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Resenha Oque são as Ligas Camponesas

Por:   •  10/10/2019  •  Resenha  •  5.284 Palavras (22 Páginas)  •  145 Visualizações

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ

 CURSO ESPECIALIZAÇÃO EM AGROECOLOGIA

ATIVIDADE DA DISCIPLINA DE ESPANHOL INSTRUMENTAL

[pic 1]

Tralho apresentado ao Curso de especialização em agroecologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA, Campus Cametá, como requisito para obtenção parcial de conceito na disciplina espanhol instrumental. Ministrada pela prof.ª zaine Guedes da costa  

CAMETÁ – PA

2019

Francisco Julião e as Ligas Camponesas

A publicação que inicia a coleção Cadernos do povo brasileiro é escrita por um dos mais históricos líderes, no período, das Ligas Camponesas. O autor esclarece que escreveu o texto em poucas horas, atendendo à “gentil solicitação” da Editora Civilização Brasileira, e que, por isso mesmo, não pretendia fazer do texto obra definitiva sobre as Ligas.

Lembremos que, de acordo com nossa análise no capítulo 2, Julião se auto classificava como um agitador social. O autor, embora ciente de seu papel de líder junto aos camponeses, colocava-se como alguém que havia se integrado às massas. O debate que ocupou as páginas deste Caderno foi justamente esse: os movimentos do campo nos anos 1950-60, em especial o movimento camponês, onde esteve em questão a discussão sobre a vanguarda revolucionária, a espontaneidade, a consciência das massas etc.

Outra questão importante suscitada por Julião e que aparece nos autores que tratam da questão agrária nos Cadernos, é a conceituação relativa ao trabalho no campo. A principal contraposição apresentada pelos autores será se, de fato, existia um campesinato brasileiro ou se o mais correto seria a denominação trabalhador rural e, consequentemente, as concepções teóricas e políticas que vinham atreladas a essas duas diferentes maneiras de conceituá-los.

Julião, ao indagar se o Brasil tinha ou não um projeto de reforma agrária, vai inicialmente optar pelo termo “campesinato”. Observa, inclusive, que anexou ao texto documentos onde se encontravam as “linhas mestras de uma lei de reforma agrária capaz de atender às aspirações e necessidades do campesinato”. Desde logo, Julião deixa clara sua posição revolucionária, afirmando que o projeto de reforma agrária existe, “mas só a revolução social pode fazer vingá-lo”. Essa afirmação tem muita importância no debate da época que, como já referimos, contrapunha reforma e revolução o tempo todo.

Ao não se colocar na posição de vanguarda, o autor explicita que sua função era a de semear ideias, mas que “a melhor maneira de se atingir o objetivo que nos congrega, isso quem vai ditar não somos nós, mas o povo, a massa, rica de ensinamentos”. O texto de Julião tem um tom quase profético e são constantes suas referências bíblicas, utilizando constantemente a terminologia ricos versus pobres na caracterização da situação brasileira. É sabido que Julião era um militante religioso protestante, o que exerceu grande influência em sua militância política.

A concepção de Julião sobre o conceito de camponês vem do pressuposto de existirem no Brasil sobrevivências feudais. Ele utiliza aqui o termo feudal menos por uma concepção teórica e mais pelo atraso que representava o funcionamento do latifúndio no Brasil, que agia nos mesmos. Trata-se da “Carta de alforria do camponês” e da “Declaração de Belo Horizonte do I Congresso Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas”, realizado em 1961.

Esmagado pelo peso cruel do latifúndio, com todas as sobrevivências feudais de que se nutre, esse camponês que forma a maioria da população do Brasil, não se comporta como ser humano, mas como vegetal, tirá-lo do seu confinamento, para que sinta a vida como ser humano, eis o grande compromisso que assumimos com a nossa consciência. E depois explica como se compararia essa estrutura feudal de outrora, na Europa, com o que acontecia no campo brasileiro: Sob o feudalismo, o senhor tinha direito de vida e de morte sobre os camponeses. Podia matá-los, como se faz entre nós, sem punição, porque o mundo de então, como aquele de que ainda participa o nosso País, se dividia e se divide entre opressores e oprimidos, e a justiça, como o poder de polícia, são instrumentos que asseguram a conservação dos privilégios da oligarquia.

Continuando na caracterização das frações de classe a serem definidas dentro da estrutura agrária brasileira, ele assim se manifesta: Essa população está assim dividida: proletários, semiproletários e camponeses. Os proletários são os assalariados. Os semiproletários são os colonos, os peões, os camaradas, os empreiteiros. Os camponeses são os foreiros ou arrendatários, os meeiros, os parceiros, os vaqueiros, os posseiros, os condiceiros e os sitiantes.

Essa classificação das classes e frações de classe no campo feita por Julião, é importante para o entendimento de seu conceito de camponês. O autor acredita na “pureza do espírito desses milhões de brasileiros” e diz que o sentido da luta no Brasil é o de convocar todos os patriotas a “remover os obstáculos que séculos de injustiça social levantaram contra ele, e tomando-o como base, edificar uma sociedade sem sofrimento nem angústia”.

Ele explica as origens das Ligas Camponesas reportando-se à situação da Alemanha nos séculos XV e XVI, tendo como base o texto de Engels, As guerras camponesas na Alemanha (ENGELS, 1977). Destaca o papel que a tradução da Bíblia do latim para o alemão desempenhou na aceleração do processo revolucionário, porque deu motivo a que fossem percebidas as contradições entre o que se pregava e o que era praticado por aqueles que se diziam seguidores das escrituras.

O choque violento que esse conhecimento da Bíblia teria causado nas consciências camponesas foi fatal, segundo Julião, pois a Reforma Protestante teria trazido proveitosos resultados políticos para a humanidade, na medida em que teve caráter político-econômico, mas apresentou-se, sobretudo, sob a forma de luta religiosa. Ele demonstra isso afirmando que: Foi assim que o camponês alemão ficou sabendo que Cristo era um homem pobre, humilde, sem dinheiro; que andava de sandálias e a pé, como ele; que não tinha terras não cobrava foro nem dízimo de ninguém; que dizia ser mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que o rico entrar no céu; que, ao contrário dos cardeais e bispos, não vivia nos palácios com os ricos e, sim, nos campos com os miseráveis; que Deus dissera a Adão e Eva que a terra era dele para ser distribuída indistintamente entre todos aqueles que quisessem ser seus inquilinos; que cada um  deveria ganhar o pão com o suor de seu rosto; que o próprio Cristo, apesar de manso de coração, usou do chicote contra os mercadores do templo, que aproveitavam a religião para usufruir bens materiais e fazer negócios, que o demônio, certa vez, lhe ofereceu todas as riquezas deste mundo para que modificasse as suas ideias, mas Ele preferiu continuar com os humildes.

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