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URBANISMO DE RESISTÊNCIA

Por:   •  27/3/2019  •  Trabalho acadêmico  •  3.577 Palavras (15 Páginas)  •  139 Visualizações

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URBANISMO DE RESISTÊNCIA

Aprendendo com o capital

A dialética negativa do capitalismo.

Professor Dr. Fernando Antonio Santos de Souza

 

Introdução

O arquiteto urbanista não é um mero espectador da história. Seu pensamento, suas propostas devem refletir a experiência vivida dos seus protagonistas. Ele é o profissional que possui o domínio da linguagem espacial urbana, portanto, tem como responsabilidade a contribuição para a construção e organização de experiências que criem cidades justas. 

O espaço urbano existe no diálogo do homem com o seu criador. É uma experiência do sagrado. É esse dialogo do homem com seus limites e com os seus desafios que faz desse homem um ser histórico. A criação do espaço da arquitetura e do urbanismo, por isso, se torna o exercício vivo da liberdade e do direito. Quando os pobres se unem para resistir e lutar pela sua dignidade urbana, nasce a possibilidade da formação de cidades verdadeiras. Portanto, resistir é criar coletivos, é formar territórios de esperança, enclaves de pode, cidades humanas. 

É por meio da força do coletivo que os protestos ganham visibilidade e as reivindicações podem ser, pelo menos, ouvidas. Formar coletivos significa humanizar a convivência entre as pessoas, e isso é possível. É preciso reconstruir imagens da cidade anteriormente consolidadas, reeducar o olhar, permitir o acesso dos excluídos a um novo tipo de urbe capaz de ser, primeiramente, interiorizada e, depois, proposta como resistência coletiva urbana.

Aprendendo com o capital.

Se for possível aprender com Las Vegas, é razoável que se possa também aprender com o capitalismo. O capital consegue se reinventar a todo instante. Parece estranho, mas temos que aceitar que a lógica do dinheiro é poderosa e construtiva, ela não pode ser menosprezada. A versão mais moderna da relação que o metal promove tem se adaptado às transformações significativas da sociedade, sem perder seu potencial e extensão. Isso é perceptível do vil metal ao cartão de crédito. O capitalismo promove a acumulação e sobrevive mantendo níveis cada vez mais ampliados e concentrados da riqueza.

O fomento para a continuidade dessa relação financeira de forma positiva é o enfrentamento das crises que colocam em xeque seu funcionamento. É essa relação entre a acumulação e esgotamento, ou seja, a confrontação com a crise, que entendemos a dialética negativa do capitalismo. A superação da sua estagnação nasce com aceitação e entendimento da sua decadência. Dessa maneira, esperamos aprender com o diálogo entre negação e a afirmação no sentido de superação da exploração que o novo metal fabrica.  

As novas certezas urbanísticas que (re)surgem junto aos ideais liberais parecem apontar para a (re)construção de estratégias e táticas diferentes das até então praticadas. Não aceitamos as práticas que não incorporam os mais pobres. Isto faz com que o ativismo de resistência urbana tenha que se renovar. As novas formas de intervir no espaço da cidade, sem dúvida, têm contribuído para a requalificação da cidade que o neoliberalismo vem exigindo, sem, no entanto, enfrentar as desigualdades socioespaciais que se ampliam. É interessante notar que esse novo urbanismo propõe uma cara diferente para uma velha cidade. É a cidade capitalista que, paradoxalmente se renova, mantendo os antigos problemas, só que desta vez, agravados.

As respostas sociais e políticas à urbanização histórica e perversa brasileira têm sido tímidas e com poucos avanços concretos, apesar das conquistas previstas na Constituição do Brasil de 1988 e da aprovação do Estatuto da Cidade (Lei Federal Nº 10.257 de 10 de julho de 2001). Tal situação deixa de fora os acertos e ganhos decorrentes do crescimento e desenvolvimento urbano para parte significativa da população. Como seria então uma proposta de resistência que aprende com o capitalismo? Como é possível ganhar com o capital? Palavra que tem significado de riqueza e luxo, para uns poucos e para muitos, pobreza e miséria.

Logo cedo, aprendi que o capitalismo era uma relação de poder. Na verdade, assimilei essa proposição sem muitos questionamentos, sabendo que havia um pensamento e uma realidade objetiva e concreta apoiando essa afirmação que não me permitia ignorá-la. Essa realidade já me era visível desde a minha juventude. Morei por muitos anos em Recife - PE, cidade de grandes contrastes. Terra dos engenhos, da casa grande e senzala, dos sobrados e mocambos, da geografia da fome, do movimento de arte popular, da pedagogia dos oprimidos, da teologia da libertação. Presenciei também o momento de exceção, quando a ditadura militar obscureceu grande parte da minha mocidade. Aprendi que só a resistência poderia enfrentar as desigualdades que o Recife e meu estado eram palcos privilegiados, naqueles tempos.  

Essa forma de entender o capital era um pensamento ainda proibido naquela época, ele estava presente junto ao ativismo político que a cidade dos contrastes provocava. Não podia ser discutido na academia, mas começou a assumir um papel importante na formação dos jovens estudantes de pós-graduação no Brasil. Agora me recordo de algumas figuras que foram importantes na minha formação de juvenil e de iniciação acadêmica: Gregório Bezerra, Francisco Julião, Dom Helder Câmara, Miguel Arraes de Alencar. Apesar da leitura do Capital de Marx e dos Fundamentos da Análise Econômica de Paul A. Samuelson, percebi que se tratava de um conceito de difícil assimilação, embora a realidade estivesse impregnada de exemplos de injustiças decorrentes dessa relação de poder monetário.

Hoje, com a ajuda de Foucault, Deleuze e Guattari, me sinto mais a vontade para explicar a relação de poder que o dinheiro exerce. De fato, trata-se de uma conexão assimétrica e contingente. É uma ligação desigual na qual um estabelece o controle sobre o comportamento do outro. Controle, portanto, que é desempenhado de forma naturalizada por intermédio da posse dos meios de produção. A propriedade privada, instituída pelos homens e suas leis, se torna algo divino, sagrado. É essa sacralização que permite a subordinação do trabalhador a um salário que leva a exploração do seu trabalho pela retenção de parte da riqueza que produziu.  

Capital e trabalho formam um vínculo social que se generaliza por meio da criação da moeda – dinheiro, concebida como equivalente geral das atividades desenvolvidas pelo trabalhador. Trata-se da ação que é realizada na produção de um bem ou serviço. A moeda passa a representar uma quantidade de esforço que permite remunerar o proletário e, ao mesmo tempo, serve como representante geral do ato realizado na forma de salário. Esse vínculo permite a aquisição de bens que incorporam igual quantidade de trabalho. Nessa relação é importante que se crie um sujeito livre, racional e universal: o indivíduo moderno.

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