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A Síndrome Comportamental

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Por:   •  2/4/2013  •  2.338 Palavras (10 Páginas)  •  902 Visualizações

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Onde quer que a articulação do pensamento não encontre critérios de exatidão, não existe sabedoria. É por isso que não é fácil para uma pessoa empenhar-se numa conversação no terreno da metafísica, da ética, da estética, sem dominar os respectivos padrões específicos de pensamento e de esclarecimento das matérias.

Por exemplo, aquilo que é conceituado como forma na metafísica, como virtude na moral, como beleza na estética, não é dado à percepção humana da mesma forma que tamanho, forma, extensão e número de objetos.

Não obstante, pode-se argumentar, legitimamente, que imaginar as coisas como formas objetivas é um requisito para a apreensão de sua natureza concreta. Justamente por isso, os julgamentos que dizem que um indivíduo é bom e que uma obra de arte é bela significam que virtude e beleza são objetos reais de uma espécie determinada, não apreendida diretamente pela percepção sensorial imediata

Alberto Guerreiro Ramos, A nova ciência das organizações (1981, p.56).

Em “síndrome comportamental” a principal preocupação de Alberto Guerreiro Ramos é em realizar uma explicação analítica da base psicológica da teoria organizacional e da ciência social em voga. O autor considera que as organizações são sistemas cognitivos e que seus membros em geral assimilam, interiormente, tais sistemas e assim, sem saberem, tornam-se pensadores inconscientes. Assim, é imprescindível realizar a análise organizacional como um sistema cognitivo sob ponto de vista da abordagem substantiva.

Para isso, Guerreiro Ramos faz a distinção entre dois tipos de conduta:

a) Comportamento: se baseia na racionalidade funcional, na estimativa utilitária das consequências; é uma conduta comum a seres humanos e animais; conveniência é sua principal categoria; funcional, efetivo, pertence à esfera das causas eficientes.

b) Ação: se baseia na racionalidade substantiva; é uma conduta própria dos atores que deliberam sobre coisas porque têm consciência das finalidades intrínsecas; forma ética de conduta; os seres humanos são levados a agir, a tomar decisões e a fazer escolhas, porque causas finais – e não apenas causas eficientes – influem no mundo em geral. A estimativa utilitária incide na ação apenas por acaso.

Sobre o comportamento, Guerreiro Ramos afirma que o próprio uso do termo na língua inglesa é relativamente recente, datando do século XV. Inicialmente “comportamento” era empregado apenas para animais, mas com o advento do Estado Moderno, foi apropriado para o conceito de cidadão como “pessoa que se comporta aos ditames do Estado”.

Desde então, passou a ser empregada também para seres humanos, enquanto seu significado continua o mesmo de quando era aplicada apenas para qualificar animais: quem se comporta está em conformidade com as ordens e costumes ditados pelas conveniências exteriores.

Homens e mulheres já não vivem mais em comunidades onde um senso comum substantivo determina o curso de suas ações. Pertencem, em vez disso, a sociedades em que fazem pouco mais além de responder a persuasões organizadas. O indivíduo tornou-se uma criatura que se comporta (GUERREIRO RAMOS, 1981, p.52).

Definido o sentido de comportamento e apresentadas suas bases históricas, Guerreiro Ramos passa à conceituação de síndrome comportamental como uma disposição condicionada socialmente que afeta a vida das pessoas. A síndrome comportamental faz as pessoas confundirem regras e normas operacionais pertencentes a um sistema social episódico com a natureza das condutas humanas. Trata-se da ofuscação do senso pessoal de critérios adequados à conduta humana, característica de sociedades industriais contemporâneas.

A legitimação de formas episódicas de conduta humana, de acordo com seus precários princípios imanentes, continua, até hoje, a ser um postulado básico da ciência do comportamento, “objetiva”, “livre de valores”. É, pois, compreensível que os que contemporaneamente praticam a ciência do comportamento se vejam, a si próprios, como estudiosos de processos, cuja forma, e não a substância, é o que importa. Para essas pessoas, a síndrome comportamentalista é uma premissa, e questioná-la não tem sentido (GUERREIRO RAMOS, 1981, p. 62).

As principais características da síndrome comportamental são: a) a fluidez da individualidade; b) o perspectivismo; c) o formalismo; d) o operacionalismo positivista.

A fluidez da individualidade

Criados peio homem, os valores não são perpétuos, imutáveis e inequívocos… a natureza humana é fraca e inconstante, num estado de eterno fluxo, suspensa entre diferentes estados, inclinações, disposições, porque está em contínua transição.

O indivíduo é um seguidor de regras. Para ele, bom e mau são simples denominações, cujos significados estabelecem-se convencionalmente. No conceito de representação consistente com esse ponto de vista, a imparcialidade substitui a verdade.

A sociedade é um sistema de regras de uma determinada espécie. Se o indivíduo aceita tomar parte nele, reconhece que sua conduta está limitada à órbita de um contrato. O bom cidadão obedece a prescrições externamente derivadas.

O perspectivismo

O indivíduo é levado a compreender que tanto a sua conduta quanto a conduta dos outros é afetada por uma perspectiva. Para comportar-se bem, o homem só tem que levar em conta as conveniências exteriores, os pontos de vista alheios e os propósitos em jogo. Todos têm o direito de pôr de lado os padrões morais das boas ações na perseguição dos interesses pessoais. O mercado é a força subjacente, geradora da visão perspectivista da vida humana associada.

O formalismo

Formalismo, ou maneirismo, é a disposição psicológica exigida por um tipo de política divorciada do interesse pelo bem comum, por um tipo de economia unicamente interessada em valores de troca, e por uma ciência, em geral, essencialmente definida por método e por praxes operacionais. A observância das regras substitui a preocupação pelos padrões éticos substantivos.

O comportamento é uma manifestação do maneirismo e é inteiramente capturado pelos critérios incidentais da arena pública. Seu significado exaure-se em sua aparência perante os outros. Sua recompensa está no próprio reconhecimento como adequado, correto, justo. Seu sujeito não é uma individualidade consistente, mas uma criatura fluida, pronta a desempenhar papéis convenientes.

Exposto a um mundo infiltrado de relativismo moral, o indivíduo egocêntrico sente-se alienado da realidade e, para

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