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A História da Arquitetura Brasileira

Por:   •  30/8/2021  •  Trabalho acadêmico  •  1.746 Palavras (7 Páginas)  •  160 Visualizações

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ICF – História da Arquitetura Brasileira – Profª Andreza Diniz

Arquitetura Bandeirista[1]

Solano Diniz

Para enaltecer a civilização aqui existente antes da chegada dos portugueses, abordamos no primeiro volume do livro OCA – Arquitetura no Brasil, publicado em 2004, a produção arquitetônica da nação indígena, fruto da combinação de materiais disponíveis no território tropical. A arquitetura indígena brasileira responde de forma ímpar às demandas colocadas pelas condições climáticas das mais diversas regiões do País – a casa-mãe em sua essência, o abrigo, a proteção, o acolhimento, o encontro e o convívio.

A chegada dos portugueses ao Brasil trouxe uma nova influência no modo de habitar o território, seja com os projetos oficiais, como a construção de nossa primeira capital, na Bahia, ou das primeiras fortificações militares distribuídas ao longo da costa. Nessas construções, cujos projetos eram na maioria das vezes desenvolvidos na metrópole, havia o emprego de técnicas construtivas importadas de Portugal. Enquanto no nordeste da colônia, a produção de açúcar mantinha aquela região em estreita proximidade com a metrópole, nas capitanias ao sul a situação era bem diferente.

Inaugurando a ocupação do novo território descoberto pelos portugueses, a fundação da vila de São Vicente no ano de 1532 é um marco também do início da produção mercantilista da colônia, já que é ali que se funda um dos seus primeiros engenhos de açúcar. Mas, devido às condições inadequadas ao plantio e à distância de Portugal em comparação com o nordeste, que então despontava como área produtora concorrente, a produção de açúcar definha já no final do século XVII, fazendo diminuir o contato com a metrópole. Esse isolamento propiciou uma condição de vida própria, promovendo a mestiçagem física e cultural. O distanciamento levou a uma absorção da cultura indígena, principalmente das práticas e técnicas de construção.

É dessa mestiçagem que nasce uma arquitetura singular, que busca referências de organização no programa e, consequentemente, na distribuição dos espaços da arquitetura portuguesa, mas se apropria de técnicas indígenas que, associadas a outras de origem árabe, trazidas pelos portugueses, dão origem à arquitetura bandeirista – que podemos considerar como aquela que mais se aproxima da herança deixada pelos primeiros ocupantes de nosso território.

Restringindo o foco à arquitetura de cunho civil, por nos referirmos a esse período imediatamente posterior a arquitetura indígena, é estritamente à casa bandeirista que essencialmente nos reportamos, a casa que se construía no meio rural, no período colonial – no qual predominou a técnica de taipa de pilão. Propomos uma evolução da arquitetura residencial no Brasil, da oca indígena à primeira habitação do colonizador, tomando como modelo e contraponto a casa paulista, tecnicamente elaborada e simbolicamente representativa da sociedade da época – usos, costumes, crenças e tradições.

História, Cultura e Arquitetura

A casa bandeirista está compreendida dentro da categoria da arquitetura civil rural, sendo a primeira expressão arquitetônica dos colonos portugueses no território paulista, assentados em propriedades doadas pela Coroa no final do século XVI e durante todo o século XVII. Desde o inicio, a vinda e o estabelecimento de colonos foram decisivos na ocupação e no domínio do território paulista simultaneamente à implantação de aldeamentos pelas ordens religiosas. Foram de importância fundamental na abertura de frentes de penetração e na exploração continental, através dos movimentos de entradas e bandeiras e da submissão do indígena.

Remanescentes dessas propriedades coloniais, as habitações denominadas bandeiristas comportaram entre suas paredes a primeira estratificação social do País, aqui instaurada entre senhores de terra e o índio escravo – nossa primeira divisão de classes. Localizada estrategicamente dentro de condições naturais favoráveis, a casa bandeirante constituía a edificação principal de um conjunto que se caracterizava como uma unidade de produção agrícola e transformação para sobrevivência. Nesse contexto de produção e árduo trabalho, a mão-de-obra indígena era de importância fundamental, além de ser valorizada como moeda de troca nos engenhos de açúcar do nordeste – constituindo o suporte econômico do colono português nas terras do Planalto de Piratininga.

Assim como os aldeamentos religiosos instaurados pelos jesuítas, a casa bandeirista consolidou um padrão de implantação, de organização de espaço e arquitetura. É constante nesse padrão a escolha de topos elevados para a implantação das casas, permitindo ao mesmo tempo maior segurança e um domínio amplo sobre o território. Essa proteção e esse isolamento da família estão ligados á rigidez de costumes de uma sociedade isolada e estratificada em donos de terra e escravos. A ausência de cômodos para funções de cozinha e a presença de um diminuto alpendre posterior justificam-se pela separação entre casa-grande e as demais construções para abrigo dos escravos e elaboração de alimentos. Devido à precariedade dessas dependências anexas e inquestionavelmente inferiores à casa-grande, não resistiram ao tempo, o que explica encontrarmos sempre a casa bandeirista dissociada de outras edificações.

A Técnica – Taipa de Pilão

A técnica denominada taipa de pilão até hoje utilizada em algumas regiões do Brasil, apesar de precária, consistia no modo oficializado de construir. Propriamente dita, a técnica da taipa de pilão se caracteriza num sistema em que se emprega, na confecção de paredes e muros de fecho, a terra umedecida ou molhada – em algumas regiões, ou períodos, inclusive com sangue bovino. De origem remota, é empregada desde tempos imemoriais no oriente. No Brasil, a aparição dessa técnica está vinculada à cultura árabe, embora já fosse do conhecimento dos romanos.

Em síntese, a parede de taipa de pilão é conseguida comprimindo-se a terra dentro de fôrmas de madeira ou taipal, constituída de duas grandes pranchas compostas de tábuas emendadas de topo, que se mantêm de pé e afastadas entre si, graças a sistemas variáveis no tempo e no espaço em que são empregados pontaletes, travessas e escoras.

A escolha de terrenos planos surgiu em decorrência da própria técnica da taipa de pilão, largamente utilizada no isolamento do Planalto de São Paulo. Ao lado desse padrão de implantação, consolidou-se também um padrão arquitetônico, forjado na utilização dessa técnica, cujo domínio, apesar da simplicidade e rusticidade do material, chegou a produzir exemplares de grande elegância e imponência, tais como o Sitio do Padre Inácio, no município de Cotia, São Paulo, apresentado nestas páginas. Os traços comuns dessa arquitetura com aquela dos aldeamentos fazem com que as arquiteturas civil e religiosa dos primeiros séculos identifiquem-se na adoção de padrões homogêneos quanto à escolha do sitio, à implantação da edificação e à solução de construção.

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