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A FILOSOFIA DA VOZ

Por:   •  30/5/2017  •  Trabalho acadêmico  •  3.376 Palavras (14 Páginas)  •  663 Visualizações

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FACULDADE IBEC/IEDUC-PÓLO MARECHAL

MÚSICA LICENCIATURA

ALLYSSON RANGEL F. MELO

TRABALHO DE FILOSOFIA DA VOZ

        Há duas modalidades básicas de voz profissional, a voz falada e a voz cantada, sendo que em algumas situações, como no teatro musical, exige-se o domínio de ambas as emissões.

        A voz falada e a voz cantada são duas realidades facilmente distintas; porém, a descrição dos ajustes empregados nas duas situações nem sempre é simples de ser feita. Basicamente, a emissão falada é em geral natural e inconsciente, não necessitando de ajustes ou treinamento prévio; por outro lado, a voz profissional, particularmente a cantada, exige treinamento e adaptações prévias específicas e conscientes.

        Enquanto a emissão falada geralmente prima pela transmissão da mensagem com a necessidade de articulação precisa para a transmissão do conteúdo verbal, a voz cantada tem, no controle de sua qualidade, sua principal caracterização, podendo ser observadas reduções articulatórias, prolongamentos de vogais e a introdução de recursos específicos como o vibrato e o formante do cantor. Os parâmetros diferenciais mais comuns são, segundo Behlau & Rehder (1997), respiração, fonação, ressonância e projeção de voz, qualidade vocal, vibrato, articulação dos sons da fala, pausas e postura corporal. Além desses, a relação entre a emoção e a voz é muito diferente entre a voz falada não profissional e as duas modalidades de voz profissional, a falada e a cantada.

Respiração

        Na voz falada, a respiração é natural e o ciclo respiratório completo varia de acordo com as emoções e o comprimento das frases. A inspiração é relativamente lenta e nasal nas pausas longas, sendo mais rápida e bucal durante a fala; o volume de ar utilizado é médio, e apenas nas situações de forte intensidade há maior mobilização da caixa torácica. Ocorre pequena movimentação pulmonar durante a tomada de ar,com pouca expansão da caixa torácica. A saída de ar na expiração é um processo passivo. O ciclo respiratório durante a voz falada é um dos parâmetros que mais se altera frente a emoções, a mudança mais comum observada está relacionada com o ritmo inspiração/expiração.

        Na voz cantada, a respiração é treinada e os ciclos respiratórios são pré-programados de acordo com as frases musicais. A inspiração é muito rápida e bucal e o volume de ar utilizado é maior. Ocorre grande movimentação dos pulmões na tomada de ar,com expansão de todas as paredes do tórax. O controle da expiração é ativo, mantendo a caixa torácica expandida durante o maior tempo possível. Parece haver uma relação entre o treinamento de canto - desenvolvimento de voz lírica - e o treinamento respiratório. Enquanto os cantores populares raramente possuem um treinamento respiratório específico, a situação é oposta nos cantores eruditos.

        Existem duas técnicas respiratórias principais, que são geralmente apresentadas de forma resumida, por meio de duas expressões americanas: belly in e belly out. Na técnica belly in - barriga para dentro, a parede abdominal fica contraída durante o canto; ao contrário, na técnica belly out – barriga para fora, a parede abdominal fica distendida ao longo da emissão. Podemos observar bons e maus cantores nas duas técnicas respiratórias e, portanto, a técnica respiratória não tem o poder de definir a qualidade técnica de um cantor. Sundberg (1987) relata um estudo realizado com cantores que executaram tarefas com as duas técnicas, cujos resultados mostraram efeitos similares na produção do som, sugerindo que não é a técnica respiratória utilizada que determina a qualidade do som, mas sim a influência de outros fatores, como o treinamento submetido, as configurações do trato vocal, a experiência do cantor, entre outros. Thomasson (2003) desenvolveu uma série de estudos sobre a respiração de cantores treinados e não-treinados e verificou que há grande variação intersujeito, porém grande constância intra-sujeito. (Thomasson & Sundberg, 1999); além disso, constatou que há pouca influência do contexto musical no comportamento respiratório (Thomasson &Sundberg, 2001).Verificou ainda que os cantores iniciam as frases musicais com altos volumes pulmonares, em comparação com não-cantores, porém, amos terminam as frases com volumes pulmonares similares (Thomasson & Sundberg, 1997). A relação entre o tracionamento da traquéia para baixo e os altos volumes pulmonares foi também estudada e permitiu a constatação da hipótese da ocorrência de um componente de abdução glótica na inspiração máxima (Iwarsson,Thomasson & Sundberg, 1998;Thomasson, 2003a e b). Tais estudos constituem a mais atual análise sobre a respiração na voz cantada, sendo apresentados na sessão “De Boca em Boca" deste capítulo.

        A coordenação entre fonação e respiração necessária para o canto é mais precisa e específica do que a utilizada para a produção da voz falada. Segundo Miller (1994), o cantor treinado combina um início de fonação adequado com um controle do ar expirado, produzindo uma pressão subglótica constante. Assim, o ar necessário para a fonação é mantido controlado.

        Uma opinião unânime entre os profissionais envolvidos no treinamento e na reabilitação de cantores é de que o suporte respiratório é essencial para o canto (Spiegel, Sataloff, &Hawkshaw,1997). O mecanismo de suporte constitui a fonte geradora de um vetor de força na coluna de ar, que irá passar entre as pregas vocais. Os problemas anatômicos, técnicos ou doenças do sistema respiratório podem gerar vozes alteradas e sem projeção, ou mesmo criar padrões compensatórios negativos para a produção vocal.

Fonação

        Na voz falada, as pregas vocais fazem ciclos vibratórios com o cociente de abertura levemente maior que o de fechamento. Produz-se uma série relativamente regular de harmônicos, teoricamente infinita, porém em média 20 deles são suficientes para oferecer a identidade de uma vogal. Os harmônicos produzidos decrescem em intensidade, em direção aos harmônicos agudos, na razão de 12 dB por oitava. Na fala, o atrito da mucosa das pregas vocais é bastante aumentado nas situações de pigarro, tosse ou ataque vocal brusco e podem ocorrer instabilidades ocasionais, sem que isso comprometa a comunicação do indivíduo. Percebe-se uma movimentação discreta da laringe no pescoço, determinada por variações na inflexão das frases. A extensão de freqüências em uso habitual é de 3 a 5 semitons, dependendo da língua que se fala e da entonação empregada. Discretos desvios no modo vibratório, em termos de rouquidão, soprosidade ou aspereza, são geralmente aceitos socialmente e não causam maiores danos ao processo ao processo de comunicação.

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