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Espaço Global Versus Espaço Local: Perspectiva Sistêmica Do Desenvolvimento Local

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Por:   •  19/11/2014  •  9.011 Palavras (37 Páginas)  •  1.124 Visualizações

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ECONOMIA URBANA - TEXTO 7 - 2014

Capítulo 7: Espaço global versus espaço local: Perspectiva sistêmica do desenvolvimento local

Sergio Conti

7.1. Narrativa da Complexidade

As profundas mudanças ocorridas na economia mundial nas últimas décadas trouxeram à baila “novas” geografias económicas no Terceiro Mundo, como consequência do deslocamento de consideráveis segmentos de produção, assim como nas periferias da América do Norte e da Europa Ocidental. Paralelamente a esses significativos deslocamentos, o mundo desenvolvido tem observado o surgimento de numerosos e novos espaços industriais que exprimem tanto a consolidação de áreas de alta tecnologia (tais como o Vale do Silício ou Route 128), quanto a revitalização de tradicionais áreas manufatureiras (Terceira Itália, Dinamarca, Baden-Wurttenberg). O surgimento de 'cidades mundiais’, em torno das quais tem havido intenso debate interdisciplinar, é parte desse processo.

Tais processos, acompanhados pelo enfraquecimento de velhos núcleos industriais que haviam expressado e sustentado o sistema de produção em massa, não podem estar à parte de um processo dual e dialético, o qual Ann Markusen definiu como o paradoxo de sticky places in slippery spaces (Markusen, 1996): por um lado, a hipermobilidade do capital financeiro e das tecnologias; por outro, o vigor do agrupamento (aglomeração) de indústrias e empresas.

Este não é o lugar para discutir se isto não é um paradoxo, mas um fenómeno real. A dualidade entre as forças desterritorializantes e territorializantes é uma questão que as Ciências Económicas e a Geografia têm exaustivamente exami¬nado. Recentemente, significativas contribuições têm sido dadas por geógrafos, como também por economistas políticos, sociólogos e estudiosos em negócios internacionais (Becattini e Rullani, 1993; Granovetter e Swedberg, 1992; Enright, 1998; Dunning, 1998; Storper, 1995; Veltz, 1996; Gilly e Torre, 2000; Hudson, 2001, para citar apenas alguns).

Como bem se sabe, este debate tem comportado duas principais vertentes contrastantes que tratam da globalização. De acordo com a primeira delas, os processos em questão repercutem-se numa economia cada vez mais deslocalizada, em que o processo de desenvolvimento económico "está passando de instituições territoriais, tais como estados, para instituições desterritorializadas, tais como hierarquias intrafirmas internacionais, que se diz estarem ganhando terreno sobre barreiras territoriais, especificidades e atritos (Storper, 1997, p.19). A segunda delas, ao contrário, enfatiza o fato de que o desenvolvimento económico está acoplado a uma contínua especificidade dos padrões de desen¬volvimento. Por conseguinte, em face da liberalização dos mercados, tanto internos quanto de além fronteiras, e da crescente globalização das atividades de exploração de ativos de empresas multinacionais, a maior concentração de atividades económicas em regiões aglomerativas dinâmicas representa uma característica económica fundamental do novo mapa económico mundial, com o qual autoridades regionais e profissionais têm que se defrontar (Dunning, 2000; Saxenian, 1994).

Na tentativa de interpretar tais fenómenos, a rígida dicotomia entre desterritorialização e territorialização (isto é, entre substitutabilidade locacional e restrições locacionais), assim como a redução da dinâmica económica ao dualismo global-local parecem ser evidentes simplificações que não comportam a intrínseca complexidade das dinâmicas económica e social contemporâneas e o radical requestionamento das escalas de ação e representação geográficas. Há outras questões em pauta: a qualidade e as características do processo que, qualquer que seja sua difusão real (global), se caracteriza pela formação de redes de poder económico em diferentes níveis espaciais em que um aspecto central constitui a capacidade de coordenar fluxos industriais, financeiros, tecnológicos e informacionais por meio de organizações corporativas.

Não é por acaso que um dos termos fundamentais da pesquisa económica e social contemporânea é desenvolvimento local, conceito sintético que subjaz a uma infinidade de outros termos, em torno dos quais tem havido acalorados debates, tais como distritos industriais (Sabel, 1989; Pyke, Becattini e Sengenberger, 1990), agrupamentos (clusters) industriais (Porter, 1990), regiões de aprendizagem (learning regions) (Florida, 1995; Maskell, 1998), ambiente (millieu) inovador (Aydalot, 1986; Maillat e Perrin, 1992), sistemas locais de produção (Abdelmalki e Courlet, 1996; Pecqueur, 2000), "motores regionais" e assim por diante.

O conceito de desenvolvimento local implica algo que é, ao mesmo tempo, verdadeiramente complexo e vago: em contraposição ao pano de fundo da crescente consciência da incapacidade dos modelos tradicionais de análise do desenvolvimento regional, busca-se dar sentido ao papel central (nos processos contemporâneos de desenvolvimento) de uma entidade intermediária entre o ator (a empresa, em particular) e o sistema como um todo, em relação ao qual o sistema local exprime tanto um espaço para cooperação entre atores quanto sua imersão em um dado contexto territorial, do qual extraem recursos e soluções competitivas que não são facilmente reproduzíveis.

Os argumentos aqui expressos seguem uma perspectiva explicitamente sistémica, particularmente, a dos sistemas complexos, que serão gradualmente expostos, ao prosseguirmos.

Uma condição de complexidade — o que É necessário relembrar aqui, ainda que de modo breve — reside no reconhecimento de que a realidade não pode ser reduzida a métodos de simplificação, próprios da ciência económica e social ortodoxa moderna, em que a realidade foi decomposta em componentes simples, de mais fácil estudo e compreensão. Com as teorias da complexidade, a atenção se desloca para mecanismos de interação, mais complexos, entre os elementos. Em particular, afirma-se que a imprevisibilidade do sistema deriva, precisamente, do fato de que os subsistemas interagem uns com os outros, por meio de diferentes tipos de relações e não podem, por conseguinte, ser anali¬sados separadamente.

Um pressuposto desse tipo traz consigo uma importante consequência de nível epistemológico. Com a asserção da ideia de uma realidade multidimensional, isto é, composta de uma pluralidade, se não infinidade, de relações e dimensões, não se pode esperar uma completa explanação dessa própria realidade. Segue-se que o observador, não dissociado de sua própria cultura e projeto cognitivo — e político —, desse modo, retoma irremediavelmente o discurso

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