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Bruxaria Oráculos e Magia Evans Pritchard - Resenha Crítica

Por:   •  2/8/2018  •  Resenha  •  1.433 Palavras (6 Páginas)  •  336 Visualizações

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TEORIA E MÉTODO EM ANTROPOLOGIA

RESENHA CRÍTICA – BRUXARIA, ORÁCULOS E MAGIA ENTRE OS AZANDE de E. E. Evans Pritchard

O livro etnográfico lançado por Evans Pritchard no ano de 1937 foi um grande ponto de mudança para a atropologia social conhecida até então e, principalmente, para a elaboração de um novo método para observação de campo. Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande é considerado a primeira contribuição antropológica para a sociologia do conhecimento através de um novo ponto de observação: o relativista, ou neutro. O autor acreditava que o principal desafio do antropólogo era a questão de “traduzir” o pensamento de culturas consideradas “exóticas” , encontrar uma forma de entendê-la e por fim transmití-la as pessoas de forma que a cultura original não se perca. Desse modo é que alguns autores costumam chamar de “Antropologia Relativista”.

“Na ciência, assim como na vida, só se acha o que se procura. Não se pode ter as respostas quando não se sabe quais são as perguntas. Por conseguinte, a primeira exigência para que se possa realizar uma pesquisa de campo é um treinamento rigoroso em teoria antropológica, que dê as condições de saber o quê e como observar, e o que é teoricamente significativo. É essencial perceberbos que os fatos em si não têm significado. (...) É preciso saber exatamente o que se quer saber.” (Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande – Introdução)

Como um bom professor teórico, E. Prichard enfatiza em sua etnografia a importância da formação acadêmica e também a importância de um método claro de pesquisa. No caso de seu livro, logo no início o autor já define seu método de observação participante e técnicas de entrevista com seus informantes, apesar de ainda não ter definido muito bem o que se queria encontrar. Como vimos nas aulas de Teoria e Método da Universidade, a antropologia é uma ciência da observação que é sujeitada ao sujeito. Não é uma ciência exata e por isso o resultado da análise não depende totalmente e apenas da observação. O processo de observação e interpretação é dependente mutuamente um do outro. Nunca se sabe exatamente o que se vai encontrar no campo, pois segundo a autora Teresa Pires, a narrativa se faz no momento de fazê-la (não é dada), e ela vai se construindo ao longo do campo e da coleta de entrevistas. Baseado nos autores que estudamos em aula, conseguimos fazer uma resenha crítica em relação ao livro de Evans Pritchard e a partir disso ressaltar alguns pontos importantes que contribuíram muito para a Antropologia Social que conhecemos hoje.

Em seu livro Relativizando – Uma Introdução à Antropologia Social, o autor Roberto da Matta escreve um capítulo sobre O Trabalho de Campo na Antropologia Social, onde podemos fazer alguns paralelos com a experiência de campo vivida por Evans Pritchard. Da Matta faz um apanhado da história da Antropologia, mais especificamente na virada do século XX, onde os antropólogos começarama a abandonar a portura evolucionista de interpretação das culturas para um método mais empiricista, como a Antropologia Social. Os estudos a partir daí se tornaram mais profundos pois a vivência longa e profunda do outro dá a percepção de um conjunto social dos nativos como um sistema, ou seja, cria-se a definição de sociedade como “um conjunto coerente consigo mesmo”, derrubando toda a teoria de que existiam povos “primitivos” e povos “modernos”. Tendo coerência em si mesma, as sociedades ditas primitivas ganharam um novo olhar, e assim puderam começar a ser estudadas do ponto de vista delas mesmas, com características avançadas e complexas também. A partir daí a antropologia começa a pensar as diferenças como forma de sistemas interligados (uma interpretação das diferenças) , aplicando o que se aprende na universidade dentro do seu trabalho de campo e criando uma dialética da experiência concreta com a teoria. Foi nesse sentido que Pritchard inicia sua jornada de campo com os Azande, se propondo a se imergir profundamente nessa cultura e poder trazer suas peculiaridades aos olhos ocidentais.

Nesse sentido, Da Matta propõe analizarmos o trabalho de campo como um Rito de Passagem. Nesse sentido, o rito se inicia com a “morte” do antropólogo; Pritchard sai de seu conforto na Europa imerge na cultura dos povos do Sudão e Zaire para estudar sociedades africanas que baseiam toda uma sociedade em oráculos, bruxarias, ervas e rituais. Com isso, o etnógrafo é retirado da sua sociedade e se coloca em isolamento total, habitando e vivendo como um Azande. O problema que ocorre, segundo Da Matta é a liminaridade, ou seja, a permanência em campo. Aqui, segundo o autor, ocorre o desenraizamento: a pessoa agora não faz parte da sociedade estudada, tampouco pertence àquela que veio, pois sua visão de mundo já é outra e ocorre uma viagem ritual. Um grande exemplo disso é quando Pritchard relata que em uma das noites vividas no campo, a visão de uma luz muito brilhante entrando na cabada de um homem na aldeia, que por coincidência (ou não) amanhecera morto no dia seguinte. Ao viver diariamente os costumes e crenças dos Azande, Pritchard também “enxerga” a bruxaria diante de seus olhos. Aí ocorre a liminaridade, onde o antropólogo reflete as ambivalências de um estado existencial onde não se está nem numa sociedade nem outra, e sua vivência no mundo ocidental já não correspondia

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