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Língua Tupinambá, Tecnologia E Pesquisa Educacional: Procedimentos De Uma Pesquisa Crítica E Social.

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Por:   •  2/12/2014  •  5.418 Palavras (22 Páginas)  •  390 Visualizações

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Língua Tupinambá, tecnologia e pesquisa educacional: procedimentos de uma pesquisa crítica e social.

Francisco Vanderlei Ferreira da Costa[ Professor da Licenciatura Intercultural Indígena e da Licenciatura em Computação, ambas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Campus Porto Seguro. E-mail: franciscovanderleif@yahoo.com.br.]

José Daniel da Silva[ Graduando do curso de Licenciatura em Computação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Campus Porto Seguro. E-mail: jdnslv@gmail.com.]

Resumo

Este artigo mostra o resultado de uma pesquisa de cunho etnográfico, realizada na comunidade indígena Tupinambá do Sul da Bahia, que trouxe a debate o papel que a tecnologia pode e deve assumir nesse processo. A pesquisa procurou discutir a revitalização da língua a partir do seu cunho étnico e social, ligando-a às tecnologias da informação e comunicação, como ferramentas necessárias à vinculação entre o tradicional e o moderno, através da inclusão digital e auxilio nos processos de ensino e aprendizagem nas escolas da comunidade, sem no entanto caracterizar a perda da identidade indígena. Também mostra o papel do licenciado em computação na proposição de mudanças na educação, considerando a aplicação das TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação, nos processos de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: Tecnologia – Língua indígena – Licenciatura em Computação - Educação

Considerações iniciais

As sociedades ditas pós-modernas (Giddens, 1991) exigem pesquisas que respondam criticamente às demandas coletivas. Assim, esclarecimentos que justifiquem tais estudos são cobrados, suas metodologias devem ser explicitadas, além de mostrarem seus resultados para as comunidades pesquisadas. Tanto que pesquisar sociedades traz consigo uma responsabilidade maior: os grupos pesquisados devem ser vistos como sujeitos de pesquisa e não mais como objeto de pesquisa. Os grupos não se prestam ao papel de passivos em um estudo que será arquivado nas estantes dos centros de pesquisa. Quando um pesquisador dispõe seu conhecimento acadêmico para uma pesquisa de cunho etnográfico, caso da pesquisa que será aqui debatida, deve anteriormente pensar no respeito para com o grupo pesquisado e para com os conhecimentos acumulados por ele. A pesquisa que será aqui apresentada decorre dessa união, pesquisa acadêmica e sociedade indígena.

Outra vertente, desta pesquisa, que representa um posicionamento crítico, trata-se da transdisciplinaridade (NICOLESCU, 1999) que a constitui desde seu nascimento. A pesquisa fundante da iniciação científica do discente que participa deste texto estava direcionada para mapear a situação da língua Tupi na comunidade Tupinambá do Sul da Bahia. As línguas indígenas da região Nordeste do Brasil são vistas, com exceção da língua dos Fulni-ô e algumas etnias no Maranhão, como mortas pela sociedade envolvente. São posicionadas como inexistentes, visto que as etnias já não falam mais sua língua. A pesquisa do orientador, então, objetivava definir a situação linguística de uma comunidade nordestina: a comunidade Tupinambá do Sul e Extremo-Sul da Bahia. Em decorrência do pouco material bibliográfico sobre as línguas dessa região, não há dúvida que uma pesquisa olhando a língua naquela comunidade preencheria uma lacuna que a ciência Linguística já admite existir. Essa pesquisa foi nomeada de Revitalização e ensino de língua indígena: interação entre sociedade e gramática.

A pesquisa adotou uma metodologia qualitativa, sendo que esse tipo de pesquisa oferece mais espaços para lidar com dados menos quantitativos, mas mais significativos para questões sociais. Desta maneira, muitos dados, ao se estudar sociedades, não podem ser simplesmente alocados dentro de seções e analisados somente como números. Os dados precisam ser contextualizados e analisados com perspectivas e situações específicas. As ferramentas principais eram entrevistas com os Tupinambá de três áreas, Olivença em Ilhéus, Serra do Padeiro em Buerarema e Patiburi em Belmonte. Essas áreas representam as três divisões políticas do grupo, áreas com especificidades, mas reconhecidas como do mesmo grupo étnico.

As entrevistas eram feitas com pessoas indicadas pelos outros indígenas, pois para se iniciar a pesquisa, antes houve vários contatos e pedidos de autorização para que se pudesse estudar a questão linguística comunitária. Então, o grupo já estava ciente da pesquisa e as indicações para entrevistas eram realizadas a partir do debate prévio, pois o que se esperava encontrar eram palavras da língua indígena ainda presente na comunidade. Eram indicadas para a coleta de dados, quase sempre, pessoas mais velhas. Os velhos tinham mais dados, pois se lembravam de mais palavras da língua de índio, nome que eles davam à língua que sabiam não ser o português.

Cabe esclarecer que não falam outra língua diferente do português, mas conhecem muitas palavras em sua língua original, a qual é tratada como materna. Essas palavras constituem outra língua, pois possuem função de língua, fortalecendo a identidade do grupo, mostrando que são efetivamente indígenas, visto que de maneira indiscriminada e discriminatória muitos não-indígenas questionam a identidade étnica, não reconhecendo aquele povo enquanto índios. As etnias do Nordeste sofrem esse preconceito, inclusive sendo acusados de não possuírem mais sua língua.

A conclusão da pesquisa mostrou que há língua indígena entre os Tupinambá, pois mesmo que não sejam falantes da língua, essa possui muitas marcas dentro do português e também serve para explicitar a situação de indígena para aqueles que insistem em não reconhecer o grupo.

Durante essa pesquisa, ficou clara a necessidade de oferecer para o grupo uma resposta, ou várias respostas, não deixando que uma pesquisa com uma função social bastante latente, ficasse restrita ao meio acadêmico[ Reconhecemos a importância das pesquisas realizadas com as comunidades, pois mesmo que tais estudos fiquem nas universidades, tornam-se fontes de pesquisa para se conhecer mais sobre as comunidades, atraindo parceiros para as lutas dos grupos, além de oferecer dados para se conhecer mais sobre a diversidade cultural brasileira.]. Uma forma, vista pelo orientador, para oferecer esse retorno, seria criar um material para ser usado na escola indígena, o qual contivesse os dados coletados na pesquisa. Como a escola Tupinambá oferece aula na língua Tupi, esse material contribuiria para que os discentes conhecessem as palavras que fazem parte da ‘língua

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