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XXI SÉCULO: UMA NOVA ERA DE FUNCIONAMENTO ESTRUTURAL DO TRABALHO?

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Por:   •  25/10/2014  •  Tese  •  2.053 Palavras (9 Páginas)  •  350 Visualizações

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SÉCULO XXI: NOVA ERA DA PRECARIZAÇÃO ESTRUTURAL DO TRABALHO?

RICARDO ANTUNES1

Nesta apresentação, vamos indicar três anotações que, articuladas, oferecem uma

leitura para alguns dos dilemas do trabalho neste século XXI.

I- UMA NOTA INICIAL SOBRE OS SENTIDOS DO TRABALHO:

ATIVIDADE VITAL OU FAZER COMPULSÓRIO I

Na longa história da atividade humana, em sua incessante luta pela sobrevivência,

pela conquista da dignidade, humanidade e felicidade social, o mundo do trabalho tem sido

vital. Sendo uma realização essencialmente humana, foi no trabalho que os indivíduos,

homens e mulheres, distinguiram-se das formas de vida dos animais. É célebre a distinção,

feita por Marx, entre o “pior arquiteto e a melhor abelha”: o primeiro concebe previamente

o trabalho que vai realizar, enquanto a abelha labora instintivamente. (Marx, 1971) Esse

fazer humano tornou a história do ser social uma realização monumental, rica e cheia de

caminhos e descaminhos, alternativas e desafios, avanços e recuos. E o trabalho converteu-

se em um momento de mediação sócio-metabólica entre o humanidade e natureza, ponto

1 Professor de Sociologia do Trabalho na UNICAMP e organizador de Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil (Boitempo). É autor, dentre outros livros, de Adeus ao Trabalho? (Ed. Cortez) e Os Sentidos do Trabalho (Ed. Boitempo), além de organizar a Coleção Mundo do Trabalho (Boitempo) e Trabalho e Emancipação (Ed. Expressão Popular).

Seminário Nacional de Saúde Mental e Trabalho - São Paulo, 28 e 29 de novembro de 2008

de partida para a constituição do ser social. Sem ele, a vida cotidiana não seria possível de

se reproduzir.

Mas, por outro lado, se a vida humana se resumisse exclusivamente ao trabalho,

seria a efetivação de um esforço penoso, aprisionando o ser social em uma única de suas

múltiplas dimensões. Se a vida humana necessita do trabalho humano e de seu potencial

emancipador, ela deve recusar o trabalho que aliena e infelicita o ser social.

Vamos, então, explorar um pouco esse traço que estampa a contradição presente no

processo de trabalho. Dissemos acima que o trabalho, em sua realização cotidiana,

possibilitou que o ser social se diferenciasse de todas as formas pré-humanas presentes, por

exemplo, nos animais. Os homens e mulheres que trabalham são dotados de consciência,

uma vez que concebem previamente o desenho e a forma que querem dar ao objeto do seu

trabalho. Foi por isso que Lukács afirmou que o "trabalho é um ato de por consciente e,

portanto, pressupõe um conhecimento concreto, ainda que jamais perfeito, de determinadas

finalidades e de determinados meios." (Lukács, 1978: 8). E outro grande autor, Gramsci,

acrescentou que em qualquer forma de trabalho, mesmo no trabalho mais manual, há

sempre uma clara dimensão intelectual.

Anteriormente, Marx havia demonstrado que o trabalho é fundamental na vida

humana porque é condição para sua existência social: "Como criador de valores de uso,

como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência do homem,

independentemente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de

mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, vida humana". (Marx, 1971:

50). E, ao mesmo tempo em que os indivíduos transformam a natureza externa, alteram

também a sua própria natureza humana, num processo de transformação recíproca que

Seminário Nacional de Saúde Mental e Trabalho - São Paulo, 28 e 29 de novembro de 2008

converte o trabalho social num elemento central do desenvolvimento da sociabilidade

humana.

Mas, se por um lado, podemos considerar o trabalho como um momento fundante

da vida humana‚ ponto de partida no processo de humanização, por outro lado, a sociedade

capitalista o transformou em trabalho assalariado, alienado, fetichizado. O que era uma

finalidade central do ser social converte-se em meio de subsistência. A força de trabalho

torna-se uma mercadoria, ainda que especial, cuja finalidade é criar novas mercadorias e

valorizar o capital. Converte-se em meio e não primeira necessidade de realização humana.

Por isso Marx vai afirmar, nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, que o

trabalhador decai a uma mercadoria, torna-se um ser estranho, um meio da sua existência

individual. O que deveria ser fonte de humanidade se converte desrealização do ser social,

alienação e estranhamento dos homens e mulheres que trabalham. E esse processo de

alienação do trabalho não se efetiva apenas no resultado na perda do objeto, do produto do

trabalho, mas também o próprio ato de produção, resultado da atividade produtiva já

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