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Resumo Ensino E Aprendizagem

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Por:   •  11/2/2015  •  7.494 Palavras (30 Páginas)  •  286 Visualizações

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1. WEISZ, Telma O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo, Ática 2000.

MEU BATISMO DE FOGO

Em 62, formada no normal, um curso técnico de 2º grau, supunha-se que a professora deveria aprender um conjunto de procedimentos para realizar sua tarefa de ensinar. Tínhamos aulas de metodologia da linguagem, da matemática, das ciências, dos estudos sociais. Essas metodologias eram um conjunto de práticas que aprendíamos e deveríamos reproduzir com nossos alunos. Saíamos da escola menos preparadas que um mecânico, a quem se ensina a apertar esse parafuso e soltar aquele, mas que tem de conhecer muito bem o motor com o qual esta trabalhando, para compreender o que se modifica lá quando se mexe aqui ou ali.

Antes que esses insucessos começassem a me acontecer na prática eu já tinha uma intuição deles. Quando começamos a ter metodologia, no 2º ano normal, me pus alerta. Procurei minha professora de psicologia do desenvolvimento, a Dra. Ivã Waisberg Bonow – que possuía uma formação acadêmica sólida e prestígio no Rio de Janeiro-, para conversar. Disse-lhe que não compreendia o porquê daquelas orientações. Ela me recomendou ler Piaget – em francês, pois não havia nada publicado em português. Como tinha uma boa formação em língua francesa, do ginásio, pus-me a ler. Lembro-me de ter tido uma dificuldade enorme para entender, e o que me sobrou naquele momento foi a idéia de que era importante trabalhar em grupos, que os meninos deviam ter a possibilidade de trocar idéias com os colegas. Mas eu olhava essas idéias apenas do ponto de vista da formação sociabilidade, da moralidade, de uma questão política, que era privilegiar o desenvolvimento da cooperação em vez da competição. a grande questão de como é que as pessoas aprendem – e por que, diante de uma mesma situação, uma pessoa pode aprender e outra não-, sobre isso eu não consegui informação.

Acho que o professor continua chegando hoje à escola com as mesmas insuficiências com que eu cheguei em 1962. Ele acaba ganhando experiência e também algum conhecimento de natureza intuitiva, mas, dependendo da formação que recebe, continua tão cego e perdido quanto eu estava. O que mudou, hoje, é a maneira pela qual ele pode, se quiser tentar resolver essa situação. Por exemplo: durante muitos anos os professores do sistema público, que viviam uma situação semelhante à minha, consolaram-se com a idéia de que uma quantidade enorme de seus alunos, a cada nova turma, eram crianças com algum tipo de deficiência, por isso é que repetiam e iam continuar repetindo. Eles não conseguiam ensinar a essas crianças, só que pensavam que a culpa não era deles, professores, mas das crianças. Hoje seria mais difícil sustentar uma afirmação como essa, pois o conhecimento que se desenvolveu nos últimos vinte anos aponta na direção contrária.

O que está à disposição dos professores hoje é um corpo de conhecimentos que, se não dá conta de tudo, pelo menos ilumina os processos através dos quais as crianças conseguem ou não aprender certos conteúdos. Já é possível observar uma situação de sala de aula e interpretar as ações das crianças e do professor com um grau de profundidade que não existia antes. Cada vez mais a concepção que se tem do ato de ensinar desenha o perfil de um professor que reflete enquanto age, pode tomar decisões, mudar rapidamente o rumo de sua ação, interpretar as respostas que os alunos dão, autocorrigir-se. O entendimento que se tem de um professor hoje é o de alguém com condições de ser sujeito de sua ação profissional. Assim, vai ficando ultrapassada aquela prática educacional na qual alguém pensava procedimentos técnicos, passava-os como um pacote para o professor, que entrava na classe e simplesmente os executava. A questão central para mim é, e sempre foi, como é que a gente faz para que as crianças – tenham sucesso escolar. Hoje sou vista como uma especialista em alfabetização, mas na verdade nunca tive a intenção de me especializar nisso. Acontece que o primeiro instrumento de fracasso para os meninos da escola pública é que não conseguem aprender a ler. Então me dediquei a entender isso. E como me dediquei também a estudar o trabalho da Dra. Emilia Ferreiro que abriu uma perspectiva extraordinária nessa área e teve uma importância enorme na mudança da compreensão do papel do professor -, acabei me tornando uma especialista em alfabetização. Mas, na verdade, minha questão é a aprendizagem, em especial a aprendizagem escolar.

UM NOVO OLHAR SOBRE A APRENDIZAGEM

A METODOLOGIA EMBUTIDA NAS CARTILHAS DE ALFABETIZAÇÃO CONTRIBUI PARA O FRACASSO NA ESCOLA

As pesquisas realizadas nos anos 1970 por Emilia Ferreiro, Ana Teberosky e colaboradoras sobre o que pensam as crianças a respeito do sistema alfabético da escrita – a chamada psicogênese da língua escrita – evidenciaram os problemas que a metodologia embutida nas cartilhas cria para muitas crianças. Segundo mostrou a psicogênese da língua escrita, em uma sociedade letrada as crianças constroem conhecimentos sobre a escrita desde muito cedo, a partir do que não compreendem quando ainda não se alfabetizaram, as crianças elaboram hipóteses muito interessantes sobre o funcionamento da escrita.

Esses estudos permitiram que compreendêssemos que a metodologia das cartilhas pode fazer sentido para crianças convencidas de que para escrever bastaria uma letra, que para escrever macaco seriam necessárias três letras:MCO ou ACO ou MAC...Já para aquelas que ainda cultivam idéias muito mais simples a respeito da escrita, sem sequer estabelecer relação entre o falado e o escrito, o esforço de demonstrar que uma sílaba geralmente se escreve com mais de uma letra não faz nenhum sentido. E são exatamente essas as crianças que não aprendem com as cartilhas e ficam repetindo a 1ª série, chegando muitas vezes a desistir da escola.

Como as crianças constroem hipóteses sobre a escrita e seus usos a partir da participação em situações nas quais os textos têm uma função social de fato, freqüentemente as mais pobres são as que têm as hipóteses mais simples, pois vivem poucas situações desse tipo. Para elas a oportunidade de pensar e construir idéias sobre a escrita é menor do que para as que vivem em famílias típicas de classe média ou alta, nas quais as crianças ouvem freqüentemente a leitura de bons textos, ganham livros e gibis, observam os adultos manusearem jornais para buscar informações, receberem correspondência, fazerem anotações,etc. è comum, por exemplo, crianças de famílias que fazem uso cotidiano da escrita pedirem desde bem pequeninas – e por razões

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