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Engenheiros de trabalho

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Por:   •  23/3/2014  •  Seminário  •  2.427 Palavras (10 Páginas)  •  503 Visualizações

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A escassez de bons engenheiros não atrapalha apenas o aumento da produção — é um fator do baixo desempenho brasileiro em inovação

Patricia Ikeda, de -Germano Lüders/EXAME.

Engenheiros em ação: professores e alunos do ITA desenvolvem robôs para automatizar parte da produção de aviões da Embraer

São Paulo - O Brasil não é conhecido pela habilidade de criar novos produtos, por isso mesmo chama a atenção o fato de o país ter ganhado projeção recente por causa de alguns inventos. Uma das criações foi o Pig Palito, mecanismo que percorre os dutos de transporte de petróleo e gás para detectar avarias e evitar vazamentos.

Os instrumentos do gênero são usados no setor desde 1970, mas o brasileiro é o primeiro que opera sob a pressão de águas profundas. Foi premiado pela Sociedade Americana de Engenharia Mecânica e, desde 2005, quando chegou ao mercado, é utilizado por petroleiras em paí¬ses como Estados Unidos, Canadá e Malásia.

Outro invento de destaque é o plástico verde da Braskem. Por ser produzido do etanol da cana-de-açúcar e ser reciclável, conquistou o primeiro lugar no European Bioplastics Award de 2007, da Associação Europeia de Bioplástico, entidade que reúne fabricantes e consumidores de plástico, como DuPont e Kraft.

Sucesso de vendas internacionais, está em produtos tão distintos quanto as embalagens de perfume da Carolina Herrera e as cadeiras do Amsterdam Arena, na Holanda. Apesar de bem diferentes, há um elemento que une os dois produtos: ambos foram concebidos por engenheiros.

O Pig Palito é uma criação do centro de pesquisa da Petrobras, no Rio de Janeiro, coordenada pelo engenheiro mecânico Claudio Camerini. A ideia do plástico verde foi do engenheiro químico Antonio Morschbacker, que, ao confirmar a viabilidade do produto, o sugeriu à diretoria da Braskem.

Mas Petrobras e Braskem, Pig Palito e plástico verde, bem como Camerini e Morschbacker, são exceções — uma pequena demonstração do que o Brasil seria capaz de fazer se levasse mais a sério a formação de um profissional básico para o desenvolvimento industrial: o engenheiro.

Pesquisas indicam que há uma relação direta entre a capacidade de as empresas e os países criarem inovação e o número e a qualidade dos engenheiros dos quais dispõem. Na Coreia do Sul, dos 125 000 profissionais que trabalham com pesquisa, 90 000 são engenheiros e técnicos com formação ligada à engenharia.

Não é à toa que o país concentra algumas das maiores empresas de ponta em seus setores no mundo, como a Sam¬sung, em eletrônica, e a Hyundai, nos automóveis. Nos Estados Unidos, estão seis das dez melhores faculdades de engenharia do mundo e a sede de empresas como HP, Boeing e Apple.

Lá são 750 000 os pesquisadores debruçados sobre novos produtos — dois terços deles, engenheiros. No total, há mais de 5 milhões de engenheiros no país. Não faltam exemplos para ilustrar sua relevância. A fase decisiva das pesquisas do primeiro grão transgênico comercial, a soja da Monsanto, foi coordenada pelo engenheiro agrônomo americano Robert Fraley.

O também americano Larry Page cursou engenharia da computação antes de ingressar no doutorado que o levaria, ao lado do russo Sergey Brin, a criar o Google. “Inovação e engenharia são sinônimos”, diz Joel Schindall, coordenador do programa de liderança para engenheiros do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o mítico MIT. “Quase tudo que nos cerca hoje é resultado direto da inovação de um engenheiro. Automóveis, aviões, computadores, celulares e vacinas existem não apenas porque os governos legislaram ou as empresas produziram, mas porque os engenheiros tiveram ideias novas e ousadas e fizeram o trabalho duro para torná-las reais.”

No mapa global da engenharia, o Brasil é uma espécie de contraexemplo. O país forma hoje pouco mais de 40 000 deles por ano — bem menos do que a demanda, causando um déficit de 150 000 profissionais no mercado, pela estimativa da Confederação Nacional da Indústria.

Pior ainda é o problema da baixa qualidade da formação. Na lista das 50 melhores faculdades de engenharia do mundo, não consta nenhuma do Brasil. Há apenas 10 000 profissionais dedicados a pesquisa e desenvolvimento e um total de 583 000 engenheiros registrados no país. Resultado: o Brasil é 11º colocado na requisição de patentes.

Em 2010, fez apenas 23 000 pedidos de registro, de acordo com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Quase 90% deles foram apresentados por estrangeiros. Os Estados Unidos, país líder em pedidos, fizeram 490 000 requisições, 49% de autoria de americanos.

Parte do problema — a falta de engenheiros — está sendo resolvida pelo movimento natural do mercado. À medida que crescem a demanda e os salários pagos na área, os cursos de engenharia atraem cada vez mais estudantes. Em 2001, 65 000 ingressaram nas faculdades da área.

Em 2010, quando foi feito o último censo nas universidades, o número havia subido para quase 200 000. Em teoria, portanto, o número de formados vai crescer naturalmente nos próximos anos. O outro desafio — bem maior —, aprimorar a qualidade, só se resolve com trabalho duro.

A melhoria requer não apenas a revisão do currículo dos cursos como também medidas na base da educação nacional: a criação de condições para que estudantes com aptidão para matemática e ciências possam florescer desde a infância.

“Faltam professores de exatas e há muita gente despreparada lecionando nos níveis fundamental e médio”, diz José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. “Muitos estudantes têm graves deficiências em matemática e física, essenciais na formação de um engenheiro.”

Efeito colateral

A falha na formação cria três problemas. O primeiro deles é a desmotivação diante de números e fórmulas ainda na infância, o que faz com que a maioria se volte para disciplinas como história e geografia. Por causa do ranço com a matemática, apenas 13% dos estudantes que concluem o ensino médio encaram cursos de engenharia, enquanto 40% buscam a área de humanas.

O segundo efeito colateral da má-formação é a evasão depois de iniciado o curso. Estima-se que 40% dos estudantes que escolhem engenharia não se graduam, porque têm dificuldade para acompanhar disciplinas como cálculo. O terceiro problema afeta diretamente as empresas.

De acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, com base nas notas do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, a maioria dos engenheiros se forma com aproveitamento

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