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PESQUISA DE CASO

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Por:   •  24/6/2014  •  9.642 Palavras (39 Páginas)  •  275 Visualizações

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Sobre a Educação do Olhar na Escola

1: A recepção muda tudo: Sobre a Educação do Olhar na Escola

 

1.1  . Lições sobre o “Olhar”

 

(Obra de Giuseppe Arcimboldo[1])

“Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão.”

Edgar Morin

Ao iniciar este texto, apresentamos um desafio. Olhando para o quadro acima, podemos afirmar que o que pensamos que vemos é realmente o que vemos? É possível afirmar que não há erro ou ilusão na interpretação do nosso olhar? O que vemos no quadro acima? Será um recipiente de ferro (ou de outro material) contendo legumes e hortaliças? Têm certeza? Por favor, ponham esta página de ponta-cabeça e observem novamente a figura. E então?

Como vocês puderam observar, o quadro acima reproduz um recipiente com legumes e hortaliças, mas também reproduz a figura de um homem – depende do ângulo de onde observamos a figura, depende do ponto de vista do nosso olhar.

Se olharmos mais uma vez para a figura, agora sabendo que há a imagem de um homem, nosso olhar será imediatamente atraído para os dois pontos que representam os olhos, e deixaremos de ver os legumes e hortaliças ou de apenas vê-los como parte de um conjunto de alimentos. Eles serão, a partir desse novo olhar, partes constituintes de uma figura de homem. Tudo isto porque o nosso olhar focaliza um ponto especial – os olhos. Os legumes continuam ali, expostos ao nosso olhar, mas não os registramos mais conscientemente.

Após as observações acima, é possível supor que:

nem tudo o que pensamos ver, realmente vemos;

nem sempre temos a consciência da visão de tudo o que olhamos;

nem sempre vemos a totalidade do que é objeto do nosso olhar;

nem sempre esgotamos nossas possibilidades de olhar um objeto para criar conceitos sobre ele;

nem sempre refletimos sobre o nosso ato de olhar.

 

Com esta constatação, concluímos que olhar é um ato nada banal, na verdade, bastante complexo e, por isso mesmo, necessitando ser analisado com profundidade. Especialmente, se colocamos a questão no âmbito educacional e, mais especificamente, no âmbito escolar.

Refletir sobre o olhar é a proposta que trazemos para este momento. E dentro desta proposta, queremos considerar os vários significados do olhar. Entre eles, os que apresentamos a seguir:

 

Eu vi

o cheiro do boi.

Eu vi

cheiro de pasto

maduro, crestado, amarelado.

 

Trecho do poema “Evém boiada!”, de Cora Coralina[1]

  

De uma praia do Atlântico

 

 Se o olhar visse curvo,

como se diz que é o espaço,

olhando a sudoeste

de meu atual terraço, (...)

                                   João Cabral de Melo Neto[2]  

 

Assim como os poetas citados, entendemos o olhar como um modo de ver que vai além do olhar primário, do olhar que só alcança as coisas imediatas e próximas. Entendemos que o ato de olhar envolve também o resgate de lembranças sinestésicas que estão guardadas em nosso interior. Assim, olhar é também usar os olhos da alma, do desejo, do sonho, da fantasia, da sensibilidade, porque olhar é ver com o “corpo todo”. Assim pensamos porque acreditamos, como Lorca[3], que “nos olhos se abrem / infinitas veredas”.

Mas que em momento algum se pense que estamos defendendo a idéia de um olhar romântico, ingênuo, acrítico, pois se acreditamos no ato de olhar que se volta para o interior, é porque consideramos que isto vai nos ajudar a olhar criticamente para o exterior. Com um múltiplo olhar – enriquecido pelos nossos diferentes sentidos – poderemos refletir melhor sobre as coisas que nos são mostradas, poderemos observá-las sob vários ângulos e, com isto, identificar as intenções que subjazem nas exposições que ocorrem nos espaços sociais.

Mas como alcançar esta competência? Como desenvolver a habilidade de ver criticamente e também com emoção? Só há uma forma: educando o olhar. E para educá-lo, precisamos, inicialmente, pensar sobre algumas questões, a saber:

1.  Como se realiza, cientificamente, o ato de olhar?

2.  Como identificar, nas interações sociais, as intenções implícitas no aparentemente inocente ato de expor imagens ao nosso olhar?

3.  Como relacionar, ao ato de olhar, as questões referentes à estética e à ética?

4.  Como desenvolver a capacidade de olhar?

5.  Como levar todas estas reflexões para o cotidiano da escola?

[1] CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 4ª. ed. São Paulo: Círculo do Livro, 1991, p. 91.

[2] MELO NETO, João Cabral de. Museu de tudo e depois (1967 – 1987). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 264.

[3] LORCA, Federico García. Os olhos. In: Obra poética completa. 3ª. ed. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1996, p. 591.

[1] Pintor italiano do séc. XVI (1527 – 1593).

 

1.2 . A Arte de Educar o Olhar

 

Como educar o olhar? Como torná-lo capaz de perceber significados e construir relações? Como desenvolver a capacidade de ver estética e eticamente as imagens que nos circundam? Cultivando a arte de ver.

Pensemos, primeiramente, em desenvolver nossa “visão divergente” que, em Pedagogia, conforme nos informa Yunes e Agostini[1], “representa uma visão múltipla das coisas, uma visão

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