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Observando o familiar - Resenha

Por:   •  9/12/2015  •  Resenha  •  720 Palavras (3 Páginas)  •  2.364 Visualizações

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RESENHA

Capítulo de livro: Velho, Gilberto. Observando o Familiar. In: NUNES, Edson de Oliveira – A Aventura Sociológica, Rio de Janeiro, Zahar, 1978. 

Isaac Simão Neto1

Perto dos olhos...

Ao longo de um dia, interagimos de diferentes formas com diversas pessoas, sejam em nossa casa, na rua, no trabalho, escola, etc. A forma de interação é extremamente variável, com diferentes rituais de cumprimentos e de assuntos tratados. Escolhemos de quem nos aproximamos mais ou menos, baseando-nos em diversos fatores. Um pesquisador que tenha por objetivo analisar estas relações, ainda que com diferentes objetivos, irá sofrer este problema em maior intensidade, haja vista ter que já, a priori, tentar decidir a metodologia da pesquisa e, nela, o grau de envolvimento que terá com os indivíduos do grupo estudado. É sobre esta questão que Gilberto Velho trata em seu texto, dando-nos o exemplo de suas próprias dificuldades e questionamentos já passados em sua carreia.

Logo no início do texto ele nos apresenta a discussão do grau de envolvimento e da imparcialidade que estão sempre ligadas à metodologia de pesquisa em Antropologia e em Ciências Sociais, contrapondo métodos quantitativos aos métodos qualitativos de estudo, e concluindo que não há um consenso na comunidade acadêmica sobre o assunto. O autor, porém, deixa-nos perceber sua posição favorável a um maior envolvimento, fruto, certamente, de sua experiência durante a dissertação de seu mestrado (A Utopia Urbana.1970), quando estudou o que significava Copacabana para os moradores de vários prédios, inclusive aqueles do próprio no qual residia em um conjugado: ao chamar de “dogma” a ideia de que deve haver um maior distanciamento entre o objeto de estudo e o pesquisador e de colocar que “existe um envolvimento inevitável com o objeto de estudo e que isso não constitui defeito ou imperfeição", Velho marca sua posição neste debate. A grande dificuldade desta posição fica explicitada quando menciona que “a ideia de tentar pôr-se no lugar do outro e de captar vivências e experiências particulares exige um mergulho em profundidade difícil de ser precisado e delimitado em termos de tempo”. Como cita o autor “O que sempre vemos e encontramos pode ser familiar, mas não é necessariamente conhecido e o que não vemos e encontramos pode ser exótico mas, até certo ponto, conhecido”. Na verdade, esta me parece uma discussão sobre premissas e preconceitos, originados no decorrer de nossa formação, armadilha da qual o próprio autor não deve ter escapado: fruto da classe média alta do Rio de Janeiro e filho de militar “intelectualizado” (veja sua entrevista em: http://www.habitus.ifcs.ufrj.br/pdf/1velho.pdf), certamente Velho teve também suas próprias concepções formadas a partir de sua formação.

O autor também comenta o quanto construímos estereótipos para definirmos as pessoas, baseando-nos em características físicas mas também, e talvez principalmente, nas relações de poder. Assim construímos imagens de fácil “digestão”, como o guarda, o mendigo, o zelador, o motorista de ônibus, o executivo, etc. Cada ator representa um pequeno universo do qual fazemos ideia, ou seja, nos é familiar, mas que não conhecemos profundamente. O funcionamento do cérebro é assim, tenta resumir as informações para que lidemos apenas com o que é mais vital, senão teríamos que lidar com o processamento consciente de milhões de informações por segundo, então idealizar aquilo que não conhecemos a fundo é um processo extremamente humano. É o questionamento destas premissas, a consciência destas imperfeições que deve alavancar as pesquisas no campo das ciências humanas bem como em outras áreas.

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