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Contradições do Partido Peronista Feminino

Por:   •  12/11/2017  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.865 Palavras (8 Páginas)  •  182 Visualizações

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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

FACULDADE DE GESTÃO E NEGÓCIOS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CAROLINE COCENZA

AS CONTRADIÇÕES DO PARTIDO PERONISTA FEMININO NA ARGENTINA

PIRACICABA/SP

2017

A participação democrática é o principal meio que permite que os interesses das mulheres estejam representados e tenham legitimidade social e uma resposta política sustentável. A luta pela presença feminina nos postos de tomadas de decisões ultrapassa o objetivo de garantir qualidade para as democracias, mas, também, se concretiza como tentativa de romper com barreiras sociais e estruturais construídas ao longo da história da humanidade. As desigualdades encontradas na representação política dos gêneros constituem sérios entraves para a vitalidade das democracias contemporâneas, limitando e condicionando o avanço da promoção da igualdade de gênero em outras áreas da vida social. Portanto, não se trata apenas de eleger representantes de um grupo minoritário, e, sim de abrir espaços nos quais vozes que estão às margens da estrutura social possam ser ouvidas (OLIVEIRA, 2015).

Em se tratando de América Latina, a situação das mulheres não é diferente do cenário mundial. A maioria dos países dessa região não conseguiu nos últimos anos atingir um número considerável de mulheres nos cargos políticos nacionais. Esse cenário de desigualdade se apresenta como uma contradição diante dos últimos anos da história latino-americana de países com maiores desenvolvimentos socioeconômico e consolidação de regimes democráticos. Deste modo, a América Latina se torna interessante objeto de observação, pois, apresenta um panorama paradoxal (IBID, p.10), ou seja, ao mesmo tempo em que se desenvolve e diminui algumas barreiras, por outro lado, ainda persistem grandes quadros de desigualdades (OLIVEIRA, 2015).

A conquista do direito ao voto das mulheres argentinas chegou tarde: somente em 1947, após a posse de Juan Domingo Perón, em 1946. Em comparação, o Equador já havia concedido essa permissão desde 1929. A primeira-dama Eva Perón, em 26 de julho de 1949, fundou o Partido Peronista Feminino (PPF), uma organização política composta por mulheres, com estrutura e células operacionais próprias. A ideia primordial de integrar as mulheres no ambiente político era ter o grande contingente da mulher argentina votando nas eleições que seriam realizadas dois anos depois, com Evita concorrendo como vice-presidente na chapa do marido, mas a oposição dos militares acabou com esse plano. As feministas argentinas desse período, por exemplo, afirmavam que só votariam caso o direito ao voto fosse concedido durante um governo constitucional, e isso significava a perda de um número considerável de votos. No dia 11 de novembro de 1951, a mulher argentina vota pela primeira vez, e o Partido Comunista tem em sua chapa uma mulher como vice. Com o apoio das mulheres, Perón é reeleito com uma diferença de mais de um milhão e oitocentos mil votos sobre o segundo colocado. Ao Congresso foram eleitas 6 senadoras e 23 deputadas peronistas, demostrando a força política de Evita Perón, que morreria de câncer no dia 26 de julho de 1952, aos 33 anos de idade (RIBEIRO, 2002).

“El partido femenino que yo dirijo en mi país está vinculado lógicamente al movimiento Peronista pero es independiente como partido del que integran los hombres... Así como los obreros sólo pudieron salvarse por sí mismos y así como siempre he dicho, repitiéndolo a Perón, que "solamente los humildes salvarán a los humildes", también pienso que únicamente las mujeres serán la salvación de las mujeres. Allí está la causa de mi decisión de organizar el partido femenino fuera de la organización política de los hombres peronistas. Nos une totalmente el Líder, único e indiscutido para todos. Nos unen los grandes objetivos de la doctrina y del movimiento Peronista. Pero nos separa una sola cosa: nosotras tenemos un objetivo nuestro que es redimir a la mujer” (PERÓN, 1949).

        Para saber quantas mulheres apoiavam o governo peronista, foi realizado um grande censo sob o lema “quantas somos e onde estamos”. As encarregadas de realizarem essa pesquisa (nomeadas delegadas censistas) foram 23 mulheres, previamente selecionadas por Evita, e poderiam escolher outras mulheres (chamadas de subdelegadas censistas) para realizarem este mesmo censo em distritos ou bairros. As subdelegadas censistas deveriam fornecer todas as informações sobre suas famílias, ter terminado no mínimo a escola primária, ser simpáticas, deixar de lado qualquer ambição pessoal (já que o interesse não era individual e sim coletivo) e, por fim, segundo Barry (2009), era preciso que tivessem qualidades “morais e peronistas”. Essa prática de levar o PPF por regiões fez com que o partido se difundisse pelo país todo. A ausência masculina tinha duas finalidades: resguardar a moral das mulheres, já que não seria bem visto que as mesmas participassem de reuniões com homens, e, segundo afirmava Evita, as mulheres poderiam ser influenciadas e adquirir o comportamento que eles tinham no meio político.

É possível situar Eva, ao  lado  de  Perón,  como  uma  das  principais  transmissoras do discurso peronista; ela conferiria legitimidade a esse discurso ao expô-lo como originário do domínio feminino e não de fora dele, fazendo-o parecer  como  convergente  para  necessidades  e  demandas do gênero feminino. Também, o fato de as mulheres terem Eva Perón como sua interlocutora converte-as em sujeitos da ideologia peronista, favorecendo a recepção  daquele  discurso.  Nessa argumentação,  é  perceptível  a  precaução  com  a adesão de grande número de mulheres  ao  peronismo,  como  resultante  do  bem  sucedido  esquema  de  controle  daquele  governo  posto  no  aparato  discursivo  e  que  culminaria  com  a criação do Partido Peronista Feminino (SOIHET; COSTA, 2011).

Entretanto, embora a programação do PPF estabelecesse para as mulheres direitos iguais aos homens, além de especificar a liberação feminina como um dos postulados chave, na verdade os membros femininos não foram encorajados a assumir posições de liderança, já que predominava a ideia de uma identidade feminina essencialista. Esperava-se das mulheres “um espírito de sacrifício e renúncia”, virtude “natural” nas mulheres de acordo com o discurso peronista, o que se contrapunha àquelas disposições programáticas, em nada contribuindo para o desenvolvimento de sua consciência de gênero (SOIHET, 2012). Além disso, Evita também afirmava verbalmente que as mulheres deveriam ter um comportamento ‘calmo e obediente’. Ou seja, o partido incentivava a participação feminina no processo democrático, de forma a promover maior harmonização política, mas não incitava a liderança do sexo feminino em papeis de destaque; ao invés disso, encorajava uma ‘liberdade dentro dos limites’. Eram incentivados programas de atividades culturais, corte e costura, bordado, culinária e pedagogia. Ou seja, quase uma extensão da maternidade e dos papeis considerados femininos em âmbito público. Eva Perón afirma em um de seus discursos,

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