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Resenha - Função e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise

Por:   •  15/11/2015  •  Resenha  •  4.989 Palavras (20 Páginas)  •  1.534 Visualizações

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Nome: Bruna Paula de Araújo Oliveira RGM: 131302-9

Campos: Liberdade Período: Matutino Turma: 4° E

Texto Trabalhado: Lacan, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zagar, 1998.

  • 1953 Função e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise

Resenha

O início do ensino de Lacan deu-se com este texto do qual ele introduz a proposta “o inconsciente é estruturado como a linguagem”, deixando de forma clara sua permanência com o estruturalismo.

Nas primeiras linhas de seu discurso, Lacan apresenta a sua ligação ao movimento estruturalista, comentando que se este “não viesse a ser nada além de um vagido, ao menos ele colheria ali o auspício de renovar em sua disciplina os fundamentos que ele retira da linguagem”. Lacan se utiliza do fato de o estruturalismo na época representar uma mudança de paradigma para fazer uma crítica à formação do analista e ao convencionalismo utilizado pelas sociedades psicanalíticas e, também para indicar os problemas relacionados à prática, que naquele momento para ele não passavam de consequências do desvio da psicanálise das funções da fala e do campo da linguagem, o que levou a mudanças de objetivo e técnica.

Lacan era para a juventude francesa dos anos 50, segundo Elisabeth Roudinesco, um porta-voz de uma firme aspiração revolucionária. Não sujeitava-se as regras impostas pela Sociedade Psicanalítica Francesa, especificamente quanto ao tempo de duração de suas sessões, assumia uma posição onipotente perante seus pacientes, ao interromper as sessões arbitrariamente, impedindo que estes usassem livremente o tempo de duração da análise, mesmo assim, Lacan atraiu muitos que passaram a seguir seu ensino. Apesar das críticas que recebeu por realizar curtas sessões e poder ter maior número de pacientes, ele permaneceu com suas posições.

Na época, haviam três aspectos em alta na Psicanálise que acabaram por fazer o analista afastar-se dos fundamentos da fala: a função do imaginário, que por sua vez está relacionada às fantasias na transferência e na constituição do objeto nas diferentes fases do desenvolvimento psíquico, levou os investigadores a assumir a abordagem das estruturas pré-verbais; a noção das relações libidinais de objeto, que renovando a ideia do progresso da análise, mudava sua conduta, onde a psicanálise desemboca numa fenomenologia existencial, e por fim; a contra-transferência e formação do analista, aqui o embaraço se deu por conta do final da análise didática, que de um lado apontava-se o ser do analista, e do outro, a importância do inconsciente.

Estes aspectos fizeram com que o analista abandonasse o fundamento da fala e da sua linguagem em favor de linguagens já instituídas e das quais ele mal conhecia as recompensas que aquelas ofereciam à ignorância.

Para evitar esses erros, Lacan aponta a necessidade de um retorno ao estudo das funções da fala. Quando trás a ideia do retorno a Freud, ele deixa claro que a “linguagem” deve ser priorizada, uma vez que a psicanálise só tem a fala do paciente como veículo, sendo que os termos mais vividos da experiência psicanalítica: inconsciente e sexualidade só adquirem um sentido pleno quando se orientam em um campo de linguagem e se ordenam na função da fala.

Em um de seus trabalhos, Freud realizou a análise do livro Memórias de um neurótico escrito por Schereber, com isso, ele buscou decifrar a linguagem do inconsciente no delírio paranóide realizando uma verdadeira interpretação de texto.

É necessário concentrar-se na fala e não no comportamento, ela deve ser escolhida como meio da abordagem psicanalítica. O analista experimentará um vazio caso não se coloque no lugar de “escutador”, e buscará com isso para-além da fala algo que preencha este vazio.

No trabalho analítico, o sujeito busca sua verdade, e poderá contar com a ajuda do psicanalista que busca trabalhar com o discurso. Desta forma, o paciente será levado a sair da palavra vazia, reencontrando a palavra plena, que leva à busca da verdade e à assunção do sujeito das suas próprias imagens. Outro aspecto refere-se à transferência, uma vez que toda fala pede uma resposta e desde que se tenha um ouvinte, sempre pode haver uma resposta. A assunção, pelo sujeito da sua história, é formada pela fala endereçada a um outro, e é nesta fala que nota-se um sentido na função da individualidade. É necessário que o sujeito reconheça o seu inconsciente na sua própria história, que por sua vez deve ser trabalhada à medida que constitui a emergência da verdade do Real.

Ao se trabalhar a teoria analítica, sentimentos como frustração, agressividade e regressão sempre são evocados, entretanto, se faz necessário questionar-se de onde eles vêm, como aparecem e quais são suas funções.

A frustração provém da dor do sujeito que percebe seu ego como uma alienação de si mesmo, uma imagem no espelho de seu próprio self. O sujeito no seu discurso reconhece que sempre foi um ser de sua obra no imaginário e que essa obra esclarece nele qualquer certeza. Nesse trabalho que faz de reconstruí-la para um outro, ele reencontra a alienação fundamental que o fez construí-la como um outro, e que sempre a destinou a lhe ser roubada por um outro. Sabe-se também que o silêncio pode ser menos frustrante do que uma resposta à fala vazia, pois o sujeito desprezará qualquer fala que se comprometa com seu equívoco.

O próprio ego em sua essência é frustração, não de um desejo do sujeito, mas sim de um objeto em que seu desejo está alienado e quanto mais se elabora, mais se aprofunda no sujeito a alienação de seu gozo. Seu próprio ser é um constructo do imaginário.

Já a agressividade surge quando alguém se depara com o outro no lugar de analista, que lhe coloca a falar para reconstituir sua história e assumir o lugar de sujeito nesta narrativa. Algo que gera muita agressividade é perder as identificações e as ilusões, portanto, esta não surge como consequência de um desejo frustrado, mas sim como exemplo, a agressividade do escravo, que responde à frustração de seu trabalho com um desejo de morte.

A agressividade pode aparecer diante de qualquer intervenção que, quando as intenções imaginárias do discurso são denunciadas, o objeto que o sujeito construiu para satisfazê-las é desmontado.

Já em relação à regressão, é possível colocá-la como uma atualização no discurso das relações fantasísticas. Essa regressão não é real, nem mesmo quando falamos da linguagem que aparece nos pequenos deslizes, lhe atribuir à realidade de uma relação atual com o objeto equivale a projetar o sujeito em uma ilusão alienante, onde só faz repercutir um álibi do psicanalista.

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