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Resenha "O Mito Moderno Da Natureza Intocada"

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Por:   •  29/8/2014  •  2.988 Palavras (12 Páginas)  •  706 Visualizações

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O livro de Antônio Carlos Diegues encontra-se dividido em 10 capítulos, sendo que os capítulos tem subcapítulos. É no capítulo 4 que o autor explica o conceito e a noção de natureza intocada e mito moderno.

A noção de mito naturalista, da natureza intocada, do mundo selvagem diz respeito a uma representação simbólica pela qual existiriam áreas naturais intocadas e intocáveis pelo homem, apresentando componentes num estado ´puro´ até anterior ao aparecimento do homem. Esse mito supõe a incompatibilidade entre as ações de quaisquer grupos humanos e a conservação da natureza. O homem seria, desse modo, um destruidor do mundo natural e, portanto, deveria ser mantido separado das áreas naturais que necessitam de uma ´proteção total´. (Diegues, 1994, p. 45).

O mito moderno segundo o autor seria

um conjunto de representações existentes entre setores importantes do Conservacionismo ambiental de nosso tempo, portador de uma concepção hipocêntrica das relações homem-natureza, pela qual o mundo natural tem direito idênticos ao ser humano. Como corolário dessa concepção, o homem não teria o direito de dominar a natureza. Esse mito tem raízes profundas nas grandes religiões, sobretudo a cristã, e esta associada a ideia de paraíso perdido. (idem, 1994, p. 45).

Antônio Diegues (1996) diz que a criação de parques nacionais tem sua origem nos Estados Unidos, sendo o primeiro de Yelloswstone em meados do século XIX. Keith Thomas (1983) citado por Diegues diz que essa ideia surgiu na Europa e neste momento a literatura europeia era rica em aventuras envolvendo “paraísos perdidos”, pedaços da natureza intocada (selvagem, pristina), sem a presença do homem.

As áreas naturais conforme Carlos Diegues nasceu protegidas e nos Estados Unidos influenciaram o conceito de parques nacionais. As “wildeness” (vida natural/selvagem) eram concebidas sem a presença humana e feitas para fins de recreação e amenizar as pressões ecológicas dos que viviam nas regiões urbanas. Rodam apud Diegues (1994 p. 29) diz que ”[...] a criação dos parques obedeceu a uma visão antropocêntrica na medida em que beneficiava as populações urbanas e valorizava, principalmente, as motivações estéticas, religiosas e culturais dos humanos[...].”.

Diegues mostra que a concepção de “mundo natural” diverge entre as populações urbanas e indígenas e das zonas rurais recorrendo a Gomez-Ponpa e Kauss que fazem uma crítica a noção de “mundo natural”, pois apontam que o conceito de “wilderness” (mundo natural/selvagem/ como terra intocada ou domesticada) é, fundamentalmente, uma percepção urbana, uma visão de pessoas que vivem longe do ambiente natural de que dependem como fonte de matéria-prima.Os habitantes da zona rural têm percepções diferentes das áreas que os urbanos designam com e baseiam seu uso da terra em visões alternativas.

Os grupos indígenas dos trópicos por exemplo, não consideram a floresta tropical como selvagem: é sua casa. Muitos agricultores, entram numa relação pessoal com o meio ambiente. [...] O termo conservação pode não fazer parte de seu vocabulário, mas é parte de seu modo de vida e de suas percepções das relações homem com a natureza. (Gomez-Ponpa e Kauss apud Diegues, 1994, p. 30).

Diegues (1994) identifica nos Estados Unidos o debate entre duas correntes teórico-práticas: O Conservacionismo que pregava o uso racional dos recursos por meio do manejo e que todo recurso deveria ser usado para o beneficio da maioria, e preservação dos desperdícios, defendidos por Gifford Pinchot. apud Diegues (1994, p. 24) que deveria “agia dentro de um contexto de transformação da natureza em mercadoria”.

Pinchot apud Diegues (1994, p. 24) “acreditava que a conservação deveria se basear em três princípios: o uso dos recursos naturais pela geração presente, a preservação de desperdício e o desenvolvimento dos recursos naturais para muitos cidadãos”.O preservacionismo que pregava a “reverência” da natureza no sentido da apreciação estética e espiritual da vida selvagem (wilderness) pretendia proteger a natureza contra o desenvolvimento industrial e urbana. O preservacionismo nos Estados Unidos foi influenciado por Henry David Thoreau e por John Muir que analisou os impactos negativos da civilização sobre a natureza Muir defendia o respeito ao meio ambiente.

No segundo capítulo Diegues (1994) apresenta criticas ao modelo de parques nacionais: 1 Rodman apud Diegues (1994) afirma que o modelo possui uma visão antropocêntrica e privilegiava as (populações urbana, apelo estético/religioso, seletivo). Baird Callicot apud Diegues (1994) crítica a concepção de wilderness porque marca a separação entre sociedade e natureza. Diegues mostra que esse modelo foi exportado para o resto do mundo, criando um hiato entre povos e parques.

Diegues (1994) destaca que esse modelo de Conservacionismo foi nocivo e devastador para os países do Terceiro Mundo, sobretudo para as “populações tradicionais” de extrativistas, pescadores, índios, cuja relação com a natureza é diferente daquela analisada por Muir e os primeiros “ideólogos” dos parques nacionais americanos.

No terceiro capítulo Diegues (1994) fala sobre as atuais escolas do pensamento ecológico que tratam do “mundo natural selvagem”, destacando que:

1. A ecologia profunda (deep ecology) cunhada por Anne Naes, considera que a natureza deve ser preservada por ela própria, recebendo influências do espiritualismo cristão. A natureza teria os mesmos direitos que o homem. Sua crítica é feita aos ecologistas sociais que acham difícil o ser humano negar seu antropocentrismo e além do mais suas proposições que as sociedades humanas deveriam inspirar-se na natureza, demonstram que o transcurso da história ”toda justificação da ordem social pelas leis da natureza serviu ao totalitarismo” (Diegues, 1994, p. 38).

2. Ecologia Social, vê os seres humanos como sociais organizados em grupos diferentes. São considerados anarquistas, utópicos. Propõe uma sociedade democrática, descentralizada e baseada na sociedade comunal de produção.

3. Eco-socialismo é baseado numa crítica ao culturalismo e ao naturalismo. Nasceu das discussões influenciadas pelas forças produtivas da natureza. Esse novo naturalismo baseia-se me três ideias principais: a) o homem produz o meio que o cerca e é ao mesmo tempo seu produto; c) considera a natureza parte de nossa história; d) a coletividade e não o individuo se relaciona com a natureza. A sociedade é ao mesmo tempo parte e criação da natureza.

No quarto capítulo Diegues (1994) aborda os mitos bio-antropomórficos (Morin, 1991),

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