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A relação entre indivíduo e sociedade - Weber, Durkheim e Marx

Por:   •  21/3/2016  •  Artigo  •  1.840 Palavras (8 Páginas)  •  11.056 Visualizações

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A RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE:

DURKHEIM, MARX E WEBER

O francês Émile Durkheim (1858-1917) e os alemães Karl Marx (1818-1883) e Max Weber (1864-1920), expoentes sociólogos clássicos, destacam-se na análise da relação entre indivíduo e sociedade. Cada um definiu a constituição da sociedade e a relação desta com os indivíduos de maneiras distintas.

Émile Durkheim concebe a sociedade como um "todo harmônico", onde existe um bem comum. Ele retrata a sociedade como um corpo em funcionamento, onde cada indivíduo seria uma parte e a sociedade seria o todo. Mas além disso, a sociedade superior ao somatório de indivíduos. "A sociedade, então, mais do que uma soma, é uma síntese e, por isso, não se encontra em cada um desses elementos, assim como os diferentes aspectos da vida não se acham decompostos nos átomos contidos na célula: a vida está no todo e não nas partes. [...] Os sentimentos que caracterizam este ser têm uma força e uma peculiaridade que aqueles puramente individuais não possuem. Ele é a sociedade" (Quintaneiro, p. 62, 2003).

A sociedade tem vida própria, antecede e sucede aos indivíduos, tal qual um ente superior que independe deles. Ela dispõe de regras, costumes e leis que asseguram sua perpetuação e formam uma consciência coletiva, dando sentido de integração entre os indivíduos. A sociedade é vista por Durkheim como algo exterior aos indivíduos – assim como suas regras – e os estados de consciência coletivos são diferentes dos estados de consciência individuais. As regras se solidificam em instituições que se encarregam de incorporar nos membros da sociedade determinados valores e referências. A ausência ou insuficiência da normatização ou de instituições reguladoras gera conflitos.

É essencial para essa discussão relacionar fato social com sociedade. "Tais fenômenos compreendem toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter” (Durkheim, p. 11, 2007). Os fatos sociais, para Durkheim, são “coisas” e controlam o meio social. O homem é, portanto, coagido a seguir normas sociais que lhes são expostas desde seu nascimento e que ele não tem poder de modificar. Caso o indivíduo ultrapasse as fronteiras impostas, seria punido socialmente. "Por encontrar-se fora dos indivíduos e possuir ascendência sobre eles, consistem em uma realidade objetiva, são fatos sociais." (Quintaneiro, p. 63, 2003).

O autor tenta, também, comprovar o caráter externo desses modos de agir. "Durkheim argumenta que eles têm que ser internalizados por meio de um processo educativo. [...] a educação “cria no homem um ser novo”, insere-o em uma sociedade, leva-o a compartilhar com outros de uma certa escala de valores, sentimentos, comportamentos. [...] E se as maneiras de agir e sentir próprias de uma sociedade precisam ser transmitidas por meio da aprendizagem é porque são externas ao indivíduo" (Quintaneiro, p. 63, 2003). Os fatos sociais possuem componentes importantes, como as representações coletivas - que compreendem os modos como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia - e os valores de uma sociedade – que independem do sentimento ou importância individuais.

Vale ressaltar que as instituições na sociedade são passíveis de mudança, por mais que haja dificuldade para tal, desde que “vários indivíduos tenham, pelo menos, combinado a sua ação e que desta combinação se tenha desprendido um produto novo” (Durkheim, p. 21, 2007), constituindo, então, um fato social.

Durkheim defendia que a observação seria o melhor método para explicar a função dos fatos sociais – objetos de estudo da sociologia – e que, investigando as causas, efeitos e regularidades, poderia se chegar a descoberta de leis que determinassem os fatos sociais e sua existência, determinando, assim, a ação dos indivíduos de uma sociedade. Cabe a um cientista social analisar uma realidade sem julgá-la.

Para Karl Marx, “a análise da vida social deve, portanto, ser realizada através de uma perspectiva dialética que, além de procurar estabelecer as leis de mudança que regem os fenômenos, esteja fundada no estudo dos fatos concretos, a fim de expor o movimento do real em seu conjunto” (Quintaneiro, p. 28, 2003). O homem, em busca de suprir suas carências, determina, na interação com outros indivíduos e com a natureza, transformações na sociedade.

Importante ressaltar também o materialismo histórico nas análises de Marx, no qual “as relações materiais que os homens estabelecem e o modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relações” (Quintaneiro, p. 29, 2003). De acordo com a perspectiva dialética e materialista, todo fenômeno social ou cultural é finito e momentâneo. E, a partir dessa análise, Marx se propõe a explicar a realidade social, mostrando que não é a consciência do indivíduo que determina o seu ser, mas sim o contrário.

O autor ressaltava o fato de a sociedade não ser homogênea, sendo constituída por classes sociais, que se mantêm por meio de ideologias dos que possuem controle dos meios de produção e cuja existência "vincula-se a circunstâncias históricas específicas, quais sejam, aquelas em que a criação de um excedente possibilita a apropriação privada das condições de produção" (Quintaneiro, p. 38, 2003). Consequentemente, os indivíduos de uma sociedade devem ser analisados de acordo com o contexto de suas condições sociais, já que produzem sua existência em grupo, e as relações sociais decorreriam dos modos de produção.

Na análise marxista, o indivíduo isolado só surge efetivamente na sociedade capitalista de livre concorrência. "Em todas as formas de sociedade, é uma produção determinada e as relações por ela produzidas que estabelecem todas as outras produções e as relações a que elas dão origem, a sua categoria e a sua importância. É como uma iluminação geral que modifica as tonalidades particulares de todas as cores" (Marx, p. 235, 1973).

Uma relação entre um patrão e um empregado, por exemplo, não seria somente uma relação entre indivíduos, mas sim uma relação entre duas classes sociais diferentes: a burguesia e o proletariado. As condições que permitem esse relacionamento entre ambos são definidas pela luta de classes, já que trabalhadores e empresários possuem interesses opostos. Essa relação que permite a existência da sociedade, a qual não pode ser conceituada como um "todo harmônico", ou seja, a sociedade não tenderia a buscar a funcionalidade perfeita, como para Durkheim. O conflito da luta de classes e o antagonismo entre capital e trabalho é o que move a história.

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