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Resumo Do Filme À Margem Da Imagem

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Por:   •  27/7/2014  •  2.400 Palavras (10 Páginas)  •  426 Visualizações

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À margem da imagem

Um esclarecimento. Segundo a assessoria da Mais Filmes, distribuidora de À margem da imagem (2002), documentário sobre a situação dos moradores de rua em São Paulo, a estréia já estava programada para 17 de setembro antes de vir a público o extermínio de sete desabrigados no centro da cidade, iniciado em meados de agosto e ainda não resolvido. Não se trata, portanto, de oportunismo.

Trata-se, sim, de pertinência. Numa época em que o público adere ao tipo de discurso panfletário de Michael Moore e Morgan Spurlock, o documentário de Evaldo Mocarzel, premiado em diversas mostras em 2002, chega para polemizar, para promover o tal "choque de realidade". Afinal, parece muito fácil e reconfortante demonizar umGeorge W. Bush ou um Ronald McDonald. Mas quem vai ao cinema para ver mendigos, esses párias sociais que viramos a cara para não encarar nas ruas e que, de certo modo, toda a sociedade mata um pouco a cada dia?

À margem da imagem não apenas dá voz a esses seres coisificados como discute a apropriação da sua imagem pela mídia. Disso trata o título do filme: os moradores de rua vivem à margem do retrato que deles é feito em telejornais, ensaios de fotografia. Seja complacente, seja perverso, esse olhar superior tira toda a humanidade daquele mendigo e suga só a tal imagem.

Também um jornalista e dramaturgo, Mocarzel não pretende flertar com a utopia de resolver o caos social. Contenta-se em conversar com os seus entrevistados, conhecer as suas tragédias e (por quê não?) discutir com eles temas contundentes. Descobrir que doentes encardidos são pessoas esclarecidas com opiniões consistentes é a primeira de muitas surpresas do filme. Saber que outras tantas pessoas administram, na raça, abrigos e centros de educação, também.

Uma vez que questiona a apropriação da imagem, Mocarzel não poderia omitir o cinema. Assim, para assumir as suas próprias limitações, ele desnuda o ofício de modo ostensivo. Enquanto uma câmera enquadra o desabrigado, outra mostra o valor simbólico pago para que acontecesse o depoimento. No fim, o máximo da autocrítica: os mendigos entrevistados são convidados a assistir ao filme. Muitos se deslumbram, mas não é raro ouvir críticas. Um deles o faz veementemente: "Hoje estou aqui, na tela, mas amanhã volto a ser o mendigo que a madame evita atender no portão; você deveria mostrar isso".

Com o seu posicionamento duro, desglamourizado, À margem da imagem é um filme que faz mal. Dá vontade de virar a Rosa Púrpura do Cairo, entrar num filme de fantasia e nunca mais voltar à rua. Mas não por isso deixa de ser altamente recomendável.

À Margem da Imagem enfoca o dia-a-dia de uma série de moradores de rua de São Paulo, mostrando temas como exclusão social, desemprego, alcoolismo, loucura, religiosidade, espaços públicos contemporâneos, degradação urbana, identidade, cidadania e, como já adianta o próprio título do documentário, a utilização por parte da mídia da imagem destes sem-teto.

Trata-se de um tema polêmico, controverso em si mesmo: quando a mídia explora a imagem da miséria em telejornais, documentários, reportagens, etc., as pessoas ali focalizadas não deveriam ganhar uma espécie de "direito de imagem", como jogadores de futebol quando seus jogos são transmitidos pela TV? Estas e outras questões são levantadas pelo filme dirigido por Evaldo Mocarzel, jornalista que, pelo menos momentaneamente, deixou as redações em segundo plano e vem construindo uma bem sucedida carreira de cineasta. Seu novo documentário, Mensageiras da Luz já está pronto e será, inclusive, exibido o Festival do Rio deste ano. Espera-se que não fique mais dois anos na prateleira antes de conseguir ser exibido em circuito.

Cascavel é um dos mais curiosos. Um senhor negro, cadeirante, que fala tão veloz quanto seu pensamento. Dono de coragem e certezas contundentes, Cascavel vive sua existência em um pequeno casebre montado debaixo de uma ponte, o máximo que conseguiu para chamar de casa. Em outro momento, igualmente curioso, conhecemos um senhor aparentemente culto e letrado, mas que fora sugado por forças ocultas em sua antiga casa, o que o fez abandonar o lar e, desde então, vive na rua, carregando seu caderno de anotações.

Mocarzel deixa seus depoentes contarem suas histórias com liberdade, montando um interessante e triste mosaico de situações. Pessoas que deixaram sua terra natal para tentar a sorte em São Paulo e não conseguiram, crianças que cresceram em orfanatos e se viram sem moradia ao final do período de permanência, idosos que perderam toda a família e vagam pelas ruas. Essas e outras duras realidades são mostradas pelo documentarista em À Margem da Imagem.

Ao seu final, como já dito, os moradores de rua fazem suas críticas ao filme e enxergam alguns pontos cruciais que a plateia em geral talvez não percebesse. A fome que os flagela é pouco mostrada e o preconceito perante os cidadãos sem teto é apenas mencionado, porém nunca mostrado. Curiosamente, em seu início, o filme contém um depoimento de uma freira que revela a proibição por parte de uma moradora de rua em ser clicada pelo grande fotógrafo Sebastião Salgado, pois a exploração midiática dos moradores de rua já é demasiada o suficiente para outro vir e fazê-lo. De alguma forma, o que Mocarzel faz não é muito diferente do que Salgado tentava ao fotografá-los. E a inclusão deste depoimento só reforça o fato do cineasta entender isso e tentar utilizar seu filme para ajuda-los de alguma forma. Não se sabe o quanto isso aconteceu, visto que o documentário infelizmente não é o gênero mais popular entre o público brasileiro. Mas só o fato de dar voz a pessoas que talvez nunca tivessem suas histórias ouvidas, já é algo de muito positivo.

LONGE DE SEBASTIÃO SALGADO

A 29a Jornada Internacional de Cinema da Bahia terminou, no dia 11 de setembro, com um resultado até certo ponto esperado. O documentário À Margem da Imagem, de Evaldo Mocarzel, ganhou o Prêmio Glauber Rocha, de melhor filme da Jornada. No espaço de um mês, foi distinguido também com três prêmios no Festival Internacional de Curtas de São Paulo e a Margarida de Prata da CNBB na categoria de curta-metragem. Entrou, assim, para o rol dos documentários mais importantes da temporada.

Mas, como diriam os baianos, o que é que esse filme tem?

À Margem da Imagem circula nos festivais em duas versões. A primeira, de aproximadamente 50 minutos, apresentada no último É Tudo Verdade, é um documentário de boa qualidade, mas relativamente convencional, sobre moradores de rua da capital

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