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Trabalho Sem Identificaçao De Dono. Procurar O Autor

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Por:   •  1/2/2014  •  6.006 Palavras (25 Páginas)  •  239 Visualizações

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Vol. VII – (8) TRATAMENTO PSÍQUICO (OU ANÍMICO) (1905)

“Psyche” é uma palavra grega e se concebe, na tradução alemã, como alma. Tratamento psíquico significa, portanto, tratamento anímico. Assim, poder-se-ia pensar que o significado subjacente é: tratamento dos fenômenos patológicos da vida anímica. Mas não é este o sentido dessas palavras. “Tratamento psíquico’’ quer dizer, antes, tratamento que parte da alma, tratamento – seja de perturbações anímicas ou físicas – por meios que atuam, em primeiro lugar e de maneira direta, sobre o que é anímico no ser humano.

Um desses meios e sobretudo a palavra, e as palavras são também a ferramenta essencial do tratamento anímico. O leigo por certo achara difícil compreender que as perturbações patológicas do corpo e da alma possam ser eliminadas através de “meras” palavras. Achará que lhe estão pedindo para acreditar em bruxarias. E não estará tão errado assim: as palavras de nossa fala cotidiana não passam de magia mais atenuada. Mas será preciso tomarmos um caminho indireto para tornar compreensível o modo como a ciência é empregada para restituir às palavras pelo menos parte de seu antigo poder mágico.

Só em época recente, além disso, os médicos de formação científica aprenderam a apreciar o valor do tratamento anímico. Isso se esclarece facilmente ao pensarmos no curso de desenvolvimento da medicina neste último meio século. Após um período bastante infrutífero de dependência da chamada filosofia da natureza, a medicina, sob a influência propícia das ciências naturais, fez seus maiores progressos, tanto na qualidade de ciência como na de arte: desvendou a composição do organismo a partir de unidades microscopicamente pequenas (as células), aprendeu a compreender física e quimicamente cada um dos processos (funções) vitais, distinguiu as modificações visáveis e palpáveis das partes do corpo em conseqüência dos diferentes processos patológicos, e descobriu, por outro lado, os indícios pelos quais se revelam os processos patológicos entranhados a fundo no organismo vivo; desvendou ainda um grande número dos micróbios patogênicos e, com a ajuda dos conhecimentos recém-adquiridos, reduziu extraordinariamente os perigos das intervenções cirúrgicas mais graves. Todos esses progressos e descobertas diziam respeito ao aspecto físico do ser humano, e assim, em conseqüência de uma linha de raciocínio incorreta, mas facilmente compreensível, os médicos passaram a restringir seu interesse ao corporal e de bom grado deixaram aos filósofos, a quem menosprezavam, a tarefa de se ocuparem do anímico.

É verdade que a medicina moderna tinha motivos suficientes para estudar o incontestável vínculo existente entre o físico e o anímico, mas nunca deixou de representar o anímico como determinado pelo físico e dependente deste. Assim, enfatizou-se que o funcionamento intelectual estaria ligado à existência de um cérebro normalmente desenvolvido e suficientemente nutrido, e que qualquer adoecimento desse órgão faria com que se incorresse em perturbações; que a introdução de substâncias tóxicas na circulação poderia produzir certos estados de doença mental, ou, em pequena escala, que os sonhos do sujeito adormecido seriam modificáveis conforme os estímulos que se fizesse atuar sobre ele para fins experimentais.

A relação entre o físico e o anímico (tanto nos animais quanto no ser humano) é recíproca, mas o outro lado dessa relação, o efeito do anímico no corpo, encontrou pouca aceitação aos olhos dos médicos em épocas anteriores. Eles pareciam temerosos de conceder uma certa autonomia à vida anímica, como se com isso fossem abandonar o terreno da cientificidade.

Essa orientação unilateral da medicina para o aspecto físico passou, na última década e meia, por uma modificação gradual diretamente oriunda da prática médica. Ocorre que há um grande número de doentes de maior ou menor gravidade que, por seus distúrbios e queixas, fazem grandes exigências à habilidade do médico, mas em quem não se encontram sinais visíveis e palpáveis do processo patológico, seja durante a vida ou depois da morte, apesar de todos os progressos dos métodos de investigação da medicina científica. Um grupo desses doentes destaca-se pela abundância e pela variedade multiforme do quadro patológico; não podem fazer nenhum trabalho intelectual, em conseqüência de dores de cabeça ou insuficiência da atenção, seus olhos doem durante a leitura, suas pernas se cansam ao andar, ficando pesadas, doloridas ou dormentes, sua digestão é perturbada por sensações dolorosas, eructações ou espasmos gástricos, a defecação não se dá sem a ajuda de laxativos, o sono é abolido etc. Eles podem ter todos esses males simultaneamente ou em sucessão, ou sofrer apenas de uma seleção deles; na totalidade dos casos, trata-se obviamente da mesma doença. Apesar disso, os sinais da doença são amiúde mais variáveis, revezando-se entre si e substituindo uns aos outros; um mesmo doente, até então incapaz de trabalhar por causa das dores de cabeça, mas com uma digestão bastante boa, pode no dia seguinte desfrutar de uma cabeça desembaraçada, mas a partir daí suportar mal a maioria dos alimentos. Da mesma forma, seus padecimentos o abandonam subitamente ao sobrevir uma modificação em suas condições de vida; numa viagem, pode sentir-se perfeitamente bem e saborear sem prejuízo a mais diversificada dieta, mas, de volta a casa, talvez tenha de restringir-se novamente à coalhada. Em alguns desses doentes, a perturbação – seja ela uma dor ou uma fraqueza nos moldes de uma paralisia – pode até trocar repentinamente de lado no corpo, passando da direita para a área correspondente no lado esquerdo. Em todos, porém, é possível observar que os sinais de padecimento estão muito claramente sob a influência das excitações, comoções, preocupações etc., e também que desaparecem, podendo dar lugar a uma saúde plena, sem deixar nenhum vestígio, nem mesmo após uma longa permanência.

A investigação médica finalmente mostrou que essas pessoas não devem ser consideradas nem tratadas como doentes gástricos, doentes dos olhos ou similares, mas que, nelas, trata-se de uma doença do sistema nervoso como um todo. Até aqui, entretanto, a investigação do cérebro e dos nervos desses doentes não permitiu encontrar nenhuma modificação palpável, e alguns dos aspectos do quadro patológico chegam até a proibir a expectativa de que um dia se possa apontar, com meios de investigação mais apurados, modificações de tal ordem que sejam capazes de esclarecer a doença. Tem-se conferido a esse estado o nome de nervosismo (neurastenia, histeria), qualificando-o como uma doença meramente “funcional” do sistema nervoso.

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