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A Análise fílmica de Reassemblage (Trinh T. Minh-ha, 1981)

Por:   •  12/12/2023  •  Resenha  •  1.987 Palavras (8 Páginas)  •  54 Visualizações

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Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Artes

CS059 - Documentário: História, Teoria e Análise

Prof. Gilberto Alexandre Sobrinho

Vinicius Sanitate

RA 253615

Análise fílmica de Reassemblage (Trinh T. Minh-ha, 1981)

Reassemblage é um documentário antropológico que se propõe refletir sobre o campo de estudo da antropologia, assim como, as convenções do cinema etnográfico. Realizado pela cineasta Trinh T. Minh-ha, Reassemblage é um documentário filmado no Senegal, em 1981, que tem como tema central o Senegal, mas a autora não se coloca no lugar de antropóloga e nem pretende falar sobre o país, pelo contrário, sua posição é “ao lado”, para Minh-ha (1992), um falar que não objetifica e aponta para um objeto como se estivesse distante, um falar que reflete sobre si próprio, chegando muito perto de um assunto sem aprendê-lo ou reivindicá-lo.

Trinh T. Minh-ha nasceu em 1925 no Hanói, capital do Vietnã. Cineasta, escritora, teórica literária, compositora e professora, começou sua carreira acadêmica ainda no Vietnã, no Conservatório Nacional de Música e Teatro de Saigon, onde estudou piano e composição musical. Em 1970, Trinh migrou para os Estados Unidos, onde estudou composição musical, etnomusicologia e literatura francesa na Universidade de Illinois Urbana-Champaign. Observando o percurso de formação intelectual da autora, que passou por diferentes lugares (Vietnã, França, Estados Unidos e Senegal), culturas e campos do saber (estudos literários, antropologia, cinema, estudos de gêneros e estudos culturais), percebe-se um caráter multicultural no seu pensamento crítico.

A produção de Reassemblage surge em um momento de revisão epistemológica nas ciências humanas. Nesse cenário, emergem novos marcos para os diferentes campos de conhecimento, resultando em cruzamentos conceituais, gerando o destaque de novos autores e novas correntes de pensamento, tornando a academia mais produtiva. Considerando o encontro de diferentes campos de estudos, a análise de Reassemblage coloca o cinema e a antropologia nessa área de contato. Entretanto, Trinh T. Minh-ha não foi a primeira que pensava esse contato de forma reflexiva, Jean Rouch, cineasta e etnólogo francês, foi um dos pioneiros a utilizar metodologias no cinema antropológico que desafiavam os cânones e regras desse campo de conhecimento.

Na década de 1980 aparecem argumentos mais maduros a favor da incorporação mais criativa e artística dos meios expressivos do cinema no campo da antropologia, e é nessa ótica que Reassemblage vai ser pensado, analisando as tensões que esse filme causa nas tradições do cinema documentário e antropologia.

         No campo de estudo do cinema, Reassemblage é considerado um filme de destaque em relação à reflexão crítica sobre a representação cultural no audiovisual, pensando a dificuldade de representar um sujeito sem objetificá-lo. Assim, para Minh-ha (1992), o cinema ganha muito quando concebido como uma performance que envolve, assim como, questiona sua própria linguagem, evitando cair nos estereótipos e clichês.  

Já no campo da antropologia, o filme recebeu muito mais críticas e atenção, reação às críticas presentes no filme direcionadas à disciplina. Trinh defende que existe na antropologia a herança de uma postura colonial, de caráter masculino, que busca os sentidos gerais no empenho descritivo, desconsiderando o reconhecimento do aspecto subjetivo de seus próprios relatos.

O tema central do documentário antropológico de Trinh T. Minh-ha é o Senegal. Desse tema, surgem pensamentos críticos sobre os documentários antropológicos, utilizando a metalinguagem para  construção da sua narrativa. Enquanto utiliza dos cânones do cinema antropológico de forma poética e reflexiva para representar o seu pensamento.  

O filme parte de Senegal enquanto atravessa diversos outros temas e campos de estudo, como exemplo, as tradições do documentário, sua factualidade e métodos de representações, o campo de estudo da antropologia, as heranças de um passado colonial, a figura da mulher na cultura de Senegal e tudo isso a partir da provocação reflexiva e poética.  

         O conteúdo do documentário se constrói a partir do Senegal, com elementos visuais e sonoros do cotidiano monótono do povo Sereer,  os arquivos que são usados no filme são instrumentos do estudo antropológico, mas usados de uma outra forma, segundo Minh-ha (1992), falando de perto em vez de falar sobre, para tornar visível o invisível.

        O “invisível” que a autora busca tornar visível é inalcançável com os processos tradicionais de representação do documentário, portanto, ela parte de uma representação poética para ilustrar o que ela entende como real. No entanto, a poesia utilizada para representar o real não é entendida como convencional e claro pela grande maioria dos consumidores de documentários antropológicos, e Trinh T. Minh-ha entende isso, quando diz que “uma vez que a ideologia do que constitui ‘clareza’ e ‘acessibilidade’ continua a ser um dado adquirido, a prática poética pode ser 'difícil' para um número de espectadores” (Minh-ha, 1992).

        Nessa perspectiva, o filme se torna mais profundo em sua representação, quando constrói o seu discurso sob uma reflexão da forma de representação audiovisual entendida como ‘verdade’ e 'ética'.

        Analisando a forma de representação visual adotada pela cineasta, percebemos que em termos de imagens, o filme é marcado pela descontinuidade, fragmentado, investindo na opacidade da montagem, que exagera nos cortes secos, nos planos curtos, na superexposição de cenas aparentemente sem significados, enquadramentos parciais e oblíquos. Visualmente, o filme transmite a sensação de bagunça do pensamento reflexivo, além de criar um ritmo visual que não acompanha o ritmo criado pelos elementos sonoros, provocando uma espécie de dissociação da imagem e do som, o que resulta numa independência representativa para cada elemento.

Toda essa estratégia de filmagem e montagem contrariam os cânones visuais dos documentários antropológicos, e é nessa contradição que o poético assume o protagonismo.

O uso da repetição é bem presente na composição visual de Reassemblage, onde a autora filma um momento de diferentes ângulos e enquadramento, mas os organiza de forma não linear, assim repetindo a cenas sem motivos lógicos, o que causa o sentimento de não avanço e questionamento sobre o simbolismo por trás daquela sequência.

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