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A Cultura Da Educação Física Escolar

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Por:   •  4/9/2014  •  3.808 Palavras (16 Páginas)  •  500 Visualizações

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Resumo

A partir de referenciais das ciências humanas, especificamente da antropologia social, este trabalho discute o conceito de “cultura” e algumas de suas implicações para a área de educação física, com ênfase em sua atuação escolar. Discute a questão do corpo como expressão cultural; a prática escolar de educação física como eminentemente simbólica e contextual; o trato dos conteúdos escolares e a necessária mediação por parte do professor. Conclui afirmando que a educação física trata da cultura relacionada aos aspectos corporais, negando a exclusividade das explicações biológicas na área. Assim, a educação física pode ser considerada como a área que estuda e atua sobre a cultura corporal de movimento.

Palavras-chaves: Educação física escolar, cultura corporal de movimento, educação física, cultura.

Pensar a educação física a partir de referenciais das ciências humanas, e em particular da antropologia social, traz necessariamente a discussão do conceito de “cultura” para uma área em que isso era até há pouco tempo inexistente. Os currículos dos cursos de graduação em educação física somente há poucos anos vêm incluindo disciplinas próprias das ciências humanas e isso parece estar sendo útil para a ampliação da discussão cultural na área. As publicações que utilizam como base de análise da educação física conhecimentos das ciências humanas têm aumentado nos últimos vinte anos. Não causa mais polêmica afirmar que a educação física lida com conteúdos culturais.

Evidentemente ainda se vê muita confusão no uso da expressão “cultura” na educação física. O termo ainda é confundido com conhecimento formal, ou utilizado de forma preconceituosa quantificando-se o grau de cultura, ou como sinônimo de classe social mais elevada, ou ainda como indicador de bom gosto. Ouve-se com freqüência afirmações de “mais ou menos cultura,” “ter ou não ter cultura,” “cultura refinada ou desqualificada” e assim por diante.

Enfim, pode-se falar atualmente em cultura da educação física e creio que a contribuição das ciências humanas, em geral, e da antropologia social, especificamente, foram importantes. Uma contribuição importante dos estudos antropológicos para a área de educação física parece ter sido a revisão e ampliação do conceito de corpo. É por demais sabido que a educação física no Brasil, originária dos conhecimentos médicos higienistas do século XIX, foi influenciada de forma determinante por uma visão de corpo biológica, médica, higiênica e eugênica. Essa concepção naturalista atravessou praticamente todo o século XX - com variações específicas em cada momento histórico - , estando ainda hoje presente em currículos de faculdades, publicações e no próprio imaginário social da área.

A conseqüência dessa exclusividade biológica na consideração do corpo pela educação física parece ter sido a construção de um conceito de intervenção pedagógica como um processo somente de fora para dentro do indivíduo, que atingisse apenas sua dimensão física, como se ela existisse independentemente de uma totalidade, desconsiderando, portanto, o contexto sócio-cultural onde esse homem está inserido.

As concepções de educação física como sinônimas de aptidão física, a opção por metodologias tecnicistas, o conceito biológico de saúde utilizado pela área durante décadas, apenas refletem a noção mais geral de ser humano como entidade exclusivamente biológica, noção essa que somente nesses últimos anos começa a ser ampliada.

Essas concepções parecem ter sido determinantes para a tendência à padronização da prática de educação física, sobretudo a escolar. Segundo essa lógica, se todos os seres humanos possuem o mesmo corpo - visto exclusivamente como biológico - composto pelos mesmos elementos, ossos, músculos, articulações, tendões, então a mesma atividade proposta em aula servirá para todos os alunos, causando neles os mesmos efeitos - tomados como benefícios. Isso talvez explique a tendência da educação física em padronizar procedimentos, tais como voltas na quadra, metragens, marcação de tempo, repetição exaustiva de gestos esportivos, coreografias rígidas, ordem unida etc.

É óbvio que a partir dessa concepção de corpo e de educação física não havia espaço nem interesse em aspectos estéticos, expressivos ou subjetivos. A tendência era de uma ação sobre a dimensão física, passível de treinamento visando à repetição de técnicas de movimento, sejam as esportivas, de ginástica ou de atividades rítmicas. Era como se a educação física fosse responsável pela intervenção sobre um corpo tido como natural e sem técnica, a fim de dar a ele padrões mínimos de funcionamento para a vida em sociedade. Se se falava na consideração dos aspectos psicológicos individuais ou na dimensão estética dos gestos, isso era desvinculado da dimensão física, como se o corpo fosse a expressão mecânica de uma superioridade psíquica ou mental.

A educação física, a partir da revisão do conceito de corpo e considerando a dimensão cultural simbólica a ele inerente, pode ampliar seus horizontes, abandonando a idéia de área que estuda movimento humano, o corpo físico ou o esporte na sua dimensão técnica, para vir a ser uma área que considera o homem eminentemente cultural, contínuo construtor de sua cultura relacionada aos aspectos corporais. Assim, a educação física pode, de fato, ser considerada como a área que estuda e atua sobre a cultura corporal de movimento.

Em relação à educação física escolar, a discussão cultural oriunda da antropologia social também contribuiu de forma significativa para aprofundamento e qualificação dos debates. Primeiramente porque o ser humano passou a ser considerado além de sua dimensão biológica. Sendo um indivíduo que se localiza num determinado contexto e num determinado momento histórico, qualquer intervenção pedagógica sobre ele deve levar em conta esses aspectos. Em segundo lugar, porque a própria dinâmica escolar passou a ser considerada como prática cultural, sugerindo que a educação física não deveria mais ser vista como componente isolado das outras disciplinas, nem sua prática como meramente técnica.

Em outro trabalho afirmei que considerar a prática escolar de educação física a partir de referencial oriundo da antropologia social implica ir além de uma visão determinista de instituição escolar, para a qual cada componente curricular apenas reproduz o que a escola prega como princípio. Implica também superar a idéia de que os professores apenas reproduzem o que aprenderam em sua formação universitária. Implica ainda

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