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Permanência E Renovação Da Morfologia Urbana Modernista Um Estudo De Caso Sobre Angélica - MS

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Por:   •  25/8/2014  •  1.904 Palavras (8 Páginas)  •  422 Visualizações

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Angélica é um município de aproximadamente 7.300 habitantes (Fonte: IBGE) localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, a 260Km da capital Campo Grande (Fig. 01). A área total do território do município é de 1.273Km2. Sua economia baseia-se na pecuária, especialmente bovinos e, em menor escala, na lavoura do café. O município apresenta alta taxa de analfabetismo, em torno de 16%. A área urbana do município possui aproximadamente 5.500 habitantes, que vivem, em sua maioria, em função das atividades agropecuárias desenvolvidas na área rural.

Fig. 01 – Localização da área de estudo [Google Earth]

Em 1954, o arquiteto e urbanista Jorge Wilheim foi convidado pela família Neder, de Campo Grande, para fazer o projeto de uma nova cidade. Eles possuíam uma grande gleba de 13.600 hectares localizada em Dourados (MS, na época ainda MT) e tinham um projeto para a criação de pequenas glebas de 24 ha destinadas à exploração do algodão e, principalmente, do café (1). Angélica seria o núcleo urbano que prestaria suporte a essas atividades e onde residiriam os proprietários rurais.

Dessa forma, foi desenhado o plano da cidade, baseado nos princípios modernistas de Le Corbusier, bem como nas cidades-jardins inglesas e na Broadacre City de Frank Lloyd Wright (2). Entretanto, o projeto de colonização não foi levado adiante e a cidade, apesar de construída conforme o projeto original, desenvolveu-se de forma autônoma, o que resultou numa taxa de crescimento menor do que a prevista inicialmente (o projeto foi elaborado para 15.000 pessoas). Somente em 1976, esse núcleo urbano tornou-se município, através da Lei Estadual n.3691.

Apesar de ser a primeira cidade modernista do Brasil, Angélica permanece desconhecida da grande maioria dos brasileiros, especialmente em comparação com outras propostas de urbanismo modernista realizadas à época, tais como alguns planos diretores de cidades universitárias, de centros administrativos e mesmo parques e áreas de expansão residencial, dos quais são exemplos a proposta para a Universidade do Brasil, e do CTA em São José dos Campos, este último de Niemeyer, e a proposta de Lúcio Costa para o centro administrativo de Salvador (3).

Sendo assim, algumas questões sobre essa experiência serviram de motivação ao presente estudo, podendo ser sintetizadas da seguinte forma:

Q1) Até que ponto o projeto original obedece aos princípios do modernismo?

Q2) A partir da implementação do projeto original, o que mudou e por que tais alterações foram feitas?

Q3) Como é o desempenho atual dos elementos modernistas que foram mantidos do projeto original?

Metodologia

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho envolveu, inicialmente, uma revisão bibliográfica para estudar o Urbanismo Modernista, com vistas a melhor entender seus postulados e seus conceitos, bem como as suas origens. Foram revistas também as críticas feitas ao modernismo, como forma de estabelecer um contraponto auxiliar na elaboração das hipóteses de trabalho.

Em seguida, foi realizado um levantamento em campo, que envolveu registro fotográfico das áreas de interesse, medições, observação direta sobre os aspectos de interesse (nível de apropriação dos espaços públicos, intensidade de utilização das vias, localização dos usos e atividades, modificações na configuração, etc.) e conversas informais com moradores e funcionários da prefeitura municipal.

Essas informações, posteriormente, foram compiladas para subsidiar a análise e as conclusões alcançadas.

Urbanismo modernista

O Urbanismo Modernista surgiu como uma reação à cidade capitalista, resultante do intenso processo de urbanização da Revolução Industrial, e foi influenciado por ideias e conceitos defendidos por autores que propuseram alternativas à ocupação desenfreada desse período. Entre eles, estavam Tony Garnier, Fourier, Robert Owen e Ebenezer Howard. Le Corbusier é, entretanto, incontestavelmente a figura mais influente do pensamento modernista.

A partir de uma leitura da Carta de Atenas, bem como de uma análise das propostas de Le Corbusier, é possível tentar elaborar uma síntese de seus princípios mais importantes, os quais serão tratados a seguir. Tais princípios serão utilizados mais adiante para avaliar se – e em que medida – o projeto original de Angélica é realmente modernista.

Princípio 1: Universalidade e racionalidade

Le Corbusier acreditava que a racionalidade deveria guiar o desenho das cidades e que, além disso, os seres humanos compartilhavam necessidades semelhantes, independentemente da origem, da cultura ou da localização geográfica. Por isso, as cidades deveriam seguir, todas, os mesmos princípios básicos.

Princípio 2: Altas densidades com aumento das áreas verdes

O Urbanismo Modernista defendia a combinação de altas densidades, especialmente nas áreas centrais, com grandes áreas verdes, mediante a construção em altura. Dessa forma, seria possível alcançar altas densidades ao mesmo tempo em que haveria maior quantidade de áreas livres para o desempenho de atividades públicas e para a circulação de veículos e pedestres (4).

Princípio 3: Aversão à rua tradicional e fluidez do trânsito de veículos

Segundo Le Corbusier, a rua tradicional era um espaço enclausurado por causa das dimensões estreitas da sua largura em contraste com a altura das edificações. A solução seriam edifícios recuados em relação às vias, bem como a separação entre veículos e pedestres. O número de cruzamentos deveria ser diminuído, o que seria alcançado pelo aumento dos tamanhos das quadras, que passariam a ter 400m em cada lado.

Princípio 4: Separação e segregação de usos

Uma dos principais características do pensamento de Le Corbusier, e que maior influência teve no Urbanismo, foi a da separação entre as principais funções da cidade. Ele defendia que “As chaves do urbanismo estão nas quatro funções: habitar, trabalhar, recrear-se (nas horas livres), circular” (5). As três primeiras funções deveriam estar localizadas em setores específicos determinados por um plano, e ligadas pela quarta função: circulação. Le Corbusier

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