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Aspectors teoricos e metodologicos da pesquisa em saude mental e trabalho

Por:   •  21/5/2015  •  Trabalho acadêmico  •  2.148 Palavras (9 Páginas)  •  280 Visualizações

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Universidade de São Paulo

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

Aspectos teóricos e metodológicos da pesquisa em saúde mental e trabalho: reflexões a partir de uma análise comparativa do estresse em jornalistas e guardas municipais.

São Paulo

2015

INTRODUÇÃO

Conforme descrito no artigo, a vida urbana em nossa sociedade impõe diversos tipos de pressões (econômicas, temporais, sociais, políticas, institucionais entre outras), com as quais temos que lidar cotidianamente.  Esses elementos atingem a população em geral, assim como diversas categorias profissionais. Além do mais, após a reestruturação produtiva – que ocorreu na metade do século XX – a pressão sobre o trabalhador se intensificou ainda mais, uma vez que esse passou a ser exposto a uma jornada mais assídua de trabalho, inserido num ambiente cada vez mais competitivo, e com relações cada vez mais precárias. Nesse contexto, houve um agravamento nos problemas de saúde ocupacional em diversas categorias de trabalho, no artigo apresentado aborda-se a questão de complicações de saúde mental, enfrentados por duas categorias distintas: os jornalistas e os guardas municipais.                                Na verdade, o trabalho, como os próprios autores afirmam, não se caracteriza como uma pesquisa ação, mas trata-se de uma análise comparativa entre duas pesquisas feitas anteriormente, os estudos acerca do estresse dos guardas municipais (Silva, 2005) e dos jornalistas (Heloani, 2005, 2003).                                 Apesar de serem categorias formadas por pessoas com características extremamente diferentes – de um lado os jornalistas que compõe uma categoria mais intelectualizada e elitizada, enquanto do outro se encontram pessoas de uma classe social médio-baixa ligadas a um trabalho de segurança pública - os autores explicam que ambos passam por processos muito similares de “pressões socioeconômicas e institucionais na vida social e laboral cotidiana”, e destacam o desgaste da esperança e deterioração da autoimagem e da autoestima.

OBJETIVO

Os autores objetivam a consolidação de métodos de análise psicossocial-laboral voltados à transformação da gestão, através da elucidação e demonstração das relações, nem sempre visíveis – entre gestão, saúde mental e trabalho.

REFERENCIAL TEÓRICO

No referencial teórico, os autores citam as diferentes abordagens teóricas usadas em outros trabalhos da área, como a abordagem comportamental-cognitivista, a abordagem psicodinâmica (dejouriana) e a sociológica (marxista). Essas abordagens dividem-se entre o viés objetivista e o subjetivista e a metodologia qualitativa e quantitativa. Como parte dos dados quantitativos, são citados os instrumentos de detecção da porcentagem de estresse, índices de reajustamento psicossocial e índices de qualidade de vida; enquanto que a metodologia qualitativa baseia-se em entrevistas semi-estruturadas (que podem ser individuais ou grupais) e em relatos dos trabalhadores sobre suas trajetórias pessoal e profissional.                                         Os autores apontam que “as análises mais aprofundadas da questão subjetiva relacionada ao estresse, ao trabalho e às relações de poder não emergem exatamente dos dados quantitativos”, e ainda que os dados quantitativos muitas vezes convergem para uma generalização, enquanto a metodologia qualitativa permite  uma análise mais realística da intensidade, graus, e fases específicas de estresse, sendo que nesse método o objeto de estudo deve ser estudado através da interpretação, e os resultados compreendidos (compreensão dos resultados substitui a descrição).                                                                Dessa forma eles concluem da seguinte maneira: “Os dados epidemiológicos nos permitiram objetivar fases e porcentagens do estresse nas referidas categorias profissionais. Porém, foi a análise qualitativa dos dados mensurados e dos discursos dos trabalhadores que nos sinalizaram para existência de movimentos dinâmicos entre saúde mental e trabalho.”

Já no que diz respeito à abordagem teórica, os autores concordam com a proposta teórico-metodológica de Dejours, pois argumentam que esta apresenta uma abordagem pluridimensional e valoriza a interdisciplinaridade da pesquisa e o seu caráter eminentemente qualitativo. Além de salientar que a metodologia qualitativa congrega várias correntes do pensamento – o que é benéfico analisar as várias facetas do objeto de estudo -  as quais se opõem ao modelo positivista como padrão único de ciência.  

MÉTODO USADO

Na pesquisa com jornalistas foram realizadas entrevistas grupais sobre formação profissional, trabalho e família, e entrevistas individuais sobre a história de vida, com 44 profissionais de uma amostra intencional. Além das entrevistas, também foi aplicado um questionário de múltipla escolha sobre os assuntos da entrevista, bem como a coleta dos dados do o Inventário de Sintomas de Stress (Lipp e Guevara 1994), a Escala de Reajustamento Social de Holmes e Rahe (1967) e o Inventário de Qualidade de Vida (Lipp & Rocha, 1994).

Enquanto na pesquisa com guardas municipais foram realizadas entrevistas grupais com 238 profissionais divididos em 26 equipes, sobre medo e risco do trabalho, e relações entre gestão e estresse; e entrevistas individuais com 42 guardas identificados como estressados pelo inventário de Sintomas de Stress, além de questionários com estrutura similar ao aplicado aos jornalistas. Posteriormente, foram feitas outras entrevistas grupais, precedidas novamente por um questionário, por meio do qual se buscou investigar as relações entre o estresse e os problemas da formação técnico-profissional (pois a pesquisa considera que a formação é um elemento de gestão que se constitui como fator de estresse).

Os autores ressaltam que os procedimentos quantitativos utilizados por meio dos questionários, aplicados antes das entrevistas individuais e grupais, forneceu uma base empírica suficientemente sólida que os auxiliou e complementou a análise de caráter interpretativo-qualitativo.

RESULTADOS E CONCLUSÕES

A pesquisa com os jornalistas comprovou que esta categoria está exposta a diversos fatores de estresse, que são: jornadas de doze horas de trabalho, ou mais; falta de relacionamento familiar (enfraquecimento das relações)  e falta de tempos de estudo por conta das excessivas jornadas de trabalho; ambiente de trabalho  altamente competitivo ; exposição a assédio moral, sexual e ao rígido controle social; salários não condizentes com o grau de exigência que lhes é imposto pelas chefias.                                 Já os guardas municipais demonstraram que os fatores de stress estão ligados a má gestão da formação profissional; ambiguidades do ordenamento jurídico institucional e falta de nitidez dos direitos e dos deveres e das funções dos guardas municipais. Além de que ambos são muito expostos à mídia e à sociedade, o que aumenta os níveis de pressão social e estresse.                                                                Com isso apesar de serem categorias profissionais diferentes, verificou-se que em ambos os casos o estresse foi tido como fruto da tentativa de superar a negação da subjetividade pela gestão, sendo verificada a grande falta de apoio da instituição no que diz respeito aos processos e dificuldades do exercício profissional. Os profissionais das duas categorias que foram tidos como estressados, apresentavam críticas à gestão e organização do trabalho e até a instituição, mas colocavam-se como sujeitos capazes de transformar essa realidade. Essa última parte deriva do orgulho, super-valorização e até fetiche que eles apresentam em relação à sua profissão, que gera ainda mais  frustração, devido à realidade concreta da atividade profissional, mas que os fazem se sujeitar a suportar todo o estresse à que são expostos.                                         Dessa forma, os autores concluem que a negociação entre trabalhadores e gestão pode amenizar o conflito indíviduo-organização e transformar aspectos da gestão e da organização do trabalho, diminuindo assim o estresse dessas categorias de profissionais.                                                                         Ademais, os autores ressaltam a necessidade de esforço por parte dos estudiosos da área para superar as compreensões simplificadas acerca do estresse produzidas no cotidiano, como também daquelas produzidas no próprio campo científico, mas que muitas vezes acabam individualizando, ‘biologizando’ ou mesmo despolitizando o fenômeno do estresse. Sabe-se que é muito complexo estudar a saúde no trabalho justamente, pois além de determinações coletivas do distúrbio psíquico, há também modos particulares de adoecimento bem como processos sociais desconectados do universo profissional que também podem contribuir para o adoecimento.                                                                                         Contudo, os autores afirmam que não se pode analisar o trabalhador enquanto indivíduo isolado. Devendo ser analisados diversos temas relacionados à atividade de trabalho, à organização e à gestão do trabalho, de forma que o estresse não seja  estudado com ênfase em seus aspectos individualizados, mas sim com ênfase em sua crítica consistente à organização, de modo a indicar caminhos para as necessárias transformações organizacionais e sociais.                                                                                Os autores concluem que o estresse, antes de ser um elemento a ser controlado, possa ser um elemento que favoreça o desenvolvimento psicossocial e organizacional, mediante a produção coletiva de conhecimentos.

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