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Resenha - Teoria na Antropologia Desde os Anos 60 - Sherry B. Ortner

Por:   •  24/7/2019  •  Resenha  •  1.496 Palavras (6 Páginas)  •  2.181 Visualizações

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Resenha: Teoria na antropologia desde os anos 60 - Sherry B. Ortner

Nesta obra Sherry Ortner busca situar o leitor acerca do campo da Antropologia e das várias teorias desenvolvidas a partir da década de 1960. Começando pela antropologia simbólica, passando pela ecologia cultural, estruturalismo, marxismo cultural, economia política e finalmente a teoria prática, onde o campo da Antropologia se situaria a partir dos anos 80.

Ao caminhar pelas diversas escolas teóricas, faz um breve apanhado acerca do surgimento destas, seus pensadores mais importantes, seus pontos positivos e relevantes, assim como as críticas que receberam e as debilidades que apresentam, relacionando-as.

Inicia tecendo uma crítica geral ao campo da antropologia, que estaria fragmentado, com cada grupo dedicando-se a estudar apenas o que lhes interessa sem dialogar com outras subáreas. Afirma que antropologia nunca foi unificada, entretanto, houve momentos nos quais existiam “grandes categorias de filiação teórica, um conjunto de campos ou escolas identificáveis, e alguns epítetos simples que se podia lançar nos oponentes.”

No momento da escrita desta obra, Ortner sentia que a antropologia passava por um momento de liminaridade, e que esses momentos se caracterizavam por períodos que antecediam o estabelecimento de uma nova ordem, muitas vezes superior à anterior.

Argumentou que novo símbolo-chave de uma orientação teórica estava surgindo, a qual chamou de “prática”. Ponderou que não se tratava nem de uma teoria, nem de um método, mas, de um símbolo por meio do qual diversos métodos e teorias estavam sendo desenvolvidos.

Esclarece que a discussão apresentada no texto parte do seu ponto de vista enquanto ator que acompanhou o desenrolar da antropologia a partir de 1960 até o momento da escrita desta obra.

A partir dos anos 60 surgem três movimentos: antropologia simbólica, a ecologia cultural, e o estruturalismo. A antropologia simbólica possui duas variantes principais, uma desenvolvida por Clifford Geerttz na Universidade de Chicago e outra por Victor Turner, em Cornell.

 Geertz era influenciado por Max Weber. A principal mudança teórica trazida por ele foi argumentar que a cultura não é algo que existe somente na cabeça das pessoas, mas é incorporada em símbolos públicos, por meio dos quais os indivíduos de uma sociedade expressam sua visão de mundo, valores, emoções. O interesse da Escola de Chicago pelos símbolos não consistia nos símbolos em si, não buscava distinguir ou catalogar as variedades de tipos simbólicos, se interessavam pela maneira que os símbolos orientam a maneira que os indivíduos veem , sentem e pensam sobre o mundo , ou seja como os símbolos agem como um meio de transmitir “cultura”. Geertz se interessava mais pela dimensão afetiva da cultura, do que pela cognitiva. Outro aporte de Geertz para a antropologia foi insistir em estudar a cultura através do ponto de vista do sujeito.

Victor Turner, por sua vez, foi influenciado por Emile Durkheim. Não lhe interessava pensar os símbolos enquanto veículos de “cultura”, mas como operadores no processo social, capazes de produzir transformações sociais. Os símbolos nos rituais de cura ou de iniciação, por exemplo, são levados em conta com o objetivo de revelar a maneira pela qual eles possuem a capacidade de transportar os sujeitos de um estado a outro. Em sua produção acerca dos rituais, elaborou diversos conceitos fundamentais aos estudos do ritual, como por exemplo: comunnitas, antiestrutura, liminaridade, entre outros.

Os antropólogos da Escola de Chicago e os turnerianos não tiveram muitos embates entre si, visto que cada grupo operou, majoritariamente, sem fazer referência ao outro. Como limitações da antropologia simbólica, Ortner aponta para a “falta de uma sociologia sistemática; censo pouco desenvolvido do político na cultura; falta de curiosidade no que concerne à produção e à manutenção de sistemas simbólicos”.

Passando para a ecologia cultural, afirma que o movimento se caracterizou como um desenvolvimento do materialismo cultural de Leslie White, Julian Steward e V. Gordon Childe. White investigou o que foi chamado de “evolução geral” ou evolução da cultura-em-geral, através de diferentes estágios de complexidade social e avanço tecnológico. O crescimento tecnológico seria responsável pela evolução cultural. Esse pensamento apresenta a mudança “de dentro para fora”. A ecologia cultural apresenta uma nova perspectiva, atenta para a relação entre o interior e exterior, e concebe a mudança evolutiva como resultado da troca entre cultura e meio ambiente. Posteriormente, surgiu uma outra variante da ecologia cultural, que dominou a ala materialista na década de 1960. Baseada na teoria de sistemas, deslocou o enfoque analítico da evolução e passou a explicar a existência de partes específicas, de culturas específicas em termos das funções adaptativas ou de manutenção do sistema daquelas partes.

Houve conflitos entre ecologistas culturais e antropólogos simbólicos. Os primeiros acusavam os segundos de aplicarem uma interpretação subjetiva, pouco científica e inverificável; em contrapartida os simbólicos consideravam que a ecologia cultural estava envolvida com um cientificismo desatento e estéril.

Em seguida, Ortner trata acerca do estruturalismo. Afirma que foi o único paradigma verdadeiramente novo desenvolvido nos anos 60, uma invenção parcialmente individual de Lévi-Strauss. O estruturalismo opera buscando os conjuntos básicos de oposições que estão na base de algum fenômeno cultural complexo; mostrando que esse fenômeno é a expressão desses contrastes e sua reformulação. A contribuição duradoura do estruturalismo foi a noção de que uma pluralidade ou até uma aparente aleatoriedade pode possuir uma unicidade mais profunda, que deriva da atuação de um número reduzido de princípios subjacentes.  O estruturalismo não foi tão incorporado pela antropologia simbólica norte-americana, se aproximou mais de alguns antropólogos sociais britânicos, e nesse contexto sofreu diversas transformações importantes.

A partir da década de 1970, a Antropologia passou a se vincular de forma mais patente à eventos do mundo real, afetada pelos movimentos sociais radicais que emergiam na época. Surgiram duas escolas marxistas de teoria antropológica: o marxismo estrutural e a economia política.

O marxismo estrutural, através de Marx, intencionava repensar praticamente todas as teorias em voga na época: antropologia simbólica, ecologia cultural, antropologia social britânica e estruturalismo. O avanço do marxismo estrutural sobre as teorias materialistas que lhe precederam se constituiu em identificar as forças dominantes não no ambiente natural, ou na tecnologia, mas em determinadas estruturas de relações sociais. A colaboração mais importante do marxismo estrutural, de acordo com Ortner, foi ter trazido de volta uma sociologia relativamente poderosa. Por serem antropólogos, atentavam para questões como parentesco, casamento, organização doméstica, incluíam esses elementos ao pensar as relações políticas e econômicas, e conseguiam produzir imagens ricas e complexas do processo social em situações particulares. Como erro mais grave do marxismo estrutural, Ortner aponta que apesar de oferecerem um modo de “mediar os “níveis” materiais e ideológicos, não contestaram à própria noção de que esses níveis são distinguíveis analiticamente, em primeiro lugar”.

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