CONCEITO DE CULTURA E O MÉTODO DE PESQUISA ETNOGRÁFICO

CONCEITO DE CULTURA E O MÉTODO DE PESQUISA ETNOGRÁFICO

O estudo aprofundado do homem na sociedade é feito desde a Antiguidade Clássica, mas somente no século XVIII que a Antropologia se apresenta como ciência social, já que houve o aprimoramento de métodos. Para estudar o ser humano e suas diversas manifestações culturais é necessário que haja integração de tudo que reflete as varias dimensões biológicas, culturais e sociais, e são essas as principais áreas a serem estudadas na Antropologia.

Edward Taylor, em sua obra Primitive Culture de 1871, definiu cultura anteriormente como um fenômeno natural que possui causas e regularidades, logo ela seria sistemática, tornando possível a formulação de leis sobre esse processo e a evolução. Ele defendia também a igualdade da natureza humana, onde seria possível realizar uma comparação das raças no mesmo grau de civilização. Taylor se preocupa mais com a igualdade na humanidade do que com a diversidade de culturas existentes, para ele a desigualdade proveniente do processo de evolução é a diversidade. Mas, embora a cultura tenha sua origem na satisfação de necessidades biológicas, que são inerentes à todos os seres humanos, sua verdadeira natureza transforma o homem em algo essencialmente diferente de um simples animal.

A cultura pode ser considerada a herança social da humanidade, mas o seu conceito esta sempre em desenvolvimento já que é perpassada por varias influencias, maneiras de pensar e gerações ao decorrer do tempo ( isso é completamente inerente ao desenvolvimento humano, pois o ser humano necessita dela para produção e reprodução de suas ideologias, e ideologia não mobiliza somente conhecimento, mas sim um conjunto de normas e valores). Cultura na antropologia pode ser compreendida como totalidade dos padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano ao decorrer dos anos.

A etnografia é inerente a qualquer aspecto da antropologia cultural, já que ela descreve a cultura, raça, hábitos, língua, etc. dos povos em forma de estudo, mais do que isso também, ela fala sobre as manifestações materiais das atividades desses povos. Ao fazer isso, ela descreve e dissemina no mundo as tradições de uma sociedade que são passadas de geração em geração e faz com que permita a continuidade desses povos. A pesquisa etnográfica terá por base referencias antropológicas, já que o pesquisador tem que descrever o que, na sua visão, ou seja, na sua interpretação, está ocorrendo no contexto pesquisado. A Antropologia tem alterado as percepções dos indivíduos sob a sociedade desde que tem sido aprimorada as formas de se realizar a etnografia.

Ao analisarmos as obras de dois autores é nítida essa constatação, esses estudos são: ‘‘Argonautas do Pacífico Ocidental’’ de Bronislaw Malinowski , de 1922 e “ Cultura: um conceito antropológico” de Roque Barros de Laraia. Os dois antropólogos constatam em suas obras que o comportamento dos indivíduos na sociedade também se dão a partir de seus hábitos e do meio onde estão inseridos. Laraia em sua obra fala sobre a relação dos estudiosos com os povos a serem estudados, e ele se mostra preocupado, visto que uma etnografia bem feita sabe da teoria cientifica e de sua atualização ao longo do tempo e não se baseia somente com ideias preconcebidas dos estudiosos sobre os povos estudados, para ele todos os homens possuem a mesma natureza, sendo separados pelos seus hábitos, ou seja, as diferenças genéticas/somáticas não determinam diferenças culturais. Laraia também refuta o determinismo geográfico, que hipoteticamente influenciaria a cultura dos povos, por se encontrarem em espaços físicos diferentes, visto que é possível existir diversidade cultural no mesmo ambiente físico. Como exemplo dessas refuta temos os Esquimós e os Lapões, que vivem em condições climáticas muito semelhantes, mas se comportam, e vivem de formas diferentes. Para o autor é preciso desvincular nossos próprios conceitos para compreendermos os costumes alheios. Sendo a cultura algo intrínseco ao ser humano, já que não existe nenhum ser humano sem cultura, logo ela pode se desenvolver das mais variadas formas possíveis em qualquer lugar do mundo, assim como elas podem ser muito semelhantes em qualquer lugar também, ou época. Laraia refuta o determinismo biológico e geográfico. É importante lembrar que a participação do individuo em sua cultura é limitada, não existe a possibilidade de participar de todos os elementos culturais, visto que somos indivíduos únicos, e outros fatores influenciam, tais como idade, gênero, etc.

Ate o fim do século XIX, a antropologia era feita a partir da comparação e recorrência de relatos e descrições de viajantes e administradores coloniais, ou seja, eles produziam conhecimento sem estar em contato direto com a cultura em questão. Não havia métodos ou técnicas para a pesquisa de campo, o que significa inconsistência do ponto de vista cientifico. Essa era a conhecida ‘‘antropologia de gabinete’’. Malinowski tem o mérito de ser conhecido pela sua contribuição ‘rigorosa’ para se fazer uma boa etnografia. Em sua obra ‘‘Argonautas do Pacifico Ocidental’’ ele fala de seu longo período ao lado dos nativos que conviveu em aldeias, afastado do maior convívio com homens brancos ele aprendeu a língua nativa e desenvolveu um novo método de pesquisa etnográfica, chamado hoje em dia de observação/participante. Consiste basicamente em não substituir os chamados informantes, mas sim substituí-los, em grande parte, por uma observação direta, que somente seria possível com a convivência diária, pleno entendimento do que os nativos estavam falando e participando dos acontecimentos da vida da aldeia. A partir de Malinowski a pesquisa social adquire um caráter mais envolvente, visto que as partes dela agora possuem um novo tipo de relação: o pesquisador passa a participar diretamente daquele cotidiano do qual ele quer escrever, ou seja, é a ‘antropologia participante’.

‘‘...o objectivo do trabalho de campo etnográfico deve ser alcançado através de três vias:

1) A organização da tribo e a anatomia

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