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Construção E Desconstrução Da Identidade Nacional

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Por:   •  15/1/2015  •  2.630 Palavras (11 Páginas)  •  444 Visualizações

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Antes da Carta de Caminha, já havia um documento com a chegada dos portugueses no Brasil em 1498; porém, a Carta de Caminha descreve a chegada dos portugueses em 1500, tornando-se, portanto, um monumento, um símbolo instaurador, que faz um recorte, criando uma ideologia em relação ao Brasil, na verdade é um monumento com amplo poder simbólico enquanto caracterização do nosso povo, como pode comprovar nas seguintes passagens da Carta: “... Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas...” ainda “... e a terra chã e muita cheia de grandes arvoredos. De ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos – terra que nos parecia muito extensa...”. Embora Caminha anuncie que pretende ser objetivo na Carta, a sua perspectiva pessoal a respeito do índio brasileiro e de seus costumes se faz notar. O índio é reiteradamente descrito como belo, bom, inocente, quase um bom selvagem. E uma curiosidade, “Caminha pouco observou de nossa terra ao vivo. A maior parte do tempo, ele ficou recluso no navio, compilando as informações transmitidas pelos expedicionários que realmente desembarcaram. O único momento que se sabe que possivelmente ele vivenciou com os pés no chão brasileiro foi o da primeira missa, por ele relatada”.

Mas apesar de Caminha fazer descrição fiel de nossas paisagens, do modo de vida do povoado, e de tudo que ocorria diante dos olhos dele, há autores, como Silviano Santiago que não defende a idéia de construção da identidade nacional (apesar de tê-la na carta), mas sim uma visão de raciocínio etnocêntrico, ou seja, baseado no modo em que o dominador entende as coisas. Podemos comprovar com a seguinte citação do texto “Intérpretes do Brasil” de Silviano Santiago (2002, p. XVII):

A maioria dos primeiros textos que foram escritos para descrever

terra e homem da nova região leva a assinatura de portugueses.

Estes textos respondem às próprias perguntas que colocam, umas

atrás das outras, em termos de violentas afirmações europeocên-

tricas. A curiosidade dos primeiros colonizadores é menos uma

instigação ao saber do que a repetição das regras de um jogo cujo

resultado é previsível. Os nativos eram de carne- e- osso, mas não

existiam como seres civilizados, assemelhavam-se a animais.

Caminha era totalmente ambíguo, pois descreve o que ocorre, porém a todo o momento há cordialidade marcante versus uma violência implícita, camuflada. Caminha na verdade descreve nossa terra e os nativos presentes, de acordo com Santiago, com uma violência dissimulada, começando pelo fato de que os indígenas eram considerados como “tabula rasa”, indicando que eles não possuem identidade própria, e nem valores culturais e/ou religiosos, que são de extrema importância para os portugueses. Temos a seguinte citação de Santiago, também no texto “Intérpretes do Brasil” (2002, p. XXI):

Não é nosso interesse exclusivo – nesta introdução geral às

interpretações do Brasil, posteriores à data da Independência,

que estão coligadas nestes três volumes – salientar as conse-

qüências desastrosas da nossa leitura dos textos escritos pelos

para o melhor conhecimento futuro do problema da cordiali-

dade como mediadora, na história do Brasil, entre grupos an-

tagônicos.

Além disso, para Santiago, os dominadores queriam de toda forma achar o chefe dos autóctones para manipulá-los, e conseguir converter o povo e achar as riquezas (ouro e outros). Ainda, Pero Gândavo dizia que os “colonizados” não possuem “nem fé, nem rei, nem rei”, sendo esta uma justificativa da visão etnocêntrica.

É óbvio que acima de qualquer coisa havia interesse em explorar nossa terra, porém o caráter pacífico e transitório do contato descrito na carta mascara a redução do nativo a objeto de trabalho, informação e conversão. Podemos provar com o seguinte trecho da Carta de Caminha: “... Bastará que até aqui, como quer que se lhes em alguma parte amansassem, logo de uma mão para outra se esquivam, como pardais do cevadouro. Ninguém não lhes ousa falar de rijo para não se esquivarem mais. E tudo se passa como eles querem – para os bem amansarmos...” Em todo momento Caminha se preocupa em passar informações valiosas ao Rei de Portugal (metrópole). Ao utilizar poucas estratégias retóricas e gestuais, Caminha acaba fazendo de certa forma, uma etnografia para o Rei, disfarçadamente como registro de posse. Caminha mal chega aqui e já diz “... querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo...”, tanto no sentido material quanto no religioso, e para isso Caminha utiliza a língua como código para estabelecer contato para exploração e conversão, como descrito na seguinte passagem da Carta: “... e que melhor e muito melhor informação da terra dariam dois homens desses degredados que aqui deixássemos do que eles dariam se os levassem por ser gente que ninguém entende...”.

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