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Análise Sociológica - Sociologia e as Redes Sociais Online no Ensino básico

Por:   •  3/11/2018  •  Resenha  •  1.800 Palavras (8 Páginas)  •  233 Visualizações

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Com a inclusão da Sociologia no currículo do Ensino Médio, em 2008, surgem novos desafios para os cientistas sociais, em particular aqueles que desempenham papel de professores e pesquisadores do ensino de Sociologia. Entre os desafios que surgem, está a definição do papel a ser exercido pela disciplina na formação dos jovens que frequentam o ensino básico.

A Sociologia, enquanto conteúdo curricular, tem um papel a desempenhar na escola e na formação de jovens alunos. É entendido que a Sociologia deve se afastar da concepção tradicional, em que a educação é concebida apenas como acúmulo de conhecimentos não refletidos, o que Freire denominou de Educação bancária, que tende a diminuir o espaço para a reflexão e a formação crítica. O espaço ocupado pela Sociologia deve ser aquele onde a realidade social seja estranhada, problematizada, discutida, e então desnaturalizada, possibilitando uma formação crítica e reflexão sobre qual o papel do aluno em seu meio social, e como ele pode intervir e alterar sua realidade.

Diante de tantos fenômenos que tem produzido efeitos e mudanças dentro do espaço escolar, é destacado o uso das redes sociais. As redes sociais constituem de tecnologia, espaço de sociabilidade e veículo de circulação de informações, e o texto procura estabelecer como as redes sociais se relacionam com o modo como a juventude se constitui socialmente. Considerando que essa relação impacta diretamente na interpretação que os jovens constroem no seu cotidiano, e que uma das tarefas da Sociologia é desnaturalizar e causar estranhamento frente à realidade social, procura-se apontar como os conteúdos das aulas de Sociologia podem contribuir para que as redes sociais possam se tornar instrumentos para problematização e desnaturalização da realidade dos jovens.

Sendo assim, o estudo procura questionar, entre outras coisas, qual o impacto das redes sociais na desnaturalização e no estranhamento da realidade social por parte dos jovens, e se essas redes estariam colaborando para a expor as estruturas sociais sob as quais organizamos nossas vidas ou seriam espaços de consolidação e reafirmação de uma visão de mundo que valoriza o consumismo e a futilidade, desviando o olhar dos reais debates acerta de sua própria realidade.

Tradicionalmente, coube à Antropologia trabalhar o conceito de rede social, porém é interessante utilizarmos conceitos mais atuais, como por exemplo em Almeida e Eugênio (2006), onde o uso da Internet pelos jovens transformou a “tela” em espaço de experiências e interações que formam a arquitetura social de nossos dias. Também segundo Lemos e Lèvy (2010), as comunidades formadas no ciberespaço ligam-se por proximidades semânticas e não apenas geográficas ou institucionais. As redes sociais contemporâneas, como o facebook, twitter e orkut, instituíram uma verdadeira “computação social” ao unir ferramentas da web 2.0 para compartilhar gostos, usos, imagens, intensificando as possibilidades de contatos interpessoais.

Estes autores afirmam, com uma visão otimista, que há uma reconfiguração da esfera pública, ocorrendo o que caracterizam como uma erosão da esfera privada. Esta vertente atribui um papel revolucionário e reconfigurador das relações sociais às redes sociais on-line, e dentro dessa vertente, a noção de indivíduo concebida na modernidade perde espaço; Em seu lugar, surge uma concepção de indivíduo marcada pela mobilidade e agilidade, e sendo assim, a utilização das redes sociais permite que os jovens ingressem em um espaço de sociabilidade onde o menor movimento pode resultar em um compartilhamento de sua individualidade.

Porém, isso não é visto como um problema para os partidários desta perspectiva, que entendem que as redes sociais possibilitam a crianção de um novo espaço democrátio ao estabelecer uma nova maneira de se "fazer sociedade". As pessoas dentro dessa rede exercerão sua cidadania de modo ativo e, embora menos fisicamente presente, o farão de modo mais abrangente devido à ampliação da rede de contatos. A circulação de informações nas redes sociais, transforma os papéis sociais, que deixam de ser pré-definidos pela realidade material e posições de status, e passam a ser construídos pelos próprios atores sociais na própria rede. Os autores compreendem que isso afeta positivamente os processos de aquisição de informação, e criam uma nova forma de democracia, que é ativa e com potencial de influenciar nas decisões politicas; Segundo Lemos e Lèvy "essa mutação na esfera pública tem outro efeito, a pressão que exerce sobre as administrações estatais e sobre os governos”.

Porém, algumas observações devem ser feitas em relação às discussões propostas anteriormente. Sem desconsiderar o papel que a tecnologia exerce, especialmente o papel das redes sociais on-line, na formação dos jovens e nas diferentes formas de sociabilidade que são construídas a partir disso, temos que entender que as redes sociais devem ser analisadas e caracterizadas a partir da configuração do uso dessas ferramentas, e não a partir dos objetivos pelos quais essas ferramentas foram criadas. Visto isso, uma análise do papel efetivo dessas redes na formação dos jovens, só podem ser corretamente enunciados a partir de uma reflexão de como os jovens brasileiros utilizam as redes sociais, e qual significado atribuem a ela.

Libânio interpreta que a tecnologia tem tido um papel de afastar os jovens de sua realidade, configurando uma forma de ideologia que leva à perda de consciência social e política dos jovens e a consequente redução do papel ativo na definição dos rumos da sociedade, visto que se constroi uma cultura do individualismo e uma apropriação da tecnologia de viés narcisista e alienado.

Não se pode considerar um espaço de socialização virtual que exista independente das estruturas e relações sociais que se travam no mundo real. O espaço de socialização virtual deve ser entendido como uma extensão das estruturas reais presentes no cotidiano dos jovens. Ao mesmo tempo em que as redes sociais pretendem à liberação da palavra, os padrões morais e culturais dos próprios atores são seus limitadores.

“Nas redes sociais, me sinto livre para falar o que bem entender, pois não há uma censura física, apenas a moral, a minha moral, ou seja, a única censura é o limite moral de cada um.”(depoimento de aluno do ensino médio CPII)

A libertação da palavra, ainda que presente, não se desprende totalmente dos padrões culturais estabelecidos e naturalizados. A tese de que a participação nas redes tende a democratizar ou criar uma nova forma de participação pública, parece contradizer a

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