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O ITINERÁRIO RICOEURIANO DA PESSOA À EDUCAÇÃO

Por:   •  4/6/2018  •  Relatório de pesquisa  •  1.556 Palavras (7 Páginas)  •  141 Visualizações

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O ITINERÁRIO RICOEURIANO DA PESSOA À EDUCAÇÃO

Jorge André de Almeida Santos

João Antônio Johas Marques da Silveira Leão

Larissa Gomes Magrani

Laryssa de Almeida Ruas Saldanha

Marcos Vinícios Chiaretti Guedes

Universidade Católica de Petrópolis

Palavras-chave: sujeito capaz; ética; alteridade; mediação; violência.

É evidente que a violência é um assunto muito sério de ser discutido atualmente. O que parece não ser tão evidente assim, são os meios para superá-la, já que é um assunto muito antigo, sobre o qual muitos já se debruçaram para propor soluções, sem que se acabe em definitiva com a violência. No mundo contemporâneo a questão parece que se complica ainda mais, já que a confiança cega na razão que predominou desde o início da modernidade sofreu um grande abalo com a ocorrência das duas grandes guerras mundiais. Se o homem, utilizando-se de sua faculdade racional ao máximo produziu bombas atômicas e campos de concentração, entende-se que haja uma certa suspeita com relação a mesma. Sem se deixar abater pelo niilismo nietzschiano ou exaltar o cogito como Descartes, Paul Ricoeur propõe uma filosofia que entra em diálogo com muitas ideias e autores diferentes. Desde uma antropologia do sujeito capaz, Ricoeur pensa na violência que pode existir na ação de um si mesmo sobre um outro por conta de uma dissimetria essencial entre o agente e o paciente de sua ação. A educação seria, para ele, uma forma de mediar a relação entre agente e paciente para que a máxima de poder viver bem com e para os outros em instituições justas possa, em uma dialética fina, ir sendo alcançada. A categoria de sujeito capaz em Ricoeur se desprende da dimensão ética e moral do si-mesmo.[1] Quando falamos de ética em Ricoeur precisamos lembrar da máxima de viver bem, com e para os outros, em instituições justas. Nessa formulação, encontramos três termos diferentes, mas que estão no mesmo nível de importância para a constituição ética da pessoa. Em primeiro lugar, a estima de si mesmo. Isso se vê expresso nesse desejo de viver bem, de viver uma vida realizada. Esse sujeito que se estima, busca viver uma boa vida por meio do emprego de suas capacidades de falar, agir, narrar e de se responsabilizar por si mesmo. Essas capacidades são exercidas com e para os outros, o que nos leva a segunda dimensão ética em Ricoeur: O outro. Nessa dimensão, o termo solicitude é importante para nosso filósofo. A solicitude rege as relações interpessoais, sendo um movimento do si que responde a interpelação feita pelo outro. Para Ricoeur “a petição ética mais profunda é a da reciprocidade que institui o outro como meu semelhante e a mim mesmo como semelhante do outro”. [2]

A tríade ética se completa com o desejo de viver em instituições justas. Para Ricoeur, é necessário distinguir as relações interpessoais que são regidas pela amizade, solicitude e reciprocidade, das relações institucionais, regidas pela justiça. Pode-se entender melhor essa diferença quando separamos o “outro” do “cada um”. Essa separação se dá porque com o “outro” se tem uma intimidade que não se tem com o “cada um”. Não se pode reduzir, então, a relação com o “cada um” a uma espécie de relação com o “outro”. Por isso a necessidade de instituições justas, que façam a mediação nesse tipo de relação e que distribua a “cada um” o que lhe pertence. Com essa estrutura ética da pessoa, podemos entender melhor as capacidades do sujeito que Ricoeur desenvolve. A modo de exemplo, podemos citar que na capacidade de falar, pode-se fazer promessas. Esse exemplo é interessante porque nos permite perceber um sujeito capaz que ao falar se designa a si mesmo como responsável de uma ação e se compromete a permanecer fiel a si-mesmo no decorrer da promessa, que é feita a um outro ou a si-mesmo como outro. Vemos aqui a força ilocucionária do discurso, que compromete aquele que fala. De maneira semelhante podemos olhar para a ação, ou mais especificamente para quem age. Enquanto agentes, nós nos estimamos primeiro como capazes de agir, assim como o si mesmo se estimava. Em segundo lugar, vemos que toda ação humana é uma interação, seja uma cooperação, uma competição, um conflito ou qualquer outro tipo de interação, mostrando sua relação intima com o outro. Em terceiro lugar, percebemos que toda ação faz referência a uma escala de excelência. Essa escala tem a característica de definir se a ação foi bem ou malsucedida de acordo com si mesma. O sujeito capaz nos permite, dessa forma, entender melhor a violência, já que, ao agir, existe a possibilidade de que o outro, o paciente de certo agente, se veja reduzido ou até aniquilado em suas capacidades, o que constitui a definição de violência para Ricoeur.  Em nosso grupo de pesquisa, estamos estudando a questão da violência em Paul Ricoeur. Em muitos de seus textos (Estado e violência; Poder e violência; Violência e linguagem; Religião e a violência simbólica; A presença histórica da não violência e A intervenção entre o sofrimento das vítimas e a violência) foi possível perceber como a violência (Em seus diversos modos) como “destruição por algum outro da capacidade de agir de um sujeito”[3] ou ainda, como equivalente “a diminuição ou a destruição do poder fazer de outrem”[4].Essa violência, que como já vimos pode ser desprendida da tríade ética do sujeito capaz, depende também da noção de dissimetria essencial. Para Ricoeur, existe uma dissimetria essencial entre o agente e o paciente. Ele diz que “O problema moral, [...], enxerta-se no reconhecimento dessa dissimetria essencial entre aquele que faz e aquele que sofre, culminando na violência do agente poderoso”[5]. Os diversos tipos de violência podem, então, serem vistos sobre esse prisma. Assim, o estado pode ser violento no uso de suas capacidades, fazendo com que o “cada um” alvo de sua ação, seja reprimido em suas capacidades. Algo semelhante pode-se dizer da violência na linguagem, quando, ao falar, impede-se (ou diminui-se) a capacidade do outro de falar. A questão do direito internacional também pode ser pensada desde essa ótica: Quando e de que forma é legítimo que um país interfira na autonomia de outro estado de direito? Há formas de fazê-lo sem violência? Em que medida a violência pelo estado é legítima?

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