TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Análise do filme Rashomon

Por:   •  7/5/2017  •  Seminário  •  2.265 Palavras (10 Páginas)  •  655 Visualizações

Página 1 de 10

                               RASHOMON

                                          (Akira Kurosawa)          

Durante uma tempestade, abrigados nos portais de Rashomon, um lenhador e um sacerdote contam a um camponês os detalhes do julgamento de Tajomaru, acusado de estuprar Masago e assassinar seu marido, um Samurai. Em flashbacks, são apresentados os depoimentos de 4 testemunhas, sendo eles o lenhador, o réu, a mulher e a própria vítima, por meio de uma médium. A “verdade” dos fatos descritos por cada um entra em conflito com outra, apresentando vários pontos de vista diferentes para a mesma história.

ESPAÇO E TEMPO

O espaço e o tempo no filme são apresentados em 3 camadas:

- As ruínas do portal de Kyoto servem como uma espécie de introdução ao período histórico onde ocorrem as histórias, servindo como demarcação as guerras civis constantes do Período Edo do Japão com a chuva remetendo a melancolia do Lenhador e do Sacerdote diante a dúvida quanto à veracidade do acontecimento ouvido durante o tribunal. Nesse espaço fica constituído o tempo presente da narrativa, onde, por meio de flashbacks dentro de flashbacks, serão narradas pelo lenhador e pelo sacerdote as diferentes versões dadas ao júri pelas testemunhas. Nesse local também se observa, ao fim do filme e com a recuperação da fé na humanidade por parte do sacerdote ao presenciar um ato de altruísmo praticado pelo lenhador, o fim da tempestade e o surgimento do Sol, outrora encoberto pelas nuvens, servindo como metáfora a essa ideia de que mesmo em meio a tantos defeitos, as boas atitudes humanas tem um poder maior de mudar o mundo do que as más.

- O Tribunal serve como uma espécie de diálogo entre as testemunhas com o próprio espectador, uma vez que não há a representação de nenhum outro membro do júri, cabendo o papel de juiz a quem esta assistindo ao filme para ouvir as confissões de cada personagem, analisar e julgar conforme sua própria percepção de justiça, verdade e moralidade, entrelaçando com o papel do camponês que escuta a narração no tempo presente por meio do Lenhador e do Sacerdote. Neste local, onde a presença de uma grande área ensolarada, que pode indicar a clareza que um tribunal e seus membros devem trabalhar para trazer aos fatos ali levados (o que cria uma contradição com os depoimentos conflitantes apresentados e que não são esclarecidos), se passa o passado recente, fruto da memória do lenhador e do sacerdote que acompanharam as histórias contadas pelas testemunhas.

- A Floresta é o local onde acontecem os fatos centrais, no caso, os crimes. O tempo neste espaço é o passado distante, sendo apresentado por meio de flashbacks dos depoentes. O uso da luz do sol para representar simbolicamente a questão da “razão” e das sombras a da “corrupção” (como na cena em que Tajomaru avança sobre Masago para cometer o estupro, esta tenta se defender e ao olhar para o sol como se buscasse por esperança, o sol é coberto pelas folhas das árvores e ela é mergulhada nas sombras, como representação dela sendo tomada por Tajomaru, sendo seduzida ao seu caráter bruto) ou o da brisa (usada por Tajomaru como justificativa para o despertar do seu interesse em possuir a mulher, o que culminou em toda a situação) busca alinhar o desejo,  nesse caso algo impuro e causador de problemas, a elementos da natureza, como que para dizer que essa impureza faz parte da natureza humana.

OS PERSONAGENS

Os personagens se dividem em dois núcleos de interação:

  • O sacerdote, o lenhador e o camponês.

Esses 3 personagens não se encontram diretamente envolvidos no crime.

O sacerdote, além de assistir aos depoimentos das testemunhas, encontra Masago e seu marido no tarde do crime, mas como não o presencia e não possui nenhuma informação quanto aos fatos presumivelmente diz a verdade em seus relatos. Ao relembrar e contar tudo o que ouviu no tribunal, apresenta claramente uma crise existencial, submerso em desgosto e decepção, em que questiona sua fé na humanidade e a capacidade humana de ser mais uma força de destruição, comparada aos fenômenos naturais. Seria a representação de uma pessoa “inocente”, que encara os problemas do mundo e é atingido por estes problemas, física ou psicologicamente, e busca de alguma forma tentar entender essa maldade sem saber como consertar as coisas, mas que ao mesmo tempo mostra que também possui imperfeições, como qualquer um, ao passo que faz um julgamento precipitado das intenções do lenhador com relação ao bebê encontrado nas ruínas. Por fim, e percebendo tanto suas imperfeições quanto a bondade que ainda existe nas pessoas, ele acaba recuperando sua fé na humanidade e recobrando uma certa paz interior.

O lenhador é o personagem que tem o maior envolvimento com o crime, mesmo que não tenha participado diretamente dele, uma vez que o presenciou. Ao iniciar a narração dos fatos ao camponês, se vê também em uma briga interior muito forte, onde o choque do que presenciara se mistura com a culpa de ter mentido em seu primeiro depoimento (alegando que encontrara o morto na floresta enquanto procurava lenha e então correra imediatamente para avisar às autoridades sobre o crime), com a culpa de não intervir de alguma forma para evitar os acontecimentos, dando-lhe uma carga de cumplicidade por omissão de uma atitude, um medo de ser descoberto por ter roubado a adaga que dissera não ter visto no local do crime e quiçá uma culpa por ter cometido um roubo numa cena de tamanha desgraça. Depois de contar todos os depoimentos ele é pressionado e acaba revelando que mentira ao tribunal, numa demonstração de vergonha, mas sem confessar o roubo da adaga. É quando impede que o camponês roube o kimono do bebê abandonado que ele é acusado pelo camponês de ter roubado a adaga e ser hipócrita ao criticar um furto tendo ele praticado um. A vergonha e a constatação desse fato se dá pela não negação diante dessa acusação. Em um ato de redenção ele se compromete a ficar com a criança e tomar conta dela, dizendo que já possuía 6 crianças em casa, surgindo assim um novo ângulo possível para o roubo, uma vez que ele possa ter cometido o delito para garantir o sustento dos filhos.

O camponês surge como um sujeito ignorante, grosseiro e interessado na história do crime apenas por curiosidade, como passatempo enquanto aguarda passar a tempestade. Aparenta um estado em que já se conformou com a crueldade humana e não vê solução para isso. Para ele, o homem não sabe dizer a verdade, nem para si mesmo (aqui fica também salientado a dificuldade de se julgar a realidade baseado apenas em relatos tão distintos, uma vez que se trata da palavra de um contra a palavra de outro e todos podem estar mentindo, inclusive). No fim, como já está entregue a esse pessimismo quanto à bondade humana, não se importa em roubar o manto de um bebê abandonado, mesmo que isso seja extremamente cruel. É a representação do egoísmo e do pessimismo.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (13 Kb)   pdf (71.8 Kb)   docx (16.1 Kb)  
Continuar por mais 9 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com