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O Papel do Stress na Cistite Idiopática Felina

Por:   •  25/2/2017  •  Resenha  •  2.743 Palavras (11 Páginas)  •  412 Visualizações

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O Papel do Stress na Cistite Idiopática Felina

Kelly C. Araujo, Micheli F. Rolim, Raissa E. M. Dos Santos, Ingrid A. Nogueira

Centro Universitário Monte Serrat, Santos, SP.

A cistite idiopática felina é uma doença que frequentemente acomete gatos domésticos, representando 55% a 69 % dos casos, sendo a causa mais comum de doença do trato urinário inferior do felino (LEMBERGER et al, 2011). Diversas denominações têm sido utilizadas para designar as afecções urinárias de felinos, dentre as quais: síndrome urológica felina (SUF), doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF), doença idiopática do trato urinário inferior dos felinos (DITUIF), cistite idiopática felina (CIF) e cistite intersticial felina (Pereira, 2009). Diferentemente do que se observa na espécie canina, na qual as doenças urinárias mais comuns são as infecções bacterianas associadas ou não aos cálculos de bexiga e/ou uretra (RECHER et al, 2004). Na grande maioria dos felinos as doenças inflamatórias do trato urinário inferior raramente podem ser incriminadas como causa primária de uma enfermidade dos gatos, já que o sistema urinário felino tem numerosas defesas anatomofuncionais intrínsecas contra o estabelecimento de afecções, uma superfície epitelial intacta dentro das vias urinárias é como uma barreira física contra a colonização bacteriana (OSBORNE et al,2004).Sendo diagnosticada a cistite bacteriana encontrada somente em 1% a 3% dos casos (FERREIRA,et al  2014,  BRAIBANTE, 2013). A CIF caracteriza-se por sinais clínicos recidivantes como: hematúria, polaquiúria, estrangúria, disúria e periúria (SILVA et al, 2013). Esses sinais clínicos não caracterizam uma doença específica e podem ser observados em gatos com cálculos na bexiga urolitos, infecções bacterianas, neoplasia ou lesões por massas vesicais (PIEROZAN,2010).A identificação da etiologia não é possível em dois terços dos casos e a resolução espontânea pode ocorrer em 4 a 7 dias na ausência de tratamento, no entanto o diagnostico da CIF ainda é um desafio para o clínico, uma vez que sua etiologia ainda não foi bem esclarecida e seu diagnóstico é feito por exclusão de outras doenças do trato urinário inferior (PEREIRA,2009) . Estudos têm demonstrado que o stress tem sido apontado como um dos principais fatores ao desenvolvimento da CIF (SILVA et al, 2013). A inflamação crônica da bexiga foi uma das hipóteses propostas observando a possível semelhança entre a CIF e a Cistite Intersticial (CI) que acomete a espécie humana ambas com características histologicas iguais e com a etiologia da inflamação das vias urinária desconhecida (JUNIOR, et al 2004). Apesar de ser difícil provar o papel do estresse ele está frequentemente envolvido, devido ao histórico fornecido pelos proprietários e aos estudos realizados (NELSON, 2010). Esse trabalho tem como objetivo mostrar através de revisão de literatura o papel do stress na cistite idiopática felina. Segundo Freitas (2012) a personalidade felina é formada por diferentes interações que inclui a genética e as condições ambientais, o gato no seu estado selvagem é um caçador solitário e possui um comportamento agressivo na presença de outros indivíduos em seu território. O comportamento de predador resulta em uma interação complexa entre a experiência e o processo de amadurecimento em se socializar no meio doméstico (ZAWISTOWSKI, 2005). O gato é social e flexível, permitindo que os felinos vivam sozinhos ou em grupos de grande tamanho, porém alguns se adaptam ao desafio, enquanto outros manifestam dificuldade (FREITAS,2012). Pesquisas apontam que animais que vivem confinados em lugares pequenos, monótonos e previsíveis possuem um risco maior em desenvolver a CIF, viver em um ambiente com muitos gatos, aonde a competição por espaço é aumentada à possibilidade de conflitos é maior, demonstrando um fator estressante para o felino (SILVA et al, 2013). Na natureza, o felino é quem defini o tamanho e a densidade de sua colônia, de acordo com a disponibilidade de recursos como alimento e abrigo, enquanto que, no meio doméstico cada gato tem estes recursos controlados pelo proprietário, comprometendo os comportamentos naturais da espécie (FREITAS,2012) .Os felinos que vivem em ambientes internos desestruturados sem adaptações essências para a criação da espécie , fazem menor ingestão de água,menor nível de atividade física,além de se tornarem animais mais assustados e nervosos (SILVA,et al 2013). Uma simples mudança na dieta ou manejo higiênico podem ser estressantes para alguns gatos. (ARCHIVALDO, et al 2004) Mudanças de domicílio e proprietários com expectativas e reações desajustadas também foram citadas como situação estressante significava frequente nos gatos com CIF (SILVA et,al 2013).

O stress em felinos pode ser também provocado tanto pela insuficiência de recursos como pela falta de controle do animal sobre os mesmos como aconteceria se vivesse em colônia, Sendo o gato um animal inteligente e bastante ativo, pode desenvolver stress em ambientes que não lhe proporcionem estímulo mental e físico suficiente. Da mesma forma, ausência de interação positiva com os donos, como brincadeiras, também podem levar a um estado depressivo do animal (COLLAÇO,2010). Se o gato antecipar constantemente ameaças, o stress torna-se crônico e pode ocorrer modificação do comportamento (FREITAS, 2012). O termo stress define-se como uma resposta inespecífica do organismo a qualquer exigência que é nele imposto, em que o stress é uma condição onde a percepção do meio externo ou interno vivido, não corresponde às expectativas de um organismo, sejam elas congénitas ou adquiridas. (FREITAS,2012) .Quando um indivíduo se depara com um fator stressante ou alteração do seu ambiente desencadeia-se a libertação de variadas hormonas e neurotransmissores que irão atuar em diversos locais e em momentos diferentes, podendo haver sobreposição dos mesmos, de modo a lidar com a alteração imposta (COLLAÇO, 2011) Uma vez estimuladas, estas células libertam hormonas de volta à circulação sanguínea, entre elas, a vasopressina e a hormona libertadora da corticotrofina, mediador importante da resposta comportamental ao stress. (COLLAÇO,2011).No hipotálamo, a CRH interage com a vasopressina, promovendo a libertação da hormona adrenocorticotrópica (ACTH) da pituitária. Este entra na circulação sanguínea, ligando-se aos seus receptores na glândula adrenal, estimulando a produção e secreção dos glucocorticóides pela zona fasciculada e reticular do córtex. Esta sequência de ações denomina-se como Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA). Existe um sistema de feedback negativo pelo qual a presença de glucocorticóides em circulação inibi  a síntese do factor libertador da corticotrofina, que por sua vez resulta na diminuição da secreção da corticotrofina pela hipófise. O último passo deste circuito consiste no feedback do cortisol para o cérebro. ( FREITAS, 2012 ). Estas interacções complexas entre os dois principais ramos do sistema de resposta corporal ao stresse: o sistema nervoso simpático, através da libertação de catecolaminas (norepinefrina e epinefrina) e o sistema endócrino, através da liberação de alto nível de cortisol pelas glândulas adrenais e liberando a corticosterona. (VIEGAS,2009) O hipotálamo produz e libera o hormônio CRF (liberador de corticotrofina ) responsável pela liberação do hormônio adrenocorticotrófico. A pituitária anterior estimula a glândula adrenal a sintetizar e liberar os hormônios, principalmente o cortisol, aumentando seu nível no organismo, ocorrendo o feedback negativo.  (SILVA et al.2013). A fisiopatogenia envolve interações complexas entre vários sistemas orgânicos como o sistema nervoso, endócrino e cardiovascular, desta forma não se restringe unicamente a uma doença vesical ou uretral (SILVA et.al.,2013). O processo inflamatório crônico que acomete as vias urinárias de seres humanos, denominada de cistite intersticial humana (CIH), apresenta alterações histopatológicas semelhantes às observadas na CIF, revela epitélio e camada muscular relativamente normais, edema de submucosa, vasodilatação e moderado infiltrado inflamatório mastocitário e o número aumentado das fibras da dor (fibras-C), bem como dos receptores da dor as substancias P. (PEREIRA,2009) Segundo Boa Vista 2010 à hipótese é demonstrar que, a CIF pode resultar de alterações na interação entre o suprimento neural da bexiga e o suprimento neural para a bexiga, na camada protetora de glicosaminoglicanos (GAG), que reveste a bexiga e nos compostos que constituem a urina (Boa Vista, 2010). Os glicosaminoglicanos (GAGS) são substâncias que exercem importante função de proteção do epitélio vesical, controlando sua permeabilidade (PIEROZAN,2010).Gatos com cistite idiopática mostram diminuição significante na excreção urinária de glicosaminoglicanas (GAGs) e aumento da permeabilidade da bexiga urinária, possibilitando que substâncias nocivas existentes na urina atravessem o epitélio vesical, atingindo camadas subepiteliais e induzindo inflamação (PEREIRA,2009). Há ainda evidências de que o processo inflamatório vesical seja mediado por neurotransmissores liberados de fibras aferentes e/ou eferentes, determinando um caráter neurogenico à inflamação vesical, tanto em humanos como nos felinos, por apresentarem o número de fibras nervosas do tipo C e receptores do tipo P, ambos responsáveis pelo mecanismo da dor. A estimulação das fibras do tipo C leva à da substância P, que, entre dentre outras funções, atua estimulando a degranulação de mastócitos, o que exacerba a estimulação sobre as fibras C, reiniciando o ciclo da dor tratando -se do mecanismo da inflamação neurogênica (PEORIZAN,2010). A estimulação destas fibras, em conjunto com o resultado da inflamação neurogénica, podem explicar as mudanças que ocorrem na CIF. A intensificação da doença, pode ser conseguida através da estimulação das terminações nervosas em resposta ao stress (BOA VISTA,2015). Evidências que o Sistema Nervoso Simpático em condições fisiológicas, não participaria da excitação de fibras nervosas sensoriais na bexiga, bem como o número aumentado de fibras simpáticas na bexiga de felinos, reforçam a teoria da origem neurogenica do processo inflamatório vesical ou ainda a possível participação do sistema nervoso autonômico-simpático na patogenia da doença urinária felina (PEREIRA,2009). A CIF estaria relacionada a um complexo de anormalidades dos sistemas nervoso e endócrino que  leva ao aumento noradrenérgico central devido ao inadequado controle adrenocortical ,presente na manutenção da doença crônica e provavelmente afetam a bexiga urinária levando à ocorrência de sinais clínicos.(BOA VISTA,2015). Uma vez comprovada a piora de ambas as doenças urinárias frente a situações estressantes às quais os pacientes são submetidos, deve-se recomendar a todos os proprietários de gatos com CIF um conjunto de medidas ou recomendações, a fim de diminuir a probabilidade da ativação do sistema de resposta ao stress do felino (FREITAS,2012).Baseando - se na educação do proprietário, mudanças na relação entre o gato outros animais do ambiente, assegurando que a alimentação deve ser  diário a todos os gatos existentes na residência, com comedouro e bebedouro individual (COLIM, 2010, WESTROPP,2004). Recomendam-se, ainda, medidas para estimular o consumo hídrico, como a instalação de fontes de água e o fornecimento de cubos de gelo com caldo de carne ou caldo de peixe (PIEROZAN,2010).

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