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O papel da socialização primária na construção de uma identidade étnica em crianças negras

Por:   •  6/10/2021  •  Pesquisas Acadêmicas  •  8.318 Palavras (34 Páginas)  •  122 Visualizações

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Universidade Cidade de São Paulo

Curso de Psicologia

O papel da socialização primária na construção de uma identidade étnica em crianças negras

Davi Augusto Russo Viggiani - RGM 2364634-9

Mara Rubia Gonçalves Gadote - RGM 2290700-9

Maria Aparecida Lima de Sousa - RGM 2297221-8

Matheus de Abreu Oliveira - RGM 2291854-0

Michel Arruda da Silva - RGM 2310056-7

Paula Andressa de Oliveira Silva - RGM 2374226-7

Roberto Cesar dos Santos - RGM 2281958-4

Vanéria Alves da Silva - RGM 2309034-1

2021

1 INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje, diante do contexto político e de movimentos ativistas que estamos presenciando, ainda nos deparamos com pessoas fenotipicamente negras que negam a sua negritude, buscando ficar o mais próximo possível do ideal branco. Isso está muito presente, principalmente nas redes sociais, onde vemos negros depreciando outros negros, pois não se reconhecem como tal.

E na tentativa de perceber as razões desse tipo de comportamento, optamos por compreender de que maneira as experiências vividas no contexto da socialização primária podem contribuir ou não para forjar essa identidade positiva. Pois, “a atitude dos pais no mundo, de submissão, de resignação, de conformismo, de rebeldia, de revolta, desenvolve na criança uma percepção peculiar, e eu diria até familiar, da realidade circundante” (GOMES, 1994).

Face as questões aqui mencionadas, torna-se necessário saber: Quais as percepções de pais de crianças negras sobre a forma como seu filho é educado para perceber-se negro numa sociedade hegemonicamente branca?

Godoy (1996), destaca em seu estudo, que a criança mostra tendência a formar sua identidade e autoconceito através das evidências externas, acreditando que o que é dito e expressado pelos seus adultos de referência, mostra quem ela é verdadeiramente. Sendo assim, a criança interioriza tudo o que é falado, levando muitas vezes, pela vida toda um modelo estereotipado de si mesma.

A nossa criança negra, por todo um condicionamento sociocultural de um ideal de beleza e padrões europeus, possui baixa autoimagem e baixa autoestima. Consequentemente ela será um adulto com problema de identidade pessoal. (CAVALLEIRO,2000 apud ROSE,1972)

De acordo com as seguintes autoras, Godoy (1996) e Cavalleiro (2000), as crianças negras pequenas já percebem a diferença racial, se mostrando desconfortáveis em sua condição de negra, pois já se apropriaram de que o branco é bonito e aceitável e o preto é feio, sujo e o que não presta, afetando assim o seu pleno desenvolvimento.

Percebemos que, apesar da grande movimentação ativista em prol do reconhecimento e da autoaceitação, a ausência de um debate mais profundo sobre as causas desse fenômeno ainda conserva uma visão limitada do preconceito por parte do grupo familiar. E partindo desse pressuposto é que iremos pautar a nossa pesquisa.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Socialização primária e família

É na socialização primária que a transmissão de valores e crenças acontece, nesse contexto de interação social, onde as crianças se percebem, e da forma como são identificadas, constroem sua autoimagem e sua identidade.

Esse primeiro nível que precisamos transpor em nossa socialização, chamamos “Socialização primária”, é através dele que o indivíduo se torna membro da sociedade, nessa interação com o outro a criança aprende hábitos, valores e atitudes num intenso contexto de fortes laços afetivos. (BRITO, 2013)

Segundo Gomes (1994), “a socialização primária consiste na transformação do homem (que ao nascer é apenas um ser biológico) em ser social típico: de um gênero, de uma classe, de um bairro, de uma região, de um país” e continua dizendo que essa trajetória de vida de cada indivíduo depende, em grande parte, de suas experiências particulares durante essa primeira socialização, promovida por um grupo doméstico.

Para essa primeira etapa de socialização citada também por Cavalleiro (2000, apud Berger & Luckmann, 1976, p. 175) existe o conceito da “ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela”, e ainda na sua citação, diz que, Berger e Luckmann e Nicolas Caparrós também concebem a socialização primária como uma tarefa familiar.

Gomes (1994), citando Sartre (1960), diz que é a família quem estabelece a relação entre o indivíduo e a classe, entre o particular e o universal. No entanto, cabe ressaltar aqui que diante das grandes transformações no contexto familiar, entende-se por família também o grupo doméstico ao qual a criança está inserida. Inclusive, Gomes (1994) ressalta essa diversidade, mas reforça sua tarefa básica:

A família atual brasileira deriva, na verdade, das transformações dos modelos anteriores, sob a ação, dentre vários outros fatores, da urbanização, das migrações externas e internas, da formação do proletariado, do desenvolvimento da mídia e das modernas condições femininas de vida e de trabalho. (...) a criança é o seu centro; socializa-la é sua tarefa básica. (p. 57)

Diante da comparação entre esses autores, ficou evidente a importância da família nesse primeiro momento de socialização. Para entendermos mais profundamente esse conceito de família, trouxemos algumas definições para embasar a nossa pesquisa.

A concepção de família numa perspectiva psicológica, pode-se entender como um grupo de coesa relação interpessoal, ocasionada de forma forçosa ou não e que se observa, mesmo que minimamente, alguma relação de hierarquia e cuidado entre seus membros. Já sob a ótica sociológica, a família ganha uma conotação de “unidade primária”.  Sendo assim, “se a espécie humana existe hoje, em grande parte isso é fato devido ao embrião da reciprocidade e do altruísmo mútuo que emergiu ao se organizar esses primeiros grupamentos humanos chamados de família” (CARNUT; FAQUIM, 2014).

A família transmite às novas gerações, especialmente à criança, desde o nascimento, padrões de comportamento, hábitos, usos, costumes, valores, atitudes, um padrão de linguagem. Enfim, maneiras de pensar, de se expressar, de sentir, de agir e de reagir que lhe são próprios, naturais. Não bastasse tudo isso, ela ainda promove a construção das bases da subjetividade, da personalidade e da identidade. Deriva disso a enorme importância da família tendo em vista a vida futura de cada criança: ela, a família, constrói os alicerces do adulto futuro. (GOMES, 1994)

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