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O ESPAÇO GEOGRÁFICO E IDENTIDADE CULTURAL

Por:   •  14/9/2018  •  Artigo  •  5.627 Palavras (23 Páginas)  •  170 Visualizações

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ESPAÇO GEOGRÁFICO E IDENTIDADE CULTURAL EM VANUATU

(Ex Novas Hébridas)[1]

[181] Resumo:

Como todos sabemos, alguns eventos políticos perturbaram o arquipélago de Vanuatu em seu acesso à independência. Deixando de lado as causas imediatas, existem – tanto no passado do arquipélago como na natureza de seus aspectos físicos e em sua cultura – causas profundas que fizeram com que a crise fosse quase que inevitável. A história ‘desarticulada’ do condominium, as rivalidades que opunham [entre si] as missões cristãs que partilharam o arquipélago e também a persistência de uma cultura tradicional que aceitava com razoável dificuldade uma visão centralizadora do espaço que é a dos Estados modernos, fizeram com que a unidade do novo estado – e isto ainda estão em processo – se tornasse extremamente difícil. O povo de Vanuatu  está em busca de sua identidade cultural: seria uma síntese entre  a cultura tradicional e a modernidade, possível? As tensões do momento presente ensejarão o nascimento de uma nova fecundidade?

As Novas Hébridas obtiveram a sua independência aos 30 de julho de 1980. Duas potências exerciam a tutela que, em 1906, instituíra sobre este território o regime do Condominium franco-britânico. Para demarcar a ruptura com o regime precedente, as Novas Hébridas escolheram um novo nome, o de Vanuatu, o que significa ‘país ou terra que é nossa’. Esta independência não aconteceu, portanto, sem problemas e tentativas de secessão que colocaram em perigo a unidade do novo Estado. Além das explicações puramente políticas – jogo de influências estrangeiras, interesses geopolíticos divergentes, competição pelo poder etc. – deve-se acrescentar a estes problemas, causas internas profundas que vinculam-se ao passado destas ilhas e às suas visões culturais diversas em relação ao espaço, seja este geográfico seja social.

Um espaço geográfico fragmentado.

           O Arquipélago das Novas Hébridas (ANH) compoe-se de umas sessenta ilhas e ilhotas constituídas, no seu essencial, de montes vulcânicos, extintos ou ativos e das quais, apenas uma dúzia pode ser considerada de grandes ilhas (‘terras grandes’) cuja superfície é igual ou superior a algumas centenas de quilômetros quadrados.

        Este arquipélago de cerca de 13.000 km2, geologicamente recente (jovem) sintua-se na junção de duas placas tectônicas que compatilham o Pacífico e a término do lado sul do arco insular da Melanésia. A maior parte dos vulcões ativos data do fim do Plioceno; centenas de ilhas, as mais recentes, não têm mais que um milhão de anos de existência.

        Trata-se de ilhas altas, montanhosas, dominadas por cones vulcânicos, em torno dos quais emplacam-se de um modo irregular dependendo de sua idade geológica, formando patôs, terraços de corais. Nestas ilhas altas, nas mais antigas, alguns destes platôs foram muitas vezes levantados até centenas de metros [de seu nível original], antes de serem assentados, para serem revirados de novo, mais tarde, pelos movimentos tectônicos. A juventude do relevo, o vigor dos movimentos tectônicos atuais e anteriores [aos atuais], faz com que seja uma terefa hercúlea a penetração no interior das ilhas. Os vales são estreitos e encaixados do tipo cânion; os cones vulcânicos e as falhas geológicas (horst) de calcário que formam os relevos centrais constituem-se num ‘outro mundo’, pouco acessível, uma ‘montanha’, cujoa altitude varia entre 300 e 1500 metros de altura. As paisagens no interior das ilhas são caracterizadas pela uma extensa floresta tropical úmida com grandes árvores que parecem esconder os seres humanos e as culturas. Sobre as encostas, ‘sob o vento’, mais secas, situadas a oeste, esta floresta deixa seu lugar para uma vegetação mais do tipo de savana arborizada com herbáceas altas (White-grass).

        Opõe-se a este mundo interior, montanhoso e isolado, [182] miseravelmente inacessível, o mundo do litoral. As elevações tectônicas sucessivas fizeram com que ali ocorresse o desenvolvimento de planícies costeiras, sob a forma de terraços de corais elevados a apenas alguns metros do nível do mar. Estes terraços descontínuos que, em algumas ilhas, não têm um desenvolvimento senão bastante frágil – algumas dezenas de metros de largura – chegam a tocar os pés dos relevos centrais do interior. Às vezes, como na costa leste de Santo, eles se constituem nos mais baixos e recentes dos degraus fruto de uma [mudança] tectônica por resfriamentos sucesivos que se traduzem por estratitificação de platôs litorâneos e sub-litorâneos com horizontes bastante planos. Estes planos, estes terraços, estes platôs litorâneos e as primeiras elevações dos relevos diferem das montanhas do interior: a paisagem é menos compacta, mais humanizada e muitas vezes bodejada por um colar de ilhotas ou de pequenas ilhas situadas nos limites dos recifes que são como que franjas delas e com as quais as comunicações são facilitadas.

         O espaço geográfico natural se compõe, portanto, de dois ecossisttemas bem diferenciados: um ecossistema de montanha e de florestas e um ecossistema das bordas do mar e das ilhotas. Na civilização tradicional, desenvolveram-se dois grupos humanos diversos. De um lado, os que se chamam em bichelamar (bislama) os ‘man bush’, ou homens da floresta do interior, e de outro, os ‘man sol wora’, ou homens das bordas do mar, ou da praia.

A organização tradicional do espaço geográfico

        

        Por ocasião da descoberta pelos europeus, o conjunto destas ilhas era bastante povoado, ainda que de um modo pouco uniforme. A densidade média da população chegava a 30 e 50 habitantes por quilômetro quadrado nos lugares mais povoados; mas existiam também espaços inteiros praticamente desabitados constituindo-se numa espécie de no man’s land políticos entre grupos diferentes. Por outro lado, os últimos vilarejos chegavam ao máximo até os 600 a 700 metros de altitude.

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