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Uma Perspectiva antropológica da dança do ventre: teoria e métodos

Por:   •  3/12/2017  •  Pesquisas Acadêmicas  •  3.008 Palavras (13 Páginas)  •  269 Visualizações

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Uma perspectiva antropológica da dança do ventre: teoria e métodos

Alice Maria Almeida e Sá[1]

A proposta de um trabalho de investigação sobre a dança do ventre sob uma perspectiva da antropologia suscita algumas questões conceituais e metodológicas. Nesse sentido, o presente ensaio se materializa como contribuição conceitual e de métodos da disciplina Antropologia I, ministrada pela professora doutora Carmen Lucia Silva Lima e oferecida pelo Programa de Mestrado em Antropologia, da Universidade Federal do Piauí. 

O conceito de antropologia cultural e seus desdobramentos expostos por Franz Boas; o método da observação participante, de Bronislau Malinowski; bem como algumas colocações sobre técnicas corporais, de Marcel Mauss; são estudos aqui problematizados que foram apreendidos de maneira á contribuir na confecção de uma reflexão sobre a dança do ventre e seu diálogo com a antropologia.

Segundo Kaepler apud Camargo (1998), apesar dos estudos antropológicos aplicados á dança como uma linguagem universal terem tido início em 1960, a partir da publicação do artigo “Panorama of Dance Ethnology”, de Gertrude Prokosh Kurath, devemos a Franz Boas o pioneirismo do estudo em questão, por esse autor ter analisado a dança como um termo próprio da cultura de cada povo.

A dança do ventre, sob a perspectiva de Bencardini (2009) é vista como uma prática social historicamente constituída a partir de diferentes significados, consoantes com as características culturais do contexto em que se insere. Partindo desse pressuposto, podemos compreender a ampla aceitação ao redor do mundo dessa modalidade de dança advinda do Oriente, bem como suas modificações e significados atribuídos em cada cultura que a recepciona.

Considerando a dança um subcampo da arte, é relevante considerar para a pesquisa em desenvolvimento que, de acordo com Carvalho (2006), Boas é quem inaugura o campo da antropologia da arte, através de sua publicação intitulada “A arte primitiva”. Na obra em questão, Boas rompe com a noção ocidental de observar a arte puramente pelo viés da técnica e da estética.

É interessante notar que ainda que o título da obra contemple a arte primitiva, o autor não concebe uma diferenciação entre arte primitiva e não primitiva, considerando-se que todas as culturas produzem arte de posse de artifícios mentais equivalentes.

De acordo com Franz Boas as diferenças no desenvolvimento das artes em diferentes partes do planeta ocorrem no tocante às diferenciações nos estilos, visto que essas podem ocorrer também dentro de uma mesma cultura. Boas (2005) afirma que podemos encontrar na mesma cultura rupturas significativas nas atitudes de diferentes indivíduos e até mesmo no comportamento de um mesmo indivíduo.

De posse dessa afirmação, ressaltamos que um dos objetivos da pesquisa em desenvolvimento sobre a dança do ventre realizada no estado do Piauí é analisar as diferentes apropriações dessa modalidade artística pelas bailarinas, bem como suas motivações ao exercer a prática.

No trabalho intitulado Antropologia Cultural, Franz Boas (2005) defende que as formas, opiniões e ações da sociedade humana têm muitos traços fundamentais em comum, que existem leis governando o desenvolvimento da cultura humana e ressalta o seu empenho para descobri-las.  

Rompe com a ideia de que a antropologia não poderia fazer mais do que registrar curiosos costumes e crenças de povos estranhos ao tempo em que afirma um dos objetivos principais da antropologia como sendo

Descobrir os processos pelos quais certos estágios culturais se desenvolveram. Os costumes e as crenças, em si mesmos, não constituem a finalidade última da pesquisa. Queremos saber as razões pelas quais tais costumes e crenças existem – em outras palavras, desejamos descobrir história de seu desenvolvimento. (BOAS, 2005, p. 33)

Nesse sentido, outro objetivo da pesquisa sobre dança do ventre á ser ressaltado é analisar de que forma os processos de trocas e influências geradas entre piauienses e imigrantes árabes podem ter influenciado e popularizado a difusão da dança oriental no Estado. De modo que Boas afirma que

Pensamentos, instituições e atividades humanas podem se espalhar de uma unidade social para outra. Assim que dois grupos entram em contato estreito, seus traços culturais disseminam-se de um para o outro. (...) A interdependência dos fenômenos culturais deve ser um dos temas da pesquisa antropológica, cujo material pode ser obtido por meio do estudo das sociedades existentes. (BOAS, 2005, p. 98)

Já constatamos que houve uma corrente imigratória de árabes sírios e libaneses para o estado do Piauí entre o final do século XIX e meados do século XX, mas pretendemos descobrir como a história desses imigrantes pode ter influenciado o desenvolvimento da prática de uma modalidade de dança proveniente dessa cultura, aqui nessa pesquisa denominada dança do ventre.

De maneira que de acordo com Boas (2005, p.34-35) o estudo detalhado de costumes (...) propicia-nos quase sempre um meio de determinar com considerável precisão as causas históricas que levaram à formação dos costumes em questão e os processos psicológicos que atuaram em seu desenvolvimento. Essa afirmação ressalta a importância do método histórico da antropologia defendido por Boas pela importante função de descobrir os processos que levam ao desenvolvimento de certos costumes, bem como,

A investigação histórica deve ser o teste crítico demandado pela ciência antes que ela admita os fatos como evidências. A comparabilidade do material coletado precisa ser testada por esse meio, e cumpre exigir a uniformidade dos processos como prova de comparabilidade. Além disso, quando se pode comprovar que há uma conexão histórica entre dois fenômenos, estes não devem ser aceitos como evidências independentes. (BOAS,2005, p. 37)

Desse modo se legitima a pesquisa na busca das possíveis raízes históricas da dança do ventre no Piauí para a resolução de problemas tais como: teria sido essa prática uma tentativa de manutenção cultural pelos ascendentes árabes?  Ou esse interesse teria sido desencadeado pela mídia? Como tem se dado o processo de apropriação dessa prática?

O passo seguinte do ensaio é travar um dialogo com a possibilidade de um estudo da dança do ventre a partir do método da observação participante difundido por Bronislaw Malinowski a partir de sua experiência descrita na obra “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, de 1922, que constitui seu trabalho de campo nas ilhas Trobriand, quando inaugura o método da etnografia.  

Ao tempo em que Malinowski rompe com a “antropologia de gabinete”, método de análise antropológica de uma comunidade através de relatos de terceiros, foi ele o pesquisador que inaugurou o método da observação participante. Na introdução de “Argonautas” o autor coloca a observação participante como um método que torna possível diferenciar “[...] os resultados da observação direta e das declarações e interpretações nativas e, de outro, as inferências do autor, baseadas em seu próprio bom-senso e intuição psicológica”.

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