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O Preproejto Pesquisa

Por:   •  24/11/2021  •  Relatório de pesquisa  •  4.907 Palavras (20 Páginas)  •  63 Visualizações

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1. APRESENTAÇÃO/DELIMITAÇÃO DO TEMA

“Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo

Sem saber o calibre do perigo

Eu não sei, da onde vem o tiro”...

(O Calibre, Paralamas do Sucesso)

Determinadas fases podem ser notadas no decorrer das etapas do desenvolvimento humano, sendo que estas etapas são normalmente próprias de um dado momento da vida do sujeito. Na fase adulta, e muitas vezes durante a velhice também, de modo geral, o trabalho aparece usualmente como uma particularidade. Ele é um dos fatores que desempenha papel primordial no modo como o sujeito se insere no mundo e interage com este.

Freud (1930, apud DIAS, 2016) explicita que trabalhar e amar são importantes fontes de satisfaçao libidinal. Em o Mal-Estar da Civilização, ele aborda alternativas para as origens da satisfação e felicidade na vida que pudessem assegurar ao sujeito o emprego de sua libido e a garantia de um lugar seguro numa parte da sociedade. Então, como resultado de processos sublimatórios do sujeito, o trabalho exerceria fator determinante para a manutenção do equilíbrio psíquico. E, nesse sentido, o trabalho poderia se constituir como forte componente na configuração da identidade do sujeito. Já que é ele que permeia sua história de vida singular e coletiva, e promove sentidos para sua existência.

O caráter central do trabalho para o sujeito passou no decorrer dos séculos a estar cada vez mais inserido na lógica capitalista, na qual a atividade profissional do sujeito é premissa básica para produção, obtenção de lucro e acumulação de riquezas. Características estas do sistema capitalista que vigora atualmente e que são rompidas em função da aposentadoria, pois é quando ocorre o desligamento do trabalho e essa ruptura traz consigo as alterações na rotina diária e no vínculo do sujeito com o sistema social.

Santos (1990, apud apud KLEGER e MACEDO, 2015) define que é o trabalho que dá ao sujeito um papel social na dimensão em que suas características “penetram na personalidade do sujeito, tornando-se parte de sua identidade” (p. 12). Nessa concepção, ao considerar o trabalho como um elemento constituitivo do sujeito, qualquer tipo de perda de trabalho pode ser enxergado como uma ferida identitária (ENRIQUEZ, 1999, apud KLEGER e MACEDO, 2015). Visto que esse papel estruturante se aprofunda mais à medida que o trabalho tem tido sua função cada vez mais valorizada socialmente.

Quando ocorre a interrupção com o mundo do trabalho, o sujeito observa-se diante de uma crise, como pode ser o caso da aposentadoria. No momento em que não exerce mais um papel ativo no sistema capitalista, o sujeito fica situado a margem do imaginário do homem ativo, ou seja, do modelo de homem produtivo, que é o que caracteriza sua valoração na sociedade atual.

Vinculada a essa situação, a depender de como o sujeito desempenhou o seu papel profissional, qual sua percepção acerca da chegada da aposentadoria pode ser consideravelmente diferente. Assim, a forma como ele se identificou no decorrer entre aquilo o que ele é e aquilo o que ele faz terá papel determinante nas repercursões vivenciadas no processo de transição para a aposentadoria.

O tema aposentadoria vem sendo cada vez mais discutido na literatura científica, provavelmente ligado ao crescimento da expectativa de vida da população, problematizações referentes a novas formas de organização social e consequentemente aumento no número de aposentadorias.

Tendo como base a produção bibliográfica com a temática aposentadoria, é possível observar o impacto do rompimento com o papel profissional nas mais diversas classes trabalhistas. E ainda que se reconheça o impacto do fator financeiro (na forma do baixo valor pecuniário das aposentadorias), parecem ser os fatores de origem subjetiva os principais responsáveis pela manutenção do vinculo do sujeito com a instituição.

O desejo de reconhecimento e de continuar se “sentindo” útil são as principais justificativas (CARLOS, JACQUES, LARRATÉA E HEREDIA, 1999, apud KLEGER e MACEDO, 1995). As categorias profissionais e o espaço de trabalho, podem em geral estarem associadas a prestígio ou despretígio social, o que acaba por proporcionar características de qualificação ou desqualificação do sujeito. E isso acarreta consequências nas questões subjetivas que o vínculo propicia no sentimento de pertença do sujeito à instituição na qual trabalha.

E quando é a carreira militar que é abordada, Kegler (2011) observa que nesse cenário existe um alto índice de complicações sociais para os policiais militares que se aposentam (ou passam para reserva remunerada). O que pode ser verificado é que na realidade da carreira militar essa temática se apresenta de forma bastante específica, dado o carater da relação do policial militar com sua atividade e para com a instituição.

Devido ao tipo de serviço, o policial militar apresentará uma intensa vinculação com a insituição. Isso, por sua vez, poderá dificultar a saída do militar do serviço ativo para vida na reserva. Na carreira militar, a aposentadoria está não está vinculada ao envelhecimento ou as perdas financeiras, e sim ao tempo de serviço prestado, o que os diferencia de outras atividades laborais (KEGLER, 2011).

A forma como o policial militar se relaciona com o trabalho é definida pela atividade continuada e inteiramente devotada as suas finalidades. Em se tratando de Policiais Militares, independentemente do estado em que estejam lotados, existe um compromisso que é pactuado no momento da entrada para o serviço e juramentado em solenidade oficial. Segundo o Estatuto da instituição – aqui exemplificado pelo da Policia Militar do Distrito Federal, o policial militar deve apresentar amor a sua profissão, espírito de corpo, fé na elevada missão e um necessário sentimento de servir à comunidade, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o seu dever, mesmo que com o risco da própria vida (Distrito Federal, 1984).

Tendo como pilares a hierarquia e a disciplina, o regime militar propaga determinados comportamentos e filosofias para esses profissionais. A eles é impingido o cumprimento de suas funções de forma ininterrupta, respeitando e seguindo os preceitos institucionais mesmo estando em momentos de folga. A fidelidade e a dedicação passam aqui para o espaço privado, adentrando suas vidas pessoais de forma que pode ser bastante intensa.

Nessa perspectiva, dado o regime de dedicação exclusiva que é requerido pelo trabalho, os policiais militares, muitas vezes, acabam por distanciar-se de outros grupos sociais. E é frequente

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