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A ARTICULAÇÃO ENTRE CONHECIMENTO TÁCITO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: A FUNÇÃO MEDIADORA DA EDUCAÇÃO

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Por:   •  13/10/2013  •  4.339 Palavras (18 Páginas)  •  545 Visualizações

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A ARTICULAÇÃO ENTRE CONHECIMENTO TÁCITO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: A FUNÇÃO MEDIADORA DA EDUCAÇÃO

RESUMO

Esta pesquisa, realizada no setor petroquímico brasileiro, analisa o processo de mudança tecnológica em ambiente de trabalho cujas operações demandam majoritariamente conhecimentos tácitos. A inovação proposta impõe reorganização da qualificação da força de trabalho, considerando o uso intensivo de tecnologia microeletrônica dos novos equipamentos e a demanda de conhecimentos científicos por parte dos operadores. Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada com 91 trabalhadores das áreas de operação, manutenção e administração e evidenciam que os conhecimentos tácitos estão diretamente relacionados à complexidade do processo de trabalho, o que gera, para o processo de qualificação, necessidades diferenciadas de formação científica e tecnológica. Também foi possível constatar que os conhecimentos relativos à educação formal dos trabalhadores, quando converge com as exigências das atividades executadas por eles, tendem a facilitar a articulação dos conhecimentos tácitos e científicos. Os dados encontram respaldo em estudos anteriores realizados em processos de reestruturação produtiva.

1 INTRODUÇÃO

O presente texto tem como objetivo apresentar os principais resultados e análises oriundos de uma pesquisa realizada em empresa do setor petroquímico brasileiro que iniciou processo de mudança tecnológica em uma planta industrial. Os impactos no processo de trabalho advindos das mudanças em curso referem-se ao conjunto da força de trabalho, embora com níveis diferenciados. Isso significa que distintos grupos de profissionais sofrerão impactos mais diretos enquanto outros estarão mais distantes da operação da nova tecnologia, mas é possível afirmar que todo o ambiente de trabalho sofrerá alterações provenientes da mudança.

As transformações tecnológicas que vêm ocorrendo no mundo do trabalho apresentam um amplo leque de modificações no processo de produção e na forma de organização do trabalho. Elas geram um clima de incertezas e desafios para a sociedade e para os trabalhadores diretamente impactados. Considerando que a mudança tecnológica em curso faz uso intensivo de tecnologia microeletrônica e demanda conhecimentos científicos por parte dos operadores, a questão norteadora para os trabalhadores está relacionada aos níveis de exigência desses novos conhecimentos, assim como o modo como seriam feitas as readequações necessárias em um contexto de mudança.

A mudança em curso diz respeito a uma nova tecnologia que será utilizada para realizar a movimentação e o posicionamento da planta industrial, o que implica, do ponto de vista do investimento, mais rapidez e maiores estabilidade e confiabilidade para processar as operações.

2 DESENVOLVIMENTO

Por seu caráter prático, simplificado e pouco dinâmico do ponto de vista das inovações, O conhecimento tácito não se ancora na teoria, é marcado por seu caráter eminentemente prático; refere-se às práticas rotineiras que se desenvolvem sem apoio na teoria. Isso não significa afirmar que esse conhecimento tácito não seja relevante; ao contrário, é ele que assegura a normalidade e a segurança da planta nas suas atividades cotidianas. O que se pretende demarcar é o seu caráter prático, psicofísico, porquanto mediado pela corporeidade, como se vai discutir mais adiante.

Os operadores mais novos, detentores de formação teórica mais adensada, passam pelo mesmo processo de aprendizagem na prática e através dela, com apoio na experiência dos mais velhos, embora reportem o uso dos manuais e procedimentos como recursos de apoio. Contudo, as entrevistas feitas com esse grupo permitem evidenciar que a pouca aderência entre formação e operação da planta os leva mais a fazer uso das competências cognitivas complexas desenvolvidas ao longo da trajetória de escolaridade do que acessar conhecimentos teóricos. Tal afirmação tem apoio na inexistência de pré-requisitos de formação escolar para aprender a operação; qualquer trabalhador pode aprender a operar, desde que se empenhe para fazê-lo; no caso analisado, é a experiência integrada ao tempo que ensina. Daí o caráter predominantemente tácito do conhecimento dos operadores; eles refletem e raciocinam, processo no qual integram conhecimentos e experiências anteriores, na prática e a partir dela.

Essa realidade caracteriza o primeiro desafio apontado pela investigação: o conhecimento tácito, típico das formas tayloristas/fordistas de organizar o trabalho, é relevante nos processos de trabalho cuja base técnica é a microeletrônica? Ou é dispensável? No caso em estudo, ele exerce alguma função na aprendizagem das novas tecnologias ou pode ser descartado? Os operadores que apresentam esse perfil devem ser mantidos ou devem ser substituídos por novos trabalhadores que tenham domínio científico-tecnológico mais avançado, o que a princípio facilitaria o processo de capacitação, assegurando o desenvolvimento das competências necessárias para operar com segurança e confiabilidade?

Para responder a esse desafio torna-se necessário elucidar a permanência do conhecimento tácito nos processos automatizados, posto que há uma tendência a eximir as formas modernas de trabalho industrial de qualquer possibilidade de utilização de competência prática significativa. Contrariando essa tendência, Jones e Wood apontam para a necessidade de compreender melhor a relação entre conhecimento tácito e novas tecnologias. Considerando que aquele se insere no âmbito das dimensões subjetivas do trabalho, formas inconscientes e geralmente não reconhecidas, pelas quais os trabalhadores, mesmo desqualificados, utilizam um saber com amplo poder de intervenção nos trabalhos prescritos (Jones & Wood, 1984, tradução livre).

No taylorismo/fordismo é esse saber que torna possível a execução das tarefas em face das diferenças entre trabalho prescrito e trabalho real, em razão do que o capital permanece em significativa dependência do trabalho, a partir do que reforça o poder de negociação dos trabalhadores. Nesse sentido, a automação, ao transferir para a máquina o trabalho e também seu controle, permite ao mesmo tempo diminuir essa dependência, melhorar a confiabilidade do sistema e auferir ganhos de produtividade em vista dos desafios da competitividade; e, de quebra, diminuir o poder dos trabalhadores.

Resta saber se a independência em relação ao

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