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O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO DE ÉMILE DURKHEIM

Por:   •  15/6/2015  •  Projeto de pesquisa  •  7.293 Palavras (30 Páginas)  •  449 Visualizações

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O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO DE ÉMILE DURKHEIM

Dirce Maria Falcone Garcia

                       In LEMOS FILHO, Arnaldo et alii. Sociologia Geral e do

                                    Direito. 6ªedição. Campinas: Ed. Alínea, 2012

Émile Durkheim ( 1858- 1917), judeu franco- alemão,  nasceu em Épinal na região da Alsácia,  na França, numa família de rabinos. Iniciou seus estudos em sua  terra natal e depois, em Paris, freqüentou  as grandes escolas francesas. Muito estudioso, formou-se em Filosofia, e em 1882  foi nomeado professor. Em 1885, obteve licença de um ano para estudar Ciências Sociais na Alemanha, onde esses estudos já estavam mais avançados. Na volta, em 1887, foi nomeado Professor de Pedagogia e Ciências Sociais  em Bordeaux, onde ministrou o primeiro curso de Sociologia criado em uma universidade francesa. Na realidade,  em sua aula inaugural em Bordeaux, Durkheim deixou claro que tinha  a consciência de estar “encarregado de ensinar uma ciência nova e que só contava com um pequeno número de princípios estabelecidos”,  e pensava,  como professor,  “em ir fazendo a ciência à medida em que a ensinava” (Durkheim, citado por Ortiz,  2002, p. 92).

E assim,  Durkheim  é aquele que vai, de fato, estruturar a ciência  sociológica na França, tendo dedicado toda sua carreira ao desenvolvimento da Sociologia como ciência  empírica e rigorosamente objetiva.

 A obra de Durkheim reflete,  em grande medida, os problemas de seu tempo. Vivendo no período que vai da segunda metade do século XIX até o final da Primeira Grande Guerra (1914-1918), foi  contemporâneo de acontecimentos históricos significativos  do período.

O início da III República (1870)  foi marcado pela instabilidade política e social, posterior à guerra franco- prussiana, em que a França perde para a Prússia a região da Alsácia. Além do sentimento coletivo de fracasso, estava em andamento a reorganização política do Estado, e a conseqüente implementação de medidas que revelavam um rompimento com as tradições: a separação Igreja/Estado, a instituição da instrução laica obrigatória dos 6 aos  13 anos, a introdução da Educação moral e cívica, para preencher o “vazio moral” deixado pela proibição das aulas de religião, e a instituição do divórcio. A esfera econômica e social foi marcada pela intensificação dos conflitos sociais. Em 1871 houve o movimento de rebeldia popular, a Comuna de Paris, evidenciando os conflitos de classes, e os conflitos de todos contra o homem pobre e sem trabalho, a numerosa classe dos “sem-trabalho” que vivia na cidade de Paris, em péssimas condições de vida. Na França, a multidão de miseráveis  foi atirada ao centro da cena política, reivindicando, lutando e convulsionando a sociedade.

Como bem mostra Rodrigues (1995), por outro lado, há todo um entusiasmo com  o progresso tecnológico e científico que ocorria nas várias áreas,  e também com as mudanças que geravam aumento da produtividade nas fábricas, maior participação da população nos processos eleitorais,  e aumento da escolaridade, vistos  como sinais do progresso  na produção, na política ,  e na  cultura.  Todos esses fatores influenciam a visão de mundo de Durkheim,  a sua crença no racionalismo e na superação do grande desregramento imperante na sociedade da época.

Em sua primeira aula na cadeira de Sociologia analisou a questão da solidariedade, que foi o ponto de partida de sua produção teórica e reflexo de sua preocupação com a  “crise moral”. “Era só da razão, isto é, da ciência que se esperava os meios de se refazer a organização moral do país”. (Durkheim apud Ortiz, 2002, p. 90). Em verdade, Durkheim pretendia criar uma “Ciência da moral”, demonstrando influência recebida de Saint-Simon, que acreditava que os valores morais constituíam elementos capazes de atenuar os problemas sociais de seu tempo.

Assim,  a Sociologia surgiu da expansão da racionalidade científica no tratamento das crises e problemas sociais que afligiram as formações sociais européias, decorrentes de uma nova organização dos lugares de classe, da expansão do industrialismo, da persistência de traços econômicos e sociais do Antigo Regime  no embate com a implantação da nova ordem político- jurídica.

“ E estender à conduta humana o racionalismo científico é realmente nosso principal objetivo, fazendo ver que, se a analisarmos (a conduta humana) no passado, chegaremos a reduzi-la a relações de causa e efeito; em seguida, uma operação não menos racional a poderá transformar em regras para a ação futura. Aquilo que foi chamado de nosso positivismo, não é senão conseqüência deste racionalismo.” (Durkheim, Regras, 1978b, XVII)

Portanto, Durkheim  se propôs a construir a sociologia como uma ciência autônoma, que deveria analisar a sociedade científicamente, com racionalidade. Mas não apenas. Procurou conhecer cientificamente  a sociedade, para que o conhecimento da ciência esclarecesse sobre intervenções necessárias na realidade social.

Em 1893 publicou sua primeira grande obra sociológica, A divisão do Trabalho Social,  na qual estabelece o objeto de estudo da Sociologia; em 1895, publicou As Regras do Método Sociológico, em que  lança as bases metodológicas da nova ciência; e em 1897, O Suicídio, em que procurou aplicar o método sugerido, numa monografia considerada  modelo de pesquisa social, com a utilização da estatística como recurso metodológico. Em 1898 criou a Revista L’Année Sociologique, um espaço para as publicações de colaboradores da Escola Sociológica Francesa.  Em 1912 publicou “As formas elementares da vida religiosa”. Além dessas  obras, após sua morte, foram editadas  em 1922, Educação e Sociologia; em 1924, Sociologia e Filosofia; em 1925, A Educação Moral; em 1928, O Socialismo. Este conjunto das principais obras de Durkheim, forneceram elementos  decisivos  para  a  constituição da Sociologia como ciência  e para compreensão  da vida social,  na tradição  estabelecida de pesquisas concretas.

 Na verdade, “Comte inventou o termo sociologia  mas, antes é Durkheim quem deve ser considerado o pai da sociologia positivista, enquanto disciplina científica” (Löwy, 1994, p. 26). Ele próprio reconhece sua filiação aos princípios metodológicos preconizados por Comte, na  tentativa de decobrir as leis naturais que regem as sociedades e de se utilizar dos mesmos métodos das ciências exatas. Suas obras constituem uma herança para  os cientistas sociais aprofundarem, criticarem e repensarem a explicação dos fenômenos  sociais.

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