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Análise Do Filme O Enigma De Kaspar Hause

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Por:   •  10/11/2013  •  1.763 Palavras (8 Páginas)  •  741 Visualizações

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Análise do filme O Enigma de Kaspar Hause

O Enigma de Kaspar Hauser apresenta um incomum episódio que se passou na Alemanha nas duas primeiras décadas do século XIX com uma pessoa que não se soube ao certo de que família descendia, e que, ao ser encontrada, após ter sido abandonada em uma floresta, esteve sob os cuidados de um“gentil” senhor, que fez opção em trancafiá-la no porão de sua casa durante os seus dezessete primeiros anos de vida. Um paralelo pode ser feito, ressalvado às devidas proporções, com a parábola da caverna de Platão: Hauser, assim como um dos prisioneiros da caverna, esteve trancado durante a quase totalidade de sua vida, como já assinalado, e no mesmo instante em que depara-se com a luz do sol, comparável àquele prisioneiro, mais que depressa fecha seus olhos e coloca-se numa posição de cúbito ventral, atitude esta que pode muito bem ser vista como uma reação de estranhamento e de incômodo diante da nova realidade que se descortina ante sua visão.

Quando Hauser é conduzido à cidade pelo senhor que o cuidou desde a infância a fim de ser entregue a uma das autoridades que lá se encontrava, é, sem dúvida, um momento emblemático, especialmente porque às pessoas que orecepcionaram, além da indagação constante a respeito de sua origem genealógica,estranharam-no por inúmeros motivos: o infeliz homem não conseguia andar corretamente,nem falar, nem escrever, com exceção de seu nome, nem conhecer ou identificar as coisasa sua volta, nem expressava qualquer temor durante os experimentos que foram realizados, entre os quais a aproximação do fogo e a simulação de um espadachim que o ameaçava.

Não demorou muito para que o estranho Hauser fosse satirizado por alguns homens que

adentraram no estabelecimento em que fora aprisionado. Se não bastasse os gracejos

engariados pelos jovens traquinas à custa do indigente Hauser, não tardou muito para que

viesse a ser desprezado pela quase totalidade dos citadinos que com ele tomaram contato,

ao ponto de, num determinado momento, as autoridades da cidade decidirem, a fim de

minimizar os custos do governo despendidos com seu cuidado e, quiçá, até intencionando

obter algum lucro, enviá-lo a um circo como uma atratividade. Devido à sua anormalidade,

Kaspar, conjuntamente com o rei que é fisicamente encolhido análogo ao seu reino, ao

garoto clone de Mozart, ao índio que toca flauta, passa a ser considerado como o quarto

enigma do universo.

Posto isto, algumas reflexões epistêmicas podem ser realizadas com base em ao

menos duas posições filosóficas, qual sejam: o racionalismo cartesiano e o empirismo

lockeano, não sem antes se fazer uma exposição sucinta das ideias principais de ambas as

correntes epistemológicas. O racionalismo é uma postura ou corrente filosófica moderna,

fundada pelo filósofo francês René Descartes, que, ao menos num primeiro momento, se

debruça sobre a problematicidade da origem do conhecimento, concluindo, desta maneira,

que nem todo conhecimento provém da experiência via faculdades sensórias. Pelo

contrário, assim argumenta o escritor de O Discurso do Método, muitas ideias são inatas ou

congênitas ao sujeito cognoscitivo e, por isso mesmo, antecedem a experiência, entre elas

destacam-se: as ideias de Deus, das figuras geométricas, dos princípios morais, do

princípio de identidade, do princípio de causalidade, dos conceitos matemáticos. Enquanto

o racionalismo cartesiano floresceu numa atmosfera permeada pelas ciências exatas

(matemática e geometria), o empirismo inglês, por outro lado, surgiu num ambiente

cultural no qual predominava as ciências experimentais (astronomia, química, botânica,

mecânica, física, etc.). Destarte, o empirismo inglês encontra-se em uma posição

diametralmente oposta ao racionalismo cartesiano quanto ao problema referente à origem

do conhecimento. John Locke, considerado como o fundador da corrente filosófica

empirista, advogou a tese de que todo e qualquer conhecimento tem como origem à

experiência via cinco sentidos corpóreos. Portanto, é por meio das faculdades sensórias que

os materiais ou sensações são enviados ao sujeito cognoscente, os quais serão, num

momento ulterior, transmutados mediante a atividade intelectual em ideias simples e

complexas.

Constato que ambas às posições epistemológicas estiveram presentes nas várias

ocasiões da vida do personagem Kaspar Hauser: por exemplo, quando o “nobre” senhor

ensina-lhe, durante o período em que esteve abrigado no porão, a identificar os objetos, no

caso o brinquedo que representava um cavalo, a como utilizar a linguagem, a como

escrever, dentre outras coisas mais, o que corresponde, enfim, a teoria epistêmica empirista

ao assinalar que a experiência desempenha um papel fundamental no processo de

conhecimento. São as parcas experiências acumuladas por Hauser no porão que

possibilitam a ele formar ideias complexas, lockeamente dizendo, expressas nas

escassíssimas frases que pronuncia de forma verbal e escrita, seja no transcurso do período

que esteve morando lá, seja nos momentos subseqüentes a sua saída daquele ambiente.

Por outro lado, a asserção de Hauser de que “não podia admitir de que do nada

surja alguma coisa”, ao ser inquirido

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