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Saude Mental Na Psicologia Do Trabalho

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Por:   •  15/9/2014  •  1.972 Palavras (8 Páginas)  •  531 Visualizações

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1 Saúde Mental no contexto da Psicologia do trabalho

1.1 O mundo do trabalho

Em 1844, ao discutir a alienação do trabalho, Marx (1993) dizia que o trabalhador foge do trabalho como foge da peste. Isso por que o trabalho, como meio de satisfação de necessidades humanas, surgia, antes de tudo, como fonte de infelicidade, de esgotamento, de mortificação e de negação da condição de humanidade do próprio trabalhador.

O século XIX foi marcado por jornadas extensas (Marx 1983), pelo trabalho infanto- juvenil e pela pouca regulamentação das relações de trabalho. Com isso preservava-se minimamente a integridade física dos trabalhadores. O século XX teve como marca principal um intenso processo de industrialização e, com ele, um acelerado avanço tecnológico, associado à adoção de modelos de gestão dos processos produtivos cada vez mais exigentes em termos de capacidade física e psíquica dos indivíduos.

Os resultados disso se fizeram sentir, em primeiro lugar, ainda no corpo do próprio trabalhador, em razão da lógica taylorista- fordista de organização do trabalho (Dejours, 1992), o que justificou, principalmente, as lutas pela manutenção da saúde física nas situações de trabalho e a exigência de maior regulamentação das condições laborais por parte do estado.

Em se tratando dos modelos de gestão, não é possível afirmar que houve a superação ou a substituição efetiva de um pelo outro. O que se nota é que, de um lado, os trabalhadores continuam enfrentando a cisão entre planejamento e execução, bem como o rompimento entre o saber e o fazer, típicos do modelo taylorista- fordista de produção, enquanto que, de outro, são submetidos a um processo no qual, supostamente, lidam com a recomposição das tarefas e têm o controle da produção em suas mãos, a exemplo do toyotismo, como mostra Antunes (1995).

O que afinal podemos notar, é que a atividade humana chamada trabalho praticamente tem se restringido àquilo que Hanna Arendt (2001) denomina labor, ou seja, uma atividade vinculada à sobrevivência imediata e que se perpetua na repetição dos gestos e do que ela produz. Para Arendt, seria ocioso até mesmo perguntar "se os homens vivem e consomem para ter forças para trabalhar ou se trabalham para ter os meios de consumo" (p159).

Essa laborização parece tornar-se cada vez mais marcante no mundo do trabalho, na contemporaneidade, intensificando os prejuízos na integridade física e psíquica dos trabalhadores, em que pese a existência de condições tecnológicas que bem poderiam levar ao contrário.

1.2 Problemas e limites na relação entre trabalho e saúde mental

O trabalho nas condições e na forma como vem sendo realizado, em grande parte das vezes tem sido danoso à saúde dos trabalhadores. Cabe lembrar que, para o trabalhador ter acesso aos benefícios do seguro do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), em caso de acidente de trabalho é preciso que haja o estabelecimento do que se conhece como nexo causal (Rigotto & Rocha, 1993). Essa determinação está relacionada a uma visão de saúde no trabalho centrada na interpretação uni ou multicausal dos fenômenos relacionados à saúde/doença. Nesse caso, o que se leva em conta é o fato de que "elementos ou fatores de riscos específicos, quando atuam no organismo, causam enfermidades também específicas, legalmente reconhecidas como doenças profissionais ou relacionadas ao trabalho" (Scopinho, 2003, p. 97).

Se, muitas vezes, não se encontra respaldo suficiente para que determinados processos de adoecimento entre trabalhadores sejam qualificados como relacionados ao trabalho, no campo da saúde/doença mental a dificuldade se torna ainda maior, na medida em que não está dado esse caráter palpável, ou relativamente palpável, encontrados nos problemas que atingem diretamente o corpo. Aqui, navegamos em mar revolto- quando não pisamos em areia movediça. Isso porque, entre outras coisas, "não é possível quantificar a vivência, que é em primeiro lugar qualitativa" (Dejours, 1994, p. 22).

A dificuldade começa quando se tenta encontrar consensos sobre o que entender por saúde menta/doença mental e, em decorrência, por sofrimento psíquico. Borges e Argolo (2002, p. 272) afirmam que "saúde e doença mentais não são situações que permitam definir uma como ausência da outra." Mas, em geral, a clinica e a epidemiologia consideram critérios básicos para a classificação das doenças mentais "a presença de alterações, desintegração no funcionamento psíquico e a duração dessas alterações". No entanto, esse modelo de compreensão exclui situações em que há sofrimento psicológico sem que este possa ser definido como uma doença ou transtorno mental no sentido clássico.

Nesse contexto, é preciso destacar até mesmo o fato de que nem sempre o indivíduo identifica seu sofrimento como sendo de ordem psíquica. E mesmo que o perceba assim, muitas vezes não lhe confere a dimensão necessária para buscar ajuda. Por fim, quando o faz, raramente associa seu sofrimento a situações de trabalho, mesmo porque geralmente, os problemas ditos pessoais ganham o direito de se expressar somente depois da jornada de trabalho.

Há um segundo aspecto importante que dificulta encontrar elementos que sirvam de base para estabelecer a relação entre trabalho e sofrimento psíquico: nas organizações, não é muito comum o diagnóstico de casos graves ou claramente delineados como doença mental ou transtorno mental. Isto porque, se o sofrimento ocorre, antes de ele tornar-se um problema para a organização, o trabalhador tende, de algum modo, a se afastar de sua atividade, ou dela é afastado, com diagnósticos que geralmente não refletem o que de fato sofre.

No que diz respeito a saúde/doença mental, mais especificamente, é preciso considerar ainda que se trata de um processo que expressa determinadas condições da vida humana e também determinada capacidade dos indivíduos para o enfrentamento dos desafios, conflitos e agressões apresentados pela realidade na qual vivem. Com base nessa compreensão, sofrimento psíquico e doença mental podem ser tomados como processos qualitativamente distintos.

As dificuldades em estabelecer a relação entre determinadas formas de trabalho e o sofrimento psíquico levaram, na curta história dessa área de estudos, ao surgimento de diferentes modos de investigar e compreender o problema. De acordo com Jacques (2003), pode-se identificar quatro amplas abordagens: as teorias sobre estresse; a psicodinâmica do trabalho, de base psicanalítica; a abordagem epidemiológica e/ou diagnóstica; e os estudos

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