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Trabalho de Estética- Filosofia

Por:   •  24/4/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.623 Palavras (7 Páginas)  •  445 Visualizações

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Afecto, Percepto e Conceito

        A arte é a única coisa no mundo que se conserva em si, embora este fato não dure mais que seu suporte e seus materiais, pedra, tela, cor, etc. É independente de outros personagens eventuais, é independente do criador. O que conserva a obra de arte, é um bloco de sensações, isto é, um composto de perceptos e afectos.

        A obra de arte é um ser de sensação, ela existe em si.

        Os afectos são devires inumanos que o corpo recebe, que passam pelo corpo; o afecto é o primado do corpo, enquanto a percepção ; é o primado da consciência. Kant fica com a consciência, enquanto Deleuze fica com o corpo. A idéia de percepto está ligada à idéia de afecções (independem do homem, são inumanos, passam pelo corpo sem interferência da consciência, que é medíocre). A percepção é medíocre. Pensar é lidar com perceptos, é cavalgar no devir, nos horizontes, ocupa-se do corpo e das imagens (o homem se torna poderoso, a partir da ampliação das imagens), dos afectos e perceptos, abandonando a percepção e a consciência, porque a consciência limita a passagem pelo corpo dos afectos e perceptos.

        A pintura de um drogado não nos ajuda a criar os seres da sensação, não nos entrega os perceptos e os afectos, incapaz de se conservar por si mesmo, desfazendo-se ao mesmo tempo que se faz ou que olhamos. A pintura do louco, ao contrário, sustenta-se quase sempre, sob a condição de ser saturada e de não deixar subsistir o vazio. Deleuze retrata que toda obra de arte precisa de bolsões de ar e vazio, pois o vazio é uma sensação, toda sensação se compõe com o vazio, se conserva no vazio conservando-se a si mesmo. Algo só é uma obra de arte se guarda vazios suficientes para permitir que neles saltem cavalos, se respire. “(...) o vazio é fundamental para a existência das formas, sem o vazio elas não poderiam existir, não haveria espaço para a sua existência”.

        Pintamos, esculpimos, compomos, escrevemos com sensações. A sensação não se realiza no material, sem que o material entre inteiramente na sensação, no percepto ou no afecto.  Quem só é pintor é também mais que pintor, porque ele faz vir diante de nós, na frente da tela fixa, não a semelhança, mas a pura sensação “ da flor torturada, da paisagem cortada, sulcada e comprida", devolvendo " a água da pintura à natureza”. Só passamos de um material a outro, como do violão ao piano, do pincel à brocha, do óleo ao pastel, se o composto de sensações o exigir. E, por mais fortemente que um artista se interesse pela ciência, jamais um composto de sensações se confundirá com as "misturas" do material que a ciência determina em estados de coisas, como mostra eminentemente a "mistura óptica" dos impressionistas.(p 217)

        O objetivo da arte é arrancar o percepto das percepções do objeto, arrancar o afecto das afecções. Extrair um bloco de sensações, um puro ser de sensações que dão expressão à obra de arte.

        Toda obra de arte é um monumento, não o que comemora um passado, é um bloco de sensações presentes que só devem a si mesma sua própria conservação, e dão ao acontecimento o composto que o celebra. O ato do monumento não é a memória, mas a fabulação (existe na realidade entre o imaginário e o real), são os devires, algo de inumano, que não se acham na memória, mas na palavra ou nos sons. " Só se atinge o percepto ou o afecto como seres autônomos e suficientes, que não devem mais nada àqueles que os experimentam ou os experimentaram. " (p 218)

        A arte é a linguagem das sensações, que faz encontrar as palavras em sua obra. A arte não tem opinião, percepções, afecções, substitui tudo por um monumento composto de percepto, de afectos e de blocos de sensações, que fazem as vezes de linguagem, criando uma sintaxe que o introduz na sensação.

        Para citar um exemplo, Merleau-Ponty em seu texto O cinema e a nova Psicologia analisa as afirmações da velha psicologia, ou psicologia clássica, que “(...) considerava o nosso campo visual como uma soma ou um mosaico de sensações, onde cada uma delas dependeria, de modo estrito, da correspondente excitação retínica local”. (Merleau-Ponty, p.103)A nova psicologia não admitia essa afirmação em virtude de considerar inadmissível um paralelismo entre nossas sensações imediatas e o fenômeno nervoso que as condiciona. A nossa percepção seria mais próxima de um sistema de configurações, uma vez que percebemos o todo do campo visual e não apenas o que estaria prescrito pelas excitações da retina.

        No desenvolver do texto, o autor vai acrescentando dados comparativos entre afirmações da psicologia clássica e da nova psicologia. Na página 108 encontramos o absurdo na sentença clássica, em que só poderíamos perceber fatos psíquicos como a cólera ou o medo, partindo do interior do sujeito que os sentia, sendo impossível a percepção através da observação do comportamento do outro, como se o sentimento não fosse expressado pelos gestos, voz, olhar, mudanças da expressão facial. Isso é tão perceptível que a emoção, se não controlada, chega a desorganizar o comportamento habitual do sujeito. A nova psicologia reconhece o sujeito como um ser inserido no mundo e por isso mesmo o percebe como um todo.

        Um filme, segundo Merleau-Ponty, não é uma soma de imagens, e sim uma forma temporal e os sentidos das imagens dependem das que as precedem e a sucessão de imagens são necessárias para produzir o efeito esperado. Isso depende da perspicácia do diretor para perceber a duração das ‘tomadas’, para que o outro perceba o que ele gostaria que fosse percebido. O som, a música incidental, fazem parte da configuração interna do filme. A trilha musical deve contribuir para a modulação plástica da imagem, e ser capaz de realizar “ rupturas do equilíbrio sensorial” (Jaubert-Esprit, 1936). “ O sentido de um filme está incorporado a seu ritmo, assim como o sentido de um gesto vem, nele, imediatamente          legível” (p.116). O filme não significa nada além dele mesmo, e nos convida a percebê-lo, não nos convida a pensá-lo. “ Para o cinema, como para a psicologia moderna, a vertigem, o prazer, a dor, o amor, o ódio traduzem comportamento” (p.116), e como toda arte, o cinema não é feito para expor idéias.

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