TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

FICHAMENTO DO CAPÍTULO 03 DO LIVRO TEMPOS LÍQUIDOS DE ZYGMUNT BAUMAN

Por:   •  5/3/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.845 Palavras (8 Páginas)  •  344 Visualizações

Página 1 de 8

FICHAMENTO DO CAPÍTULO 03 DO LIVRO TEMPOS LÍQUIDOS DE ZYGMUNT BAUMAN

Marcos Eduardo Marques Vasconcelos

“[...] Robert Castel assinala com acerto, em sua incisiva análise das atuais ansiedades alimentadas pela insegurança, "nós - ao menos nos países desenvolvidos - vivemos sem dúvida numa das sociedades mais seguras (súres) que jamais existiram".1 E, no entanto, ao contrário das "evidências objetivas", é precisamente esse mimado e acarinhado "nós" que, entre todos os povos, se sente mais ameaçado, inseguro e amedrontado, mais inclinado ao pânico e mais apaixonado por tudo que se refira à segurança e proteção do que todos os povos de todas as sociedades de que se tem registro [...]”. (p.61)

“[...] Castel chega a conclusão semelhante, depois de descobrir que a insegurança moderna não deriva de uma carência de proteção, mas sim da "falta de clareza de seu escopo" (ombre portéé) num universo social que "foi organizado em torno da procura incessante da proteção e da busca frenética por segurança".3 A experiência pungente e incurável da insegurança é um efeito colateral da convicção de que, dadas as habilidades certas e o esforço adequado, a segurança total pode ser alcançada ("pode ser feito", "podemos fazê-lo"). E assim, se isso não foi feito, a falha só poderá ser explicada por um ato iníquo com intenção maldosa [..]”. (p.63)

“[...] O continente Europeu foi a primeira região do planeta a confrontar o fenômeno das conseqüências imprevistas, e em geral perniciosas, da mudança. O enervante senso de insegurança não teria brotado não fosse pela ocorrência simultânea de duas transformações que tiveram lugar na Europa - que só se disseminaram depois, e a uma velocidade variável, para outras partes do planeta. A primeira foi, para usar a terminologia de Castel, a "sobrevalorização" (survalorisation)* dos indivíduos libertados das restrições impostas pela densa rede de vínculos sociais. Mas uma segunda mudança ocorreu logo em seguida: a fragilidade e vulnerabilidade sem precedentes desses indivíduos, privados da proteção que lhes era oferecida trivialmente no passado por aquela densa rede de vínculos sociais [...]”. (p.64)

“[...] O Estado moderno foi, portanto, confrontado com a tarefa assustadora de administrar o medo. Precisava tecer uma rede de proteção a partir do zero a fim de substituir a antiga, deixada de lado pela revolução moderna, e prosseguir reparando-a, à medida que a modernização contínua promovida pelo Estado continuava a fragilizá-la e a esticá-la além de sua capacidade [...]”. (p.65)

“[...] Diferentemente das redes de proteção social do passado prémoderno, as redes concebidas e administradas pelo Estado foram construídas deliberadamente e de acordo com um plano, ou evoluíram por impulso próprio a partir de outros empreendimentos de construção em larga escala característicos da modernidade em sua fase "sólida". As instituições e dispositivos previdenciários (por vezes chamados de "salários sociais"), os serviços de saúde, escolares e habitacionais dirigidos ou apoiados pelo Estado, assim como as leis de trabalho nas fábricas que estabeleciam direitos e obrigações de todas as partes nos contratos de compra e venda de mão-de-obra, ao mesmo tempo em que protegiam o bem-estar e os direitos dos empregados, são exemplos da primeira categoria [...]”. (p.65)

“[...] A "fábrica fordista" foi, por essa razão, um lugar de conflito amargo, que explodia ocasionalmente em uma hostilidade aberta (já que a perspectiva de compromisso a longo prazo e a dependência mútua de todas as partes tornavam o confronto direto um investimento razoável e um sacrifício compensador), que ferveu e se inflamou, ainda que isso ficasse oculto. E, no entanto, o mesmo tipo de fábrica era também um abrigo seguro para se confiar no futuro, e portanto para a negociação, o compromisso e a busca de um modo consensual de convivência [...]”. (p.66)

“[...] T.H. Marshall tentou, pouco depois de o "Estado do bem-estar social" britânico ter se estabelecido por meio de uma legislação abrangente votada no Parlamento, reconstruir a lógica que conduziu o gradual desenvolvimento do significado dos direitos individuais [...]”. (p.66)

“[...] A graça do rei ou rainha era difícil de obter e mais ainda de manter; era facilmente retirada e impossível de garantir para sempre. Tal incerteza redundava no humilhante sentimento de impotência do povo, o qual não pôde ser mudado até que a conduta dos soberanos reais se tornasse previsível mediante a sujeição a normas jurídicas que os próprios soberanos não tinham permissão e/ou não eram capazes de alterar nem suspender por vontade própria, sem o consentimento dos súditos em questão [...]”. (P.67)

“[...] Podemos afirmar que a luta pelos direitos pessoais foi estimulada pelo desejo dos afortunados, ou dos que esperavam ganhar da próxima vez, de manterem as dádivas da boa sorte sem a necessidade de um esforço custoso, incômodo e, pior de tudo, duvidoso e eternamente inconcluso de cair nas graças do soberano e manter seus favores. [...]”. (p.67)

“[...] A demanda por direitos políticos, ou seja, por desempenhar um papel significativo na elaboração das leis, foi, segundo Marshall, o ponto seguinte da agenda, o passo lógico a ser dado quando os direitos pessoais já tinham sido obtidos e era preciso defendê-los. No entanto, pode-se concluir, do que acabou de ser dito, que os dois conjuntos de direitos, pessoal e político, só puderam ser transformados em objetos de luta, obtidos e tornados seguros simultaneamente [...]”. (p.67)

“[...] Não podemos estar seguros de nossos direitos pessoais se não formos capazes de exercer direitos políticos e fizermos essa capacidade pesar no processo de elaboração das leis. E as perspectivas de fazer essa diferença se reduzirão, para dizer o mínimo, a menos que os ativos (econômicos e sociais) controlados pessoalmente e protegidos pelos direitos pessoais sejam suficientemente grandes para serem computados nos cálculos das autoridades constituídas [...] "a pobreza (a antiga e a nova) gera desespero e submissão, suga toda energia na luta pela sobrevivência e coloca a vontade à mercê da promessa vazia e da fraude insidiosa".8 O entrelaçamento e a interação dos direitos pessoais e políticos são exercidos pelos poderosos - os ricos, e não os pobres, os "já seguros, bastando serem deixados em paz", mas não os "que necessitam de ajuda a fim de se tornarem seguros" [...]”. (p.68)

...

Baixar como (para membros premium)  txt (12.3 Kb)   pdf (71.6 Kb)   docx (12 Kb)  
Continuar por mais 7 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com