 100 mil habitantes, conforme dados do segundo o Ministério da Saúde.

Estes números ficam mais cruéis ainda quando constatamos que 44,8% dos mortos é de jovens na faixa etária de 10 a 19 anos.

A cidade de São Gabriel da Cachoeira é a que mais registra suicídios por habitante dos municípios brasileiros. Com 23 etnias vivendo há séculos às margens do rio Negro e de seus afluentes, são 80% da população.  Entre 2008 e 2012, das 73 mortes contabilizadas na cidade, cinco não eram indígenas, 68 mortos eram jovens. (Mapa da Violência 2014.) Entre os indígenas, 75% eram jovens.

Sabemos que os jovens são bastante vulneráveis, tanto socialmente, quanto psicologicamente. Numa aldeia eles têm que conviver com suas tradições, cultura, língua, ao mesmo tempo em que dependem do governo para ter saúde e para se alimentar (através cestas básicas), já que não conseguem tirar da floresta todo o sustento de que precisam, isto os empurra para subempregos e trabalhos análogos ao escravo, muitas vezes dentro de suas próprias terras. As disputas entre índios, madeireiros e outros exploradores das riquezas naturais, são sempre desiguais, já que estes grupos dispõem de armas e jagunços em maior número o que significa ver a terra que tanto amam ser invadida em troca de cestas básicas, ou tiros, o que não lhes permitem preservar seu orgulho étnico e pessoal. Importante destacar que muitas mulheres preferem os homens brancos e desprezam os de sua própria etnia. A prostituição é uma triste realidade entre as mulheres indígenas.  

Os jovens, em determinado momento, vão à escola e se deparam com a dificuldade da língua, não bastasse este empecilho, muitos têm que adotar um novo nome, abrasileirado, que seja possível a todos falarem. Neste momento começam a questionar seus valores e muitas vezes não se sentem pertencendo a nenhum mundo. A comunidade que lhes originou torna-se pequena diante do mundo que eles descobrem existir, fazendo com que tenham vergonha de sua etnia, ao mesmo tempo que não conseguem “pertencer”, “fazer parte” do mundo dos brancos, sofrendo quase sempre, discriminação através de bulliyng e chacotas.

 Os adultos já passaram por este processo e sofrem com uma vida que não pode ser plena; nem totalmente indígena, nem civilizada e muitos deles entregam-se ao álcool e beberagens alucinógenas. As perspectivas de futuro são pequenas ou inexistentes. Outro fator a ser considerado é a maneira que os indígenas enxergam a morte.

Para este povo a conexão com a natureza, viver dela, preservar, relacionar-se em comunidade é condição básica de sobrevivência, já que é através de suas danças, cantos e rituais que eles se reconhecem enquanto povo que merece e inspira respeito. Qualquer coisa menor que isto é viver à margem.

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