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OS DESAFIOS DE ENFRENTAR AS QUESTÕES DA FINITUDE

Por:   •  5/9/2020  •  Artigo  •  6.337 Palavras (26 Páginas)  •  130 Visualizações

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DESAFIOS DE ENFRENTAR AS QUESTÕES DA FINITUDE

CHALLENGES TO FACE FINITUDE ISSUES

Jéssica Souza.

Resumo

Morte é o processo irreversível de interrupção das atividades biológicas fundamentais para a definição e manutenção da vida em um sistema classificado como vivo. Falar sobre a morte inclina-se a ser um assunto que desperta angustia e medo, uma vez que proporciona a ciência da finitude. O objetivo deste artigo é apresentar a partir de uma revisão de literatura o significado da morte para os indivíduos ao longo do tempo e como a sociedade reage as questões ligadas não somente a própria finitude, mas também a de entes queridos. Será apresentado a importância da consciência da finitude para a forma de vida e organização das sociedades, bem como quais são os sentimentos e reações a esta reflexão. Passar-se-á, por fim, para a apresentação das principais atitudes frente à morte por parte dos atores envolvidos, assim como a apresentação do que o medo da morte pode representar para o avanço das relações humanas, e o que seus impactos podem representar na forma de viver das pessoas.

Palavra-chave: Finitude. Atitude frente à Morte. Autonomia Pessoal.

Abstract

Death is the irreversible process of disrupting the biological activities fundamental to a definition and maintenance of life in a system classified as alive. Talking about death can be a subject that stirs up anguish and fear, since it is a science of finitude. The aim of this article is to present a literature review about the meaning of death for the long term and as a reuse as a priority not only in relation to its own finitude, but also to a question of dear ones. Introduce the awareness of finitude to a society of life and organization of societies, as well as what are the feelings and reactions to this reflection. Walking through topics, acting as a presentation of the main attitudes towards the death of the leaders involved, as well as the presentation of the fear of death can represent the advance of human relations, and their own way of living of the people.

KeyWords: Finitude. Attitude towards death. Personal Autonomy.

1 Introdução

Talvez seja difícil esgotar os motivos que fazem com que as pessoas considerem o valor simbólico do ato da morte além do aspecto biológico em si. Langano e Schineider (2019) afirmam que o fato a ser entendido é que a morte é um acontecimento social fundamental da sociedade. Esta afirmação é reforçada pela ideia de Giacomini, Santos e Firmo (2013) que ressaltam que a morte precisa ser vista como um conjunto de representações e sentidos que fornecem às pessoas, a possibilidade de compreender suas experiências e pautar suas ações.

Em contraste com a importância social que a morte apresenta, o imaginário popular parece agir de forma a evitar tanto o pensar quanto o falar acerca do tema, ainda que esta seja uma certeza inevitável do ponto de vista biológico (REZENDE; GOMES; MACHADO, 2014). Um dos autores a tentarem justificar a tentativa de viver indiferente à certeza da morte biológica é Beauvoir (1984, p.106), ao salientar o traço absurdo que a morte tem para o sujeito, pontuando que “não há morte natural: nada do que acontece ao homem é jamais natural, pois sua presença questiona o mundo. Todos os homens são mortais; mas para cada homem sua morte é um acidente e, mesmo que ele a conheça e a consinta, uma violência indevida.”. Apesar da aparente indiferença observada pela população em geral, é evidente a ocorrência de pensamentos e estudos, ao longo dos tempos, que retratam as diferentes maneiras de enfrentar as questões da finitude.

O perpassar deste trabalho irá, justamente, discorrer uma breve evolução de como a sociedade lidou com a morte ao longo dos séculos. Parte do pensamento exposto acompanha a descrição de Philippe Ariés citado por Dantas (2010), onde o autor expõe desde uma sociedade que lidava com a morte, indicando que os mortos ainda possuíam lugar entre os vivos e os cemitérios integravam o espaço social da cidade; passando para um pensamento mais individualizado da separação do ser pessoal do restante da sociedade. Dantas (2010) trouxe uma consciência mais contemporânea da preocupação do indivíduo com suas paixões, desejos e pecados. Por fim, chega-se a um contexto onde a morte torna-se um elo mais forte e onde a cultura ocidental cristã afirmará que o ser humano deve estar preparado para o fim da vida; desta forma, a preocupação volta-se para o legado deixado para a posteridade.

Quando afirma-se que a cultura passa a preparar o ser humano para o fim da vida, imagina-se uma conformidade com o acontecimento futuro. Porém, a partir do século XIX, já observa-se a tentativa de busca por avanços tecnológicos, médicos e científicos que fossem capazes de adiar o estado inevitável, e até mesmo encontrar uma forma de evitá-lo. A morte torna-se algo distante do próprio ser e este pensamento suscita uma situação de medo na sociedade (DANTAS, 2010). Medo este, que será exposto ao longo do trabalho, bem como suas bases e implicações.

Além da apresentação de um conciso apanhado das diferentes maneiras da sociedade lidar com a morte ao longo dos séculos, torna-se importante falar sobre a noção de finitude e suas implicações nos sentimentos humanos que, de acordo com Correa, Hashimoto (2012), fornecem sentido às ações dos indivíduos no mundo. O medo é um componente alinhado as questões da finitude, e pode ser apontado como sentimento presente no ser humano que indaga sobre a tal finitude do ser. Este é advindo tanto da incerteza quanto da impotência decorrente da falta de aceitação do findar da vida.

Se o medo é apresentado como um sentimento de impotência por parte do ser humano, torna-se importante pensar no conceito de “herói” trazido por Becker (1976). Este acredita que, em nossa sociedade contemporânea, a problemática do heroísmo gerou a negação por meio de manifestações, tanto culturais quanto psicológicas, que demonstram como é amplo a dificuldade e o medo de lidar com as questões da finitude, e como, na tentativa de reagir à morte, as pessoas demostram uma autoconstrução fantasiosa. Ao usar o termo “herói”, o autor coloca que, no geral, a sociedade é um sistema codificado, isso porque esta vive o mito do significado da vida humana, através de uma criação desafiadora de sentido.

Uma vez que o medo traz uma sensação de impotência e o heroísmo parece uma utopia, Beck (1976) apresenta o conceito do terror da morte,

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