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Compreender os cuidados paliativos frente ao paciente terminal

Por:   •  28/8/2017  •  Resenha  •  2.185 Palavras (9 Páginas)  •  767 Visualizações

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1 INTRODUÇÃO

Este estudo teve inicio a partir de nossas inquietações em relação á pacientes críticos, em fase de terminalidade quando realizamos nossos estágios curriculares. Situações vivenciadas diariamente no campo de estágio demonstram dificuldades em falar sobre a morte e o morrer, um assunto bastante evitado no cotidiano, devido à impossibilidade que se tem em falar, pensar e agir em relação a ela. A morte ainda é um tabu para a nossa cultura, mesmo sabendo que a vida é um ciclo, onde todos nascem, crescem e morrem. Lembrar-se da morte remete a ideia de fim, de interrupção, de despedida. Ainda prevalece a noção de que a morte é um erro, uma imperícia ou um fracasso, e tantas outras questões para as quais não se encontram respostas e isto assombra o ser humano. Na era da ciência e da tecnologia conseguimos fazer descobertas surpreendentes, mas não conseguimos conviver com o grande mistério da morte.

O perfil do homem a partir do século XX, segundo Kóvacs, mantém com a morte uma relação distante, que inconscientemente esquiva-se da morte e a considera vergonhosa, um fracasso, que deve ser ocultado. Isso se reflete, sobretudo, durante a formação acadêmica, quando aprendemos que devemos lutar pela vida, que uma vida perdida representa uma derrota. Por isso, não somos preparados para trabalhar situações em que a continuidade da vida é uma possibilidade remota ou nula.

Por não saberem abordar o assunto, ou por não terem evidenciado situações de perda/morte de pacientes sobre seus cuidados no decorrer de suas formações acadêmicas, grande parte dos profissionais podem não se sentir aptos e nem saber como cuidar do paciente e seus familiares, dessa forma estar impedindo que eles manifestem os seus temores, suas duvidas e angustias de sua condição. Situação que evidencia a sensação de impotência que os profissionais de saúde têm diante da morte e na indefinição de como agir diante dos integrantes deste cenário, ou seja, paciente, familiares, e demais profissionais. Cabendo um repensar no que se refere ao cuidar desses pacientes. (COSTENARO, LACERDA, 2002).

Precisamos tomar consciência de que os danos causados pela doença são universais, que não se limitam a um determinado tempo e espaço, mas que assumem características existenciais claras e distintas em diferentes contextos, familiares, culturais, econômicos e sociais. É preciso procurar desvelar os sentimentos e conhecer as situações vivenciadas pelos pacientes para viabilizar maneiras concretas de cuidar. (DIBAI, 2009).

Investigando a literatura de enfermagem, que aborda o cuidado, constata-se a influência norte-americana na construção de seus preceitos e princípios, que estão difundindo-se em outros países, dentre os quais o Brasil. (WALDOW, 1995) Nesse sentido, o cuidado humano passa a ser percebido como um instrumento dos profissionais da saúde, principalmente da enfermagem, para promoção holística da saúde (PATRÍCIO, 1992); ou como um conceito central da enfermagem, que envolve um trabalho invisível (SANTOS, 1993).

O cuidado como prática fundamental em saúde, por exemplo, é uma palavra que vem assumindo significados diversos, ao longo dos anos. Em latim antigo, significa cura (com o sentido de amor e amizade), estando relacionada também a cogitar, pensar, colocar atenção, mostrar interesse, revelar uma atitude de desvelo e de preocupação. O cuidado faz parte do ser humano e tudo que tem vida clama por cuidado (PINHEIRO et al., 2005)

Esse cuidar é fundamental para o pessoal da saúde. Na realidade, ele é o sustentáculo da criatividade, da liberdade e da inteligência humana, que implica no desenvolvimento da afetividade, tendo como princípio uma forma de viver plenamente (Waldow, 1999) e não apenas como uma execução de tarefas para promover o conforto de alguém.

Ao se cuidar do outro, passa-se a respeitá-lo e a vê-lo na sua individualidade, sendo imprescindível o conhecimento acerca da ética e da moral, princípios que propiciam uma nova razão, instrumental, emocional e espiritual. (PINHEIRO et al., 2005).

Boff ressalta que o cuidado é uma atitude de ética mínima e universal, capaz até de prolongar a duração de vida do ser cuidado. Acrescenta, ainda, que o cuidado pode ter o poder, não só de prolongar a vida, mas, sobretudo, de melhorar sua condição para ser cuidado, mesmo no curto período de existência que lhe resta.

Podemos dividir os cuidados em cuidados de manutenção e cuidados de reparação. Sendo que os cuidados de manutenção são os quotidianos, que representam todos àqueles mais simples e básicos, como, beber, comer, evacuar, lavar- se, levantar-se, mexer-se, deslocar-se, bem como tudo que contribui para o desenvolvimento e sobrevivência do ser humano, construindo e mantendo o corpo e sua imagem e suas relações com o meio. (COLLIÈRE, 1989).

Os cuidados de reparação têm como finalidade limitar a doença, lutar contra ela e combater suas causas. Privilegia as causas orgânicas, isolando as causas psíquicas e socioeconômicas, fragmentando o homem, sem considerar o ser humano e o seu relacionamento com o meio em que vive. (COLLIÈRE, 1989).

A enfermagem, especialmente, vem sofrendo influências desse novo paradigma, que permite discutir o cuidado humano em suas múltiplas dimensões. Para os profissionais de enfermagem, as pessoas são seres totais, com família, cultura, passado e futuro, crenças e valores, que interferem nas experiências de saúde e doença. A enfermagem é uma ciência humana que não deve limitar-se à utilização do conhecimento das ciências naturais, pois lida com seres humanos, que possuem comportamentos peculiares construídos a partir de valores, princípios, padrões culturais e experiências que não podem ser objetivadas e nem tampouco considerados por partes. (WATSON, 1985)

A enfermagem tem a sua própria estrutura de referência, o seu tipo particular de conhecimento, que não se enquadra totalmente dentro do que se conhece por conhecimento científico. É frequente na enfermagem deparar-se com situações que requerem ações e decisões “para as quais não há respostas científicas”, muitas vezes provindas de insight e compreensão, como assinala Waldow (1998, p. 145).

O que caracteriza as teorias de enfermagem é o fato de que elas englobam outros padrões de conhecimento, além do empírico. A enfermagem envolve as ideias dos teóricos sobre a saúde e os aspectos que refletem crenças e valores; envolve a pessoa do profissional, as pessoas com quem interage e também os insights que resultam da arte de enfermagem. A enfermagem apropria-se de conhecimentos de outras áreas como a religião, a cultura imaterial, o folclore, artes e fazeres para lidar com a vida e a morte. (WALDOW,

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