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Resenha Jacques Lacan

Por:   •  13/5/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.829 Palavras (12 Páginas)  •  242 Visualizações

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Jacques Lacan

Lacan tentou reformular a psicanálise com base nas propriedades da linguagem e da lingüística de Saussure para dizer que só era possível uma psicanálise se o inconsciente fosse estruturado como uma linguagem, uma vez que aquela opera através da palavra sobre o sintoma, quer seja através da palavra do cliente quer seja pelo analista. A livre associação e o dispositivo de cura analítico só conseguem afetar o sintoma, de acordo com Lacan, porque o “o inconsciente está estruturado como linguagem”.

Em 1936 Lacan desenvolveu a Teoria do Imaginário com base no Estádio do Espelho. O Estádio do Espelho se mostra como a formação da função do eu. A criança precisa, inicialmente se espelhar no outro para constituir seu eu. A criança se reconhece, por volta dos seis aos 18 meses, perante um espelho, se diferenciando diante dos outros animais. Contudo, como a criança ainda é prematura, do ponto de vista fisiológico, se encontra em desamparo, em estado de “discordância intra-orgânica”, assim sendo, ao mesmo tempo em que ela se reconhece no espelho, ela vê a imagem de um outro. Isso levou Lacan a construir a idéia de que o conceito de alienação imaginária – que é quando a criança se identifica com a imagem do outro – e a construção do eu e o desenvolvimento do homem está medido por identificações ideais.

Tal teoria também explica a relação do homem com o objeto. Essa relação seria paranóica do ponto de vista de Lacan, uma vez que o objeto interessa ao homem na medida em que o outro quer tomar tal objeto, portanto o desejo humano é, fundamentalmente, desejo do outro. Temos a necessidade de nos sentir desejáveis aos olhos do Outro. E quando o desejo do Outro é uma incógnita o sujeito se sente angustiado, uma vez que não consegue decifrar o desejo do Outro.

Enquanto Freud estrutura o psiquismo em eu, supereu e id, três psicanalistas de Nova York propuseram unificar essas três instâncias. Assim o eu seria o centro da personalidade, com uma função sintetizadora. Lacan adere essa visão, que aponta que o eu não é unificador nem unificado, mas uma desordem de identificação imaginária, portanto é um eu desintegrado.

Tal relação apresenta uma dificuldade: o caráter mortífero da relação imaginária entre o eu e outro – é apenas o eu ou o outro. Diante dessa dificuldade, Lacan faz a diferenciação entre o simbólico e o imaginário, distinguindo, portanto o eu imaginário do eu simbólico.

O simbólico apresenta duas vertentes, a da palavra e da linguagem. A primeira é uma vertente com função pacificadora. As palavras operam nas identificações, que podem superar o imaginário. Além disso, a palavra faz mediação entre os sujeitos. Partindo desse ponto de vista, o sintoma seria, na visão de Lacan, um defeito de simbolização, pois o sujeito não verbalizou, e o sintoma se tornou um centro de opacidade. A cura analítica se daria, portanto, quando o sujeito é levado a restabelecer a continuidade de sua história, que havia sido interrompida pelo sintoma. Ela permite ainda significações retroativas ao que permaneceu opaco para o sujeito em sua experiência.

A outra vertente do simbólico é o da linguagem. Esta vertente é um conjunto diacrítico de elementos discretos e separados. Esses elementos quando separados estão privados de sentido, mas quando se unem a um outro elemento formam uma estrutura articulada, combinatória e autônoma. Tal estrutura é o que Lacan chamou de significante, que será abordado posteriormente nesse texto. Enquanto a vertente da palavra é significação, a vertente da linguagem é sem-sentido, já que Lacan acredita que o sujeito precisa apenas preexistir para ter a estrutura da linguagem - independe do aprendizado que a criança for receber.

Lacan elabora uma dimensão comum às duas vertentes do simbólico. Ele reestrutura os conceitos de Saussure de significante e significado e os aplica a psicanálise. Enquanto para os linguistas o significante apenas dá significado, e existe uma correspondência entre significante e significado, para Lacan o significante atua no significado. Outro ponto a destacar é que o significante dá margens a inúmera, infinitas significações, pois um significante remete a outros significados, diante disso é que Lacan irá dizer que: “[...] todo verdadeiro significante é, enquanto tal, um significante que não significa nada” (LACAN, 1955-56/1988, p.212).

Além disso, Lacan mostra que a relação entre estrutura simbólica e o sujeito é diferente da relação imaginária do eu e o outro. Por isso, Lacan faz a diferenciação entre o Outro com maiúscula (simbólico) e o outro (minúscula) - que remete ao imaginário. O Outro é exterioridade que possui diversas significações ligadas a um significante.

Diante disso, a função do psicanalista, segundo a primeira teoria de Lacan, é não permitir que a relação imaginária domine o eu, a situação. Portanto, o analista está na posição do Outro, e apenas nessa posição é que pode desfazer o sintoma.

Em uma pergunta, o mais importante não é levar em conta o significado da pergunta, mas sim o desejo do sujeito, haja vista que o “significante representa sujeito”. É só partir daquilo que o sujeito desejante quiser que podemos construir seu significado. Um exemplo se dá a partir de um dos pacientes de Freud que apresentava atos obsessivos, e aquele lhes fazia uma única interpretação, contudo, várias interpretações podem ser feitas:

Trata-se de uma mulher casada, de cerca de 30 anos de idade, que executava a seguinte seqüência de atos obsessivos, muitas vezes por dia: corria desde seu quarto até o quarto contíguo, assumindo ali uma posição determinada, ao lado de uma mesa situada no meio do aposento, soava em seguida a sineta, chamando a criada, dizia-lhe algo sem importância e depois a dispensava, retornando logo a seu quarto. Ao longo do tratamento, a mulher acaba contando que era, há mais de dez anos, casada com um homem muito mais velho que, desde a noite de núpcias, se revelara impotente. Indo e vindo incessantemente de seu quarto ao quarto dela, em tentativas inúteis de consumar o coito, ele, pela manhã, por fim dissera: “Sinto vergonha do que pensará a criada, quando vier arrumar a cama”, pegara uma garrafa de tinta vermelha, derramando-a no lençol, mas, segundo a paciente, não no lugar adequado. A paciente lembrou, então, que a toalha da mesa ao lado da qual ela se posicionava durante os rituais obsessivos possuía uma grande mancha. Ela costumava assumir uma posição tal em relação à mesa, que a criada não pudesse deixar de ver a mancha na toalha. (FREUD 1916/17, p.269 apud LUSTOZA, 2002, p.62).

A partir desse caso, várias interpretações podem ser feitas, e até mesmo

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