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Ciencias Sociais E Cultura

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Por:   •  15/4/2013  •  5.547 Palavras (23 Páginas)  •  574 Visualizações

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O artigo analisa a constituição histórica da cultura como objeto nas

ciências sociais, em termos de cultura popular, cultura nacional e cultura de

massa. Compara os processos de institucionalização da sociologia segundo

seus diferentes contextos nacionais ou regionais, abordando os modos como

a disciplina torna-se autônoma por meio da especialização de tarefas em concorrência

com outras disciplinas. A retomada da unidade interpretativa e uma

revisão conceitual para a abordagem dos "objetos globais" são definidos como

os principais desafios para a sociologia na atualidade.

Professor do Departamento

de Sociologia

do IFCH-UNICAMP

20

ORTIZ, Renato. As ciências sociais e a cultura. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 14(1): 19-32, maio de 2002.

1996; Williams, 1983). Os termos culto e cultivado traduzem bem esta associação

revelando as características de “superioridade” do mundo artístico em

relação a outros domínios da sociedade. Uma forma de se perceber isso encontra-

se na dicotomia cunhada pelos pensadores alemães: Kultur versus civilização.

A Kultur corresponderia à esfera mais “elevada” da razão e do espírito;

nela o indivíduo, o “ser humano”, se realizaria por inteiro (cf. Elias,

1990). Caberia à civilização contentar-se com o lado material, industrial, técnico,

portanto, “menor” das sociedades modernas. Existiria pois uma contradição

insuperável entre essas duas dimensões antagônicas da vida. Durante o

século XX, um conjunto de análises irá fundar uma nova especialidade, a Sociologia

da Cultura, que basicamente se confunde com a “alta cultura” (penso

nos trabalhos de Lucien Goldmann e de Levin Schucking). A literatura e a

pintura desfrutam assim de um estatuto privilegiado, transformando-se em

padrão de avaliação, de mensuração, das outras expressões culturais existentes.

Dito de outra forma, a esfera artística não constitui simplesmente um universo

autônomo, ela é alçada à posição de parâmetro ideal na compreensão de

toda qualquer manifestação cultural (cf. Lowenthal, 1984). Um exemplo, o

debate sobre o surgimento da cultura de massa nos Estados Unidos (anos 40 e

50). Nele, a Arte é o divisor de águas das opiniões conflitantes, ela é referência

obrigatória, ao ser criticada como elitista (pelos autores liberais vinculados

à idéia de democracia de massa e ao mercado), ou idealizada como derradeiro

refúgio da liberdade espiritual (os frankfurtianos) (cf. Jacobs, 1964;

Horkheimer, 1941).

Duas outras disciplinas se dedicam ainda à problemática cultural:

a História, com os estudos das civilizações, e a Antropologia, voltada

para as sociedades indígenas. Civilização tem no entanto um outro significado;

já não mais se contrapõe à Kultur, enquanto expressão da Arte e do Espírito,

mas encerra um conjunto de valores modais constitutivos da identidade

dos povos. Fernand Braudel observa que o termo, conjugado no singular na

idade das Luzes, com a entrada no século XIX se pluraliza(cf. Braudel, 1991).

Fala-se assim da civilização de Atenas, francesa, islâmica; elas seriam formadas

por um conjunto de caracteres específicos a um grupo social vivendo numa

determinada época. A proposta de Alfred Weber pode ser tomada como exemplar,

pois condensa uma série de considerações que se fazem sobre as diversas

civilizações que teriam composto a história da humanidade (cf. Weber, 1991).

Cada uma delas representaria assim uma cultura modal, ocuparia uma área

geográfica delimitada e moldaria das relações sociais ao seu destino histórico.

É dentro dessa perspectiva que Spengler escreve A decadência do ocidente e

Toynbee se dedica à composição de sua obra monumental sobre o significado

das civilizações passadas e contemporâneas (tendência que se revigora hoje,

com a globalização) (cf. Spengler, 1964; Toynbee, 1970/71). A Antropologia,

por sua vez, também se dedica à problemática cultural com os trabalhos

de Tylor, Malinowsky, Radcliffe-Brown. O emprego do termo cultura se associa

assim ao estudo dos povos “primitivos” em contraposição ao de civili21

ORTIZ, Renato. As ciências sociais e a cultura. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 14(1): 19-32, maio de 2002.

zação, aplicado pelos historiadores às sociedades ditas “evoluídas”. Com o

culturalismo norte-americano, um passo a mais é dado, pois alguns autores

irão propor a existência de uma Teoria da Cultura, matriz abrangente capaz de

abarcar as expressões de todas as sociedades humanas. Cultura significaria

nesse caso uma totalidade que abrangeria dos artefatos materiais aos universos

simbólicos.

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