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O ENVELHECIMENTO HUMANO NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS

Por:   •  18/10/2017  •  Projeto de pesquisa  •  2.775 Palavras (12 Páginas)  •  213 Visualizações

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O ENVELHECIMENTO HUMANO NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO NORTE-FLUMINENSE SANTOS,

Eixo Temático: Cultura, Currículo e Saberes Agência Financiadora: CAPES – Programa Novos Talentos Resumo O Projeto “O envelhecimento humano no Currículo da Educação Básica” é uma experiência extracurricular sobre o intercâmbio e compartilhamento de informações entre os professores da UNITI (Universidade da Terceira Idade/UFF), os professores da Educação Básica e os alunos do curso Normal Médio, do Instituto Educacional Professor Aldo Muylaert, da cidade de Campos dos Goytacazes. Para tanto, isso se dará a partir de oficinas vivenciadas conjuntamente que terão como base o seguinte mote: A inserção dos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento do ser humano, de forma a combater o preconceito, sensibilizar e produzir conhecimentos sobre o assunto em questão. Nestes termos, em função de atividades propostas e de posse dos registros produzidos em tais encontros, analisamos a circulação de saberes, percepções e representações sobre o envelhecer entre gerações distintas – as de professores com certo tempo de prática e a de alunos em curso de formação para o magistério. Dentre os objetivos propostos, para além de colaborar no processo de capacitação das escolas públicas sobre a temática das gerações, buscou-se oportunizar aos professores e alunos um espaço de depoimentos, de troca de experiências, de reflexão, de debate sobre a “entrada na vida adulta” e o sobre como imagina o seu próprio envelhecimento. Essas análises servirão de suporte para o desenvolvimento de estratégias pedagógicas para inclusão da discussão do envelhecimento humano no currículo da educação básica e a elaboração de material didático a ser utilizado nas práticas educativas envolvendo a temática das gerações, de modo que no horizonte estejam o respeito, a dignidade e a valorização de todos nós - os idosos presentes e os futuros. Palavras-chave: Envelhecimento; Educação Básica; intercâmbios geracionais 12451 Introdução A expressão “A conspiração do silêncio” foi utilizada por Simone de Beauvoir (1970) para denunciar a indiferença das sociedades ocidentais para com os problemas enfrentados pelos idosos. Esse silêncio ainda era muito presente nas últimas décadas do século XX e era explicado por vários fatores: a falta de laços e reciprocidade entre as gerações; o fato de que, até então, a velhice não tinha se constituído numa questão política; as exigências de um mercado habituado a enxergar o envelhecimento como ameaça à produtividade; e a repugnância biológica e estética da sociedade industrial para com a velhice, entre tantos outros. Se a conspiração do silêncio em torno do envelhecimento veio sendo rompida ao longo dos últimos anos, o mesmo não podemos dizer acerca da ausência dessa discussão no currículo da Educação Básica das escolas públicas do país. E foi levando em consideração tal silêncio que a Lei n.10.741, de 01/10/2003 (Estatuto do Idoso), propôs em seu Art. 22 do Cap. V que nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal seja incluída a discussão sobre o envelhecimento humano, de forma que essa etapa do curso de vida seja vista com mais dignidade, os desafios dela decorrentes sejam encarados como uma questão de responsabilidade não apenas do poder público, mas de todos os cidadãos. (BOAS, 2005) Nesse sentido, o papel do professor se revela crucial nessa empreitada, O/a professor/a que assume o papel de intelectual transformador/a procura veicular a chamada “memória perigosa”, trazendo à luz e ensinando os “silêncios” do currículo oficial, como por exemplo, as histórias e as experiências de indivíduos e grupos subordinados. Esse/a professor/a vai além da apresentação de histórias até então não contadas e insiste na existência de alternativas políticas e na necessidade de que “o “conhecimento perigoso” informe a luta pela criação de sociedades mais igualitárias. (MOREIRA, 1995, p.13) Pensando nestes desafios, a Universidade para a Terceira Idade (UNITI), Programa de Extensão da Universidade Federal Fluminense, do Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes (UFF/PUCG), com o apoio da CAPES, através do seu Programa Novos Talentos 2010, elaborou e executou o Projeto “O envelhecimento humano no Currículo da Educação Básica”. Tratou-se de uma experiência de caráter extracurricular que funcionou como uma proposta de inclusão do tema do envelhecimento no cotidiano da escola. Ela teve como propósito debater com os professores e alunos da região as visões que eles tinham sobre o 12452 assunto, assim como também procurou produzir informações sobre os novos modelos de representações e gestão do envelhecimento, analisar a inserção e circulação da temática do processo de envelhecimento nos conteúdos discutidos nas disciplinas de Biologia, História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Português e Educação Física. Metodologia O primeiro movimento consistiu na apresentação detalhada do projeto para os participantes. Nestes termos, solicitamos a todos os 70 professores e estudantes uma autorização para o uso dos registros que fossem produzidos durante o processo de coeducação Universidade/escola no mês de abril de 2011. Fizemos a proposição de três temáticas a serem desenvolvidas em cinco encontros, cada encontro de 8 horas, perfazendo um total de 40 horas. Foram organizadas e executadas pelos professores da UFF e os voluntários participantes do projeto que, de acordo com a sua área de interesse, desenvolveram as diversas ações das oficinas propostas. Assim, para fins deste projeto foram previstas as seguintes ações: A) Oficina “As novas representações e práticas de gestão do processo de envelhecimento”. Ela conjugou uma série de atividades que aliou a dimensão teórica acerca das gerações com o relato daqueles que se encontravam nesta etapa do curso de vida denominada de terceira idade. Os professores da rede pública tiveram a oportunidade de confrontarem suas representações sobre o envelhecimento com a experiência concreta vivenciada pelos exalunos da UNITI. As seguintes proposições nortearam o trabalho: 1) os estereótipos positivos e negativos que rondam o processo de envelhecimento na atualidade; 2) a autonomia dos idosos, a auto-eficácia e o cuidado de si; 3) a existência de um projeto de vida e as expectativas com o futuro na terceira idade. No que diz respeito ao primeiro tópico, cruzamos as percepções dos participantes com os dados quantitativos apontados por pesquisas já realizadas no campo da gerontologia. Contudo, estivemos atentos aos registros de informações qualitativas referentes à variedade de sentimentos que os participantes expressaram acerca da expectativa do seu próprio envelhecimento. No segundo tópico, analisamos o nível de confiança e insegurança de cada um ao estabelecer um debate original com os desafios impostos ao sujeito que envelhece. 12453 Enfim, por último, discutimos o suporte social de que cada um dispunha para lidar com a questão da transferência de apoio na terceira idade. Tudo isso foi feito não perdendo de vista o foco principal, ou seja, a transposição dessas demandas para o conteúdo programático que seria trabalhado com os adolescentes. Em outras palavras, depois de entrar em contato com uma série de discussão acerca do envelhecer, propusemos a elaboração de um projeto que pudesse trazer essa discussão para o âmbito da escola. B) Oficina “Legislação, violência e terceira idade”. Não diferente do que ocorre em outras partes do país, a violência contra a população de terceira idade, seja na esfera doméstica ou pública, é mais recorrente do que se pode imaginar. Ainda que não seja fácil vencer as barreiras do silêncio que cerca a situação, os estudiosos encontram dados que apontam para um impasse dramático. Muitas agressões não se transformam em boletim de ocorrência, pois como são praticadas por familiares, os idosos se calam, tanto pelo medo que sentem quanto pelo imperativo do afeto que o liga ao agressor. Em recente visita ao Núcleo de proteção ao idoso de Campos dos Goytacazes, realizada em maio de 2010, verificamos que entre os meses de janeiro e março foram registradas 150 denúncias de violência, tais como: negligência, abandono, coerção física e psicológica, agressões verbais e abuso financeiro. Essa proposta contemplou um estudo sobre a violência contra o idoso na atual conjuntura O Ministério Público Estadual participou desta empreitada, oferecendo uma oficina onde discorreu sobre a experiência da Instituição, tendo em vista que muitas denúncias de violação dos direitos dos idosos foram encaminhadas para sua alçada. Somado a isso, tivemos um dos professores proponentes analisando as garantias constitucionais e os direitos contemplados no Estatuto do Idoso. Para fechar, como não poderia deixar de ser, retornamos ao desafio de elaborar um projeto para desenvolver tal discussão em sala de aula com os alunos jovens. C) Oficina: “Família, gerações e envelhecimento” Nesta atividade, levamos em consideração que no Direito de Família da atualidade, vide o exemplo do Código Civil de 2002 e da Constituição Federal de 1988, o afeto tornou-se uma dimensão de grande relevância na caracterização do sentimento de pertencimento a um 12454 grupo familiar. O modelo do pater familis, matrimonial, paternalista, monogâmico e heterossexual veio dar lugar ao poder de família com toda a diversidade que a idéia comporta. Neste, a criança continua tendo uma centralidade indiscutível. No entanto, também são dadas garantias e proteções aos outros membros, como é o caso da exigência de pensão por parte do conjugue que não tiver condições de se manter após a separação ou dos ascendentes idosos que se encontram em situação de escassez ou de falta de dignidade. A proposição foi a de trabalhar com os professores os desafios que envolvem a transferência de apoio público e privado das gerações mais novas para as mais velhas - e viceversa. Neste ponto, com base na literatura específica, foram abordados temas como previdência social, criminalização da família, instituições asilares, o fenômeno da viuvez, longevidade e suas implicações (CAMARANO, 1999; NERI, 2007; DEBERT, 1999). Enfim, como aconteceu em todas as oficinas, os participantes foram incentivados a pensar um projeto pedagógico que pudesse trazer a discussão do envelhecimento para a realidade da escola. Resultados e discussão Existem várias definições acerca do que seja o currículo. No caso específico do nosso trabalho, procuramos nos alinhar àquela concepção que não restringe sua definição à mera formalização das intenções em um documento para nortear o trabalho de sala de aula. Entendemos o currículo como uma prática resultante de um conjunto de interações concretas que envolvem as os contatos, as atividades, as regras, as falas, os silêncios, os procedimentos, os exemplos, a disposição do espaço, o uso do tempo, ou seja, vários aspectos da existência escolar que moldam a nossa visão de mundo e que, no entanto, nem sempre estão explicitadas no discurso documental oficial. Currículo não é agora a declaração de área e temas – seja ela feita pela administração ou pelos professores -, mas a soma de todo tipo de aprendizagem e de ausências que os alunos obtêm como conseqüência de estarem sendo escolarizados. Frente à cultura proposta pelo currículo, aquela que se declara perseguir, é importante analisar a “cultura vivida” nas salas de aula. Muitas dessas aprendizagens são fruto de experiências planejadas para dar cumprimento à lista de matérias e de temas ou objetivos, mas outras não. (SACRISTÁN, 1995, p.86) Deste modo, quando se fala na inserção da discussão do envelhecimento na escola é do “currículo real” que estamos tratando, tendo em vista que pensar essa etapa do curso de 12455 vida é um desafio para toda a comunidade escolar. Desta forma, para que os participantes se sentissem mais à vontade, dentro de uma proposta mais “real”, utilizamos recursos audiovisuais e textuais para estimulá-los. Optamos por recursos de conteúdos claros e diretos, de forma que os temas fossem abordados sem rodeios. Por isso, a nossa escolha recaiu sobre suportes pedagógicos que faziam parte do cotidiano deles. Entretanto, foram destacadas as visões subjacentes a qualquer material midiático trabalhado, tendo em vista que como relatos sociais também são produtores de determinados sentidos sobre as etapas do curso de vida. Utilizaremos os dados disponíveis do IPEA, IBGE, CIDE e outras instituições que aferem os indicadores de qualidade de vida da população das mais diversas faixas etárias. Após cada rodada temática nas oficinas foi feita uma avaliação informal dos participantes acerca dos pontos positivos e negativos da experiência realizada – sempre levando em consideração a contribuição oferecida para a elaboração de um projeto pedagógico, um plano de aula e uma inovação na interação social dentro do ambiente escolar. Pudemos perceber através dos questionários iniciais que as concepções dos alunos e professores acerca do processo de envelhecimento tendiam a uma visão estereotipada, fossem em seus aspectos positivos ou negativos. Para alguns poucos, a velhice se apresentava como um declínio derradeiro, marcada por um processo contínuo de perdas que levavam à morte. Para a maioria, a velhice poderia ser vivida com alegria e vitalidade, desde que o indivíduo tomasse cuidado com os seus hábitos de saúde e de convívio. No decorrer do trabalho, procuramos problematizar os estereótipos e homogeneizações que cercam os discursos sobre a gestão do envelhecimento, de forma que os “velhos” e a “melhor idade” fosse pensada na perspectiva complexa das gerações enquanto construções sócio-culturais. Ao final das oficinas realizou-se uma avaliação geral do caminho percorrido. Cada participante apresentou uma proposta para inserção da discussão do envelhecimento em sua escola. De maneira geral, foi possível perceber que alguns pontos importantes discutidos nas oficinas foram incorporados nas proposições. Por outro lado, também foi possível perceber que, embora as propostas buscassem a desconstrução dos preconceitos, muitos trabalhos tendiam a fazê-la dentro dos moldes mais tradicionais da compreensão de currículo, ou seja, numa abordagem formal de conteúdo e pesquisa. É interessante destacar que ninguém propôs um trabalho chamando a atenção para o lado “oculto” do currículo, aquele em que o discente aprende a partir das experiências “extracurriculares”. 12456 O processo inteiro foi registrado. Realizamos a filmagem para transformar os momentos mais significativos em um documentário. Este pequeno filme ainda está sendo editado e será entregue aos participantes até o fim do ano. O objetivo é de que esse material sirva de suporte para que as escolas tenham uma base da qual partirão na elaboração de estratégias de inclusão da discussão do envelhecimento no currículo da Educação Básica. Também funcionará para a apresentação dessa experiência em eventos educacionais e naqueles referentes ao processo de envelhecimento. De forma geral, consideramos ter atingido algumas das metas propostas, tais como: elaboração de propostas de plano de aulas e projetos sobre a temática da inclusão da discussão do processo de envelhecimento humano no currículo das escolas participantes; produção de um material para subsidiar a elaboração de um artigo com a análise do relato da experiência desenvolvida; aprofundamento de parcerias entre as instituições de ensino e as que prestam assistência aos idosos; um relatório da experiência da inclusão da discussão do envelhecimento em turmas do Ensino Fundamental e Médio. Enfim, a sensibilização dos profissionais de educação para a necessidade de inclusão do tema no “currículo real” da Educação Básica. Considerações finais A experiência leva a acreditar que os estereótipos negativos de perdas associados à velhice são desconstruídos por ações educacionais que desmitificam estas representações homogêneas do comportamento e da identidade das pessoas idosas. Nestes termos, existe uma multiplicidade de experiências no cotidiano que serve de material para os professores repensarem os limites de suas concepções sobre temas considerados fundamentais no envelhecimento, tais como: autonomia, dependência, transferência de apoio entre gerações, violência, direitos, políticas públicas, entre outros. Ao repensá-los, eles tanto realizam um desafiador trabalho cognitivo de desnaturalização da realidade quanto percebem que a diversidade de concepções e atitudes na sociedade contemporânea é parte constitutiva da busca das pessoas pela sua realização. Em outras palavras, a luta do cidadão pelo respeito às diferenças dentro de um patamar de igualdade de direitos. Procuramos nesta proposta de trabalho associar uma relevância de ordem jurídica social, a questão da dignidade do cidadão na terceira idade, com uma relevância de ordem pedagógica, a inclusão no currículo escolar de uma temática presente na maior parte das 12457 configurações domésticas do país, ou seja, a velhice. Sabemos que as duas andam relacionadas, tendo em vista que enquanto parte integrante do mundo vida, a escola também é um espaço onde as contradições sociais e os dilemas humanos estão (ou deveriam estar) colocados na ordem do dia. Referências Bibliográficas BEAUVOIR, Simone. A velhice - a realidade incômoda. Trad. Heloysa de Lima Dantas. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970. BOAS, Marcos Antônio Vilas. Estatuto do Idoso comentado. Rio de Janeiro: Forense, 2005. CAMARANO, Ana Amélia (org.). Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA, 1999 DEBERT, Guita Grin. A reinvenção da velhice. São Paulo: Edusp, Fapesp, 1999. NERI, Anita Libaresso (org.). Idosos no Brasil – vivências, desafios e expectativas na Terceira Idade. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2007. MOREIRA, Antônio Flávio. O currículo como política cultural e a formação docente. In: SILVA, Tomaz Tadeu; MOREIRA, Antônio Flávio (orgs). Territórios Contestados – os currículos e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995. SACRISTÁN, J. Gimeno. Currículo e diversidade cultural. In: SILVA, Tomaz Tadeu; MOREIRA, Antônio Flávio (orgs). Territórios Contestados – os currículos e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995.

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