Projeto de Pesquisa
Por: Azekel • 24/11/2025 • Pesquisas Acadêmicas • 3.277 Palavras (14 Páginas) • 4 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE
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PRÁTICA DE PESQUISA EM SAÚDE I
A PERCEPÇÃO DAS PESSOAS IDOSAS COM RELAÇÃO À ADESÃO À PSICOTERAPIA NA CIDADE DE PORTO ALEGRE
Allan Terres
Bruno Borges
Fernando Rodrigues
Leonardo Pedroso
Ronaldo Charão
Porto Alegre
2023
- Introdução
Demograficamente, os idosos são o grupo etário com maior taxa de crescimento proporcional no Brasil (RAMOS et al., 1987). O aumento exponencial da população de idosos no país recai sobre a necessidade de desenvolver e investir em políticas públicas de seguridade social que englobam o envelhecimento populacional e serviços capazes de suprir as demandas específicas dessa faixa etária, incluindo saúde e estabilidade psicológica, porém são poucas as discussões e estudos epistemológicos sobre este tópico no Brasil (CLEMENTE et al,. 2011; GOMES et al., 2021). Nesse sentido, o presente trabalho justifica-se ao promover equidade, diversidade na pesquisa científica e pela necessidade de explorar e mensurar a percepção que as pessoas idosas têm em relação à adesão à psicoterapia, pois a estereotipagem e o preconceito podem ser elementos que influenciam no engajamento e busca de tratamento psicológico (CLEMENT et al., 2015). Análogo a esta circunstância, de acordo com Sirey et al., (2001), os estigmas influenciam na descontinuação do tratamento de depressão entre os idosos. Logo, a percepção que essas pessoas mostrarem pode ser estigmatizada, e estigma é um constructo amplo que atravessa diferentes estruturas sociais, culturais e econômicas, e a compreensão deste elemento é imprescindível para contrapor sua possível influência negativa na busca de tratamento psicoterápico (CORRIGAN et al., 2014).
- Revisão de literatura
Cerca de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo possuem algum tipo de perturbação mental (OMS, 2022). O dado fornecido pelo órgão máximo da saúde mundial reforça a relevância do debate acerca do bem-estar psíquico comunitário, uma vez que essa pauta foi negligenciada por muito tempo na história da humanidade, fato que possibilita, consequentemente, a consolidação de alguns estigmas que perduram na contemporaneidade, sobretudo no pensamento dos indivíduos com maior idade.
Tendo em vista esse dado que impulsiona as hipóteses do presente projeto de pesquisa, nessa revisão não exaustiva da literatura, é importante que seja mencionado o histórico do conceito da loucura mundialmente. Segundo Batista (2014), a concepção de loucura acompanhou a evolução dos paradigmas de formação do conhecimento, ou seja, de acordo com as crenças vigentes na sociedade mundial em épocas, locais e, isto é, contextos diferentes, à loucura seriam atribuídos significados diferentes. Constata-se, em primeiro lugar, então, que o adoecimento psíquico foi visto por diversas lentes no decorrer cronológico civilizacional, variando de acordo com o contexto cultural de uma determinada sociedade. Na antiguidade grega, por exemplo, era comum que ocorresse uma atribuição divina àqueles que apresentavam sinais de distúrbios, principalmente nos discursos, tendo em vista que esse fenômeno poderia refletir manifestações das divindades no corpo dos enfermos (ALENCAR, 2013). Na Idade Média, todavia, o louco era julgado como um pagão, pois seu comportamento era associado à perversidade de um ser demoníaco que afrontava os valores sociais da estrutura dominante – nesse caso, a Igreja. Foi somente no Renascentismo, com o cientificismo, que a loucura se desvinculou das suas raízes místicas, passando, dessa maneira, a ser ferramenta de opressão e exclusão a partir desse período histórico (CUNHA, 2019). Nesse viés, os indivíduos com transtornos mentais passaram a ser enclausurados e afastados do corpo social, que os viam como infratores da ordem pública, dos regimentos sociais e das normas morais, o que fez com que o indivíduo quisesse fugir dessa categorização. Com essa forte relação construída no pensamento da população, os estigmas em relação à saúde mental foram edificados no mundo moderno, compartilhados pelas novas gerações vindouras, e a dúvida sobre a perpetuação dessa percepção estigmatizada permanece.
Nessa perspectiva, as atribuições de significado e as representações sociais dos conceitos não explicam somente a organização da loucura mundialmente, mas também retornam ao grande embate científico, social e político a respeito da credibilidade entre as ciências de matrizes científicas e as de matrizes compreensivas, e onde a Psicologia e as questões de saúde mental se encaixam. Para compreender melhor esse embate, é necessário entender as diferenças entre os métodos qualitativos e quantitativos de estudo: enquanto os métodos quantitativos se encaixam mais na visão positivista e pragmática da ciência ao mensurar e demonstrar regularidades matemáticas que permitem prever outras situações de maneira mais objetiva, que por consequência têm mais credibilidade no meio científico, os métodos qualitativos têm a preocupação de compreender os fenômenos vivenciados pelos pacientes de forma subjetiva, única e circunstancial, o que é considerado não-científico por alguns especialistas da área (TURATO, 2008). Esse dado mostra a falta de credibilidade que pode ser vista na psicoterapia, uma vez que, predominantemente, utiliza do método clínico para o tratamento dos pacientes, um método qualitativo que, segundo Turato (2008), procura entender o processo de significação do indivíduo e oferece um tratamento através do referencial teórico interdisciplinar, e, apesar de possuir amostras menores, apresenta a propriedade de compreender de forma mais profunda e contextual o objeto de estudo em questão.
Desta forma, fazer uma pesquisa quali sobre a percepção das pessoas idosas de Porto Alegre com relação à adesão à psicoterapia irá permitir que entendamos melhor como se dá o contexto cotidiano, as necessidades e possíveis dificuldades externas e internas que lhe são apresentadas, uma vez que estudos sobre aderência a tratamentos, bem como sobre os possíveis estigmas que podem surgir, são assuntos mais valorizados para estudos qualitativos, denotando a necessidade de se instrumentalizar esse tipo de estudo em prol de uma melhora da qualidade de vida geral - mas principalmente mental para esse estudo - das pessoas mais velhas da nossa sociedade (TURATO, 2008).
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