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Métodos e Técnicas de Investigação em Antropologia

Por:   •  20/1/2019  •  Trabalho acadêmico  •  12.710 Palavras (51 Páginas)  •  1.592 Visualizações

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Desenho ou design de investigação

Métodos e Técnicas de investigação em Antropologia

José da Silva Ribeiro

Os objectivos deste capítulo são os seguintes:

  • Expor diferentes atitudes dos antropólogos acerca do design de investigação em Antropologia e razões dessa diversidade de atitudes;
  • Descrever as actividades do design de investigação... (características);
  • Fornecer aos estudantes instrumentos intelectuais que lhes permitam conhecer as diferentes etapas do processo de pesquisa: da preparação à apresentação dos resultados;
  • Adquirir a prática de escolha e elaboração do design de um projecto de investigação em Antropologia (passos);
  • Situar-se no contexto dessas atitudes em relação ao design de investigação justificando esta escolha;
  • Definir design de investigação e enumerar e descrever as actividades que envolve;
  • Desenvolver o design de um projecto de investigação;

Sumário

1. Introdução – formalização do problema ou da questão a tratar

2. O que é o design de investigação

3. Elaboração do design de investigação

3.1. Definição de uma problemática geral ou de um objecto (sujeito) de estudo

3.2. Objectivos de investigação

3.2. Decidir o que investigar / identificação do problema

3.3. Contactos com o terreno durante a preparação do projecto de investigação. A importância da colaboração dos sujeitos no terreno

3.4. Decidir o que investigar / identificação local do problema

3.5. Donde podem proceder então as questões da investigação?

4. Desenvolver o problema de investigação / Elaborar questões de investigação

4.1. Questões básicas

4.2. O que investigar?

4.3. Porquê investigar?

4.4. Onde investigar?

4.5. Com quem investigar?

4.6. Quem investigar?

4.7. Quando investigar?

4.8. Como investigar?

5. Visibilidade ou exequibilidade da investigação

6. Avaliação dos projectos de investigação

7. Bibliografia e leituras complementares

1. Introdução – formalização do problema ou da questão a tratar

Parte-se por vezes da ideia de que a investigação em antropologia ou a “condução da etnografia é uma actividade relativamente simples: aparentemente «qualquer pessoa a pode fazer»” (Hammersley e Atkinson, 1994), não precisa pois de ser planificada, quase não necessita de preparação ou de conhecimentos prévios. Alguns autores, nas suas obras, dão tão pouca informação sobre a investigação quanto a que tiveram na preparação do trabalho de campo. No ensino, limitam-se a dizer “vê e faz assim”. Esta ideia está associada ao naturalismo, isto é, à ideia de que a etnografia consiste numa observação e descrição espontânea (“aberta”, “natural”, não “artificial”) de modo que o “design de investigação” aparece como algo supérfluo. As diversas tradições teóricas prestam atenções diferentes em relação à preparação da investigação.

É surpreendente a escassez de detalhes acerca dos métodos que os antropólogos usavam no terreno, à parte alguns princípios e histórias ilustrativas. Notava-se uma forte crença, entre os antropólogos britânicos, que o trabalho de terreno não podia ser ensinado aos novos recrutas, mas que apenas podia ser experimentado no terreno. Os textos tradicionais americanos providenciavam um corpo de elementos de suporte, enquanto que os ingleses apontavam para a experiência subjectiva.

Urry, 1984: 61

Outros autores consideram que a investigação embora seja simples é demasiado pessoal. Uma arte dificilmente transmissível (Evans-Pritchard, 1962, Peter Woods, 1987). Uma prática que se constitui pelo inesperado e por respostas originais do investigador. O escasso conhecimento prévio do problema e do terreno não permite que a investigação seja totalmente desenhada, numa fase anterior ao trabalho de campo.

Penso que apenas alguém totalmente imerso no trabalho de terreno pode realmente comunicar a essência da antropologia cultural aos estudantes ou aos leitores em geral. E, já que disse que a investigação sobre cultura envolve o antropólogo numa experiência pessoal única, assumi ser provavelmente impossível realizar uma apresentação rigorosa, sistemática e formal em que os métodos de um estudo cultural sejam semelhantes aos das ciências naturais e que há demasiadas preocupações entre sociólogos, psicólogos e economistas. Penso que esta atitude é confortável, porque estou convicto de que, se as preocupações teóricas num estudo cultural são uma tentativa para lembrar e compreender a visão nativa da sua própria cultura e as relações culturais, objectivas e históricas, então os métodos de trabalho de terreno têm que reflectir o propósito final de fazer parte da experiência humana.

Williams, 1976: 64-65.

Uma outra hipótese formulada é a de que a investigação é sempre complexa mas sujeita a uma tal imprevisibilidade que não é possível proceder-se a qualquer tipo de planeamento. Trata-se sobretudo de uma abordagem exploratória usada para desenvolver hipóteses e, de um modo mais geral, para detectar provas de definição, circunscrição, descrição e interpretação de tópicos menos compreensíveis. Aproximam-se da ideia de "teoria baseada no terreno" em que a descrição exploratória leva ao desenvolvimento de teorias e medidas significativas.

LeVine (1973) e outros (Johnson 1990) entendem que a natureza do trabalho de campo, requerendo um grande investimento de tempo e deslocação geográfica, limitou frequentemente o atractivo de designs da investigação mais formais, porque circunscreve o estudo a problemas específicos e a desenvolvê-los de um modo específico. As realidades do trabalho de terreno frequentemente ditam necessidades de mudar o foco do problema, ou levam a detectar que a hipótese proposta não é apropriada à cultura em estudo, dada a necessidade de, de algum modo, salvar a investigação.

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