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Eros e Filosofia

Por:   •  14/5/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.576 Palavras (7 Páginas)  •  636 Visualizações

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Eros e filosofia

O Banquete de Platão exalta discursos de uma festa na casa de Agathon, na qual estão presentes algumas figuras ilustres de Atenas, como Aristófanes e Sócrates- o pai da filosofia ocidental. Durante este banquete, vários convidados vão discursar sobre Eros, o amor. É objetivo da obra elogiar a filosofia e reabilitar a figura de Sócrates, filósofo que dedicou a sua vida a Atenas e, mesmo assim, foi julgado e condenado à morte.

Não existe nenhum preâmbulo nem nenhuma introdução às personagens principais, estas dão-se a conhecer durante o próprio diálogo. Seguir-se-á um resumo dos discursos de modo elucidativo.

O primeiro discurso é realizado por Fedro, seguido por Pausânias (amante de Agathon), Erixímaco e Aristófanes. Para Agathon, poeta trágico, o Eros é o mais novo dos deuses e destaca-se pela sua beleza e pela sua virtude. O ponto de vista defendido por Agathon é a identificaPção entre semelhantes, ou seja, se o amor é belo, vai atrair a beleza. Se o amor é bom, vai atrair a bondade. Sócrates, penúltimo a discursar, refere que o amor é algo que nos faz falta, contrariando o argumento de Agathon. O último a discursar foi Alcibíades que preferiu tecer elogios a Sócrates que a Eros.

Eros é alvo de vários elogios, o elogio propriamente filosófico vem por parte de Sócrates, pela boca da mulher de Mantineia, a sábia Diotima. Segundo Sócrates, só podemos desejar aquilo que não temos. Se o amor deseja o belo é porque ele não é belo. Se o amor deseja o bom é porque ele não é bom. Influenciado por Diotima, Sócrates não quer dizer que o amor é mau ou feio. O amor está num ponto entre estes dois extremos. O amor é uma identidade intermediária entre os humanos e os deuses, é o desejo de beleza sem poder possuí-la. O amor é carência e busca do inalcançável.

Hereditariamente, Eros não é filho de Afrodite, mas nasce com o desejo de beleza; Eros é a síntese das características herdadas dos seus pais, - Poros (espírito inventivo e engenhoso) e Penia (pobreza)- possui características que não são harmoniosas, é rico em potencialidade e pobre como a mãe, quer sair de si, aspira por saber, por beleza, por fecundidade. Esta natureza de Eros é muito parecida com a filosofia, personificada por Sócrates. Sócrates personifica toda a dinâmica do Amor: pode ser visto como o objeto amado, como amante que aspira à contemplação e posse do belo ou como o próprio amor (elo de transição entre ignorância e sabedoria, humano e divino…, através do ensino dos jovens).

Etimologicamente, a palavra Filosofia significa amizade (do grego, philos) e sabedoria (do grego, sophia) e é definida pelo amor/amizade no saber. N’O Banquete, se compararmos Eros ao filósofo, percebemos que, tal como o amor, o filósofo não é sábio nem ignorante, não é belo nem feio, é um meio termo, ambos estão entre dois extremos.

Segundo Diotima, um Deus não filosofa pois está ciente do que sabe e um ignorante não filosofa porque não sabe o que não sabe, este intermédio existente entre ignorância e sabedoria é completado quando percebemos que Eros está consciente da sua carência e haure a preenchê-la, tal como o filósofo (O banquete, 204 b). Como o amor, Sócrates não é totalmente belo nem totalmente feio; Sócrates é pobre, anda descalço, mas procura incessantemente o enriquecimento interior. Por sua vez, Eros não é um Deus, não é mortal, não é um absoluto, é o desejo de beleza e de bem sem ser belo ou bom. Eros não é só isto ou aquilo, tem uma natureza sintética, partilha duas naturezas (metaxý).

O que não é belo não é necessariamente feio, quem não é sábio não é necessariamente ignorante. A filosofia é um meio termo em que a opinião sem argumentação não é sabedoria pois não é fundamentada, mas não é necessariamente ignorância pois remete-se à verdade.  Então, de acordo com a sugestão de Mantineia, a reta opinião encontra-se situada precisamente entre o conhecimento e a ignorância.

Eros carece de coisas boas e belas, deseja o que lhe falta. Sendo os deuses felizes e belos, Eros não é um Deus. Eros não é mortal nem imortal. Eros é um daimon, intermediário entre deuses e mortais, criador de laços entre eles (dýnamis). Devido à distância dos deuses dos homens, é necessário que se conceba comunicação entre ambos. Eros é considerado um mensageiro astuto que interpreta o que é apropriado dos humanos e dos deuses, mantendo unidos estes dois pólos (Banquete, 202 e). Com isto, quero dizer que, o filósofo considera-se um homem de caráter demoníaco e inspirado pelos Deuses. [pic 11][pic 12][pic 13][pic 14]

Diotima afirma que os filósofos que se encontram entre o extremo da ignorância e da sapiência entregam-se à busca do saber e à filosofia; Eros está entre as coisas mais belas pois Eros é o desejo de belo. Necessariamente, Eros é um filosofo que está entre o sábio e o ignorante (philósophon dé ónta metaxý eînai sophoû kaì amathoûs, Banquete, 204 a-b). Eros, envolve uma compreensão da própria natureza da filosofia e do estatuto epistemológico que lhe é próprio. A filosofia, enquanto aspiração à sabedoria e à contemplação do inteligível, tem inevitavelmente de sair de uma sensação de privação, pois, quem não se vê destituído de algo, não pode desejá-la nem aspirá-la; Diotima admite a eventualidade de algum Homem poder vir, efetivamente, a ser sábio, mas, não poderá tornar-se imortal; estes estados devem considerar-se como termos a uma procura e um desejo em que o filósofo se empenha.

Tal afirmação implica reconhecer que Eros está no Erastés (amante) e não no Erômenos (amado) pois o amor é um movimento que vai do amante ao amado, estando a sua origem no segundo.[pic 15][pic 16][pic 17][pic 18]

Tendo por base a perspetiva platónica patente n’O Banquete, a filosofia é uma prática intermediária entre o saber e a ignorância, é um procedimento zetético infinito pois o filósofo não é um Deus; o filósofo não é perfeito nem detém conhecimento absoluto, o mesmo é um daimon intermediário que tenta aproximar-se ao máximo dos deuses e da sabedoria (mas fica sempre aquém). O filósofo, tal como Eros, é um ser carente e incompleto e é-lhe impossível transcender a sua precaridade humana e as condições limitativas do Homem, não poderá assim alcançar a sabedoria definitiva, completa e absoluta (Banquete, 203 a).

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