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Conceitos de Espaço e Lugar

Por:   •  21/4/2015  •  Resenha  •  2.606 Palavras (11 Páginas)  •  581 Visualizações

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE

CONCEITOS DE ESPAÇO E LUGAR

Felipe Pereira

2014.2

De acordo com as leituras trabalhadas pela disciplina até o presente momento, o presente trabalho tem como ambição construir um diálogo entre os conceitos geográficos de espaço e lugar. Essa comunicação está baseada em bibliografias que possuem intrínsecas nelas parâmetros acerca dos conceitos geográficos contemplados.

Nessa expectativa, pretende-se aqui apresentar algumas análises e seus variados sentidos. Para o primeiro passo dessa construção será abordado o conceito de Espaço, no qual os autores de referência serão David Harvey e Paulo Godoy.  

No texto “Espaço como palavra-chave”, David Harvey discute teoricamente “espaço” como uma palavra-chave, associando a visão tripartite espaço absoluto-relativo-relacional com a leitura Lefebvreana dos espaços percebido, concebido e vivido (também denominados espaços material ou experimentado, conceitualizado e da representação). Nesse contexto HARVEY enaltece que é crucial refletir sobre a natureza do espaço.  

Da tripartite proposta do DAVID, o espaço como absoluto é o espaço no qual a padronização, a imobilidade, a delimitação, a cercania, a privação e a eliminação das incertezas e ambiguidades são permitidas. Ao mesmo tempo é o espaço da propriedade privada e de outras entidades territoriais delimitadas (tais como Estados, unidades administrativas, planos urbanos, etc.). Ele é um espaço nele mesmo, ou seja, uma existência independente da matéria. É o espaço de Newton e Descartes, é onde o cálculo humano pode florescer sem obstáculos ou bloqueios.

Já pensando em uma concepção de espaço relativo, o autor propõe que seja considerado como uma relação entre objetos que existe pelo próprio fato dos objetos existirem e se relacionarem. Ou seja, o espaço relativo depende daquilo que está sendo relativizado e de quem está relativizando, assim, tendo um caráter relacional do espaço-tempo, a noção relacional implica a ideia de relações internas. Para geografia, por exemplo, o espaço das relações é diferenciado do espaço da propriedade privada – “O caráter único da localização e da individualização, definido pelos territórios limitados do espaço absoluto, oferece um caminho para uma multiplicidade de localizações”.  Ainda sobre a égide do espaço relativo, percebe-se que há dificuldade de seu entendimento, principalmente, quando se tenta integrar conhecimentos de distintos campos do saber – “A espaço - temporalidade necessária para representar fluxos de energia através de sistemas ecológicos adequadamente, por exemplo, pode não ser compatível com aquela de fluxos financeiros através de mercados globais. Entender os ritmos espaço-temporais da acumulação de capital requer um quadro bastante diferente daquele necessário para entender as mudanças climáticas globais”.

 O conceito de espaço relacional proposto por HARVEY (1973) é considerado o espaço como estando contido em objetos, no sentido de um objeto que pode ser considerado como existindo somente na medida em que contem e representa em si mesmo as relações com outros objetos. Ou seja, a concepção de espaço relativo pressupõe sua relação para fora, fazendo com que influencias externas sejam internalizadas em processos e coisas através do tempo. Este conceito está associado a Leibniz e faz objeções a visão absoluta do espaço e tempo como centro das teorias. A visão relacional do espaço sustenta que não há tais coisas como espaço ou tempo fora dos processos que os definem. Os processos não ocorrem no espaço mas definem seu próprio quadro espacial. O conceito de espaço está embutido ou é interno ao processo. Esta formulação implica que, como no caso do espaço relativo, é impossível separar espaço e tempo. Devemos, portanto, focar no caráter relacional do espaço-tempo mais do que no espaço isoladamente. A noção relacional do espaço-tempo implica a ideia de relações internas; influências externas são internalizadas em processos ou coisas específicas através do tempo – “Um evento ou uma coisa situada em um ponto no espaço não pode ser compreendido em referência apenas ao que existe somente naquele ponto. Ele depende de tudo o que acontece ao redor dele”.

Dessa maneira HARVEY (1973) considera o espaço não sendo nem absoluto, nem relativo e nem relacional em si mesmos, mas que o espaço pode se tornar um ou outro separadamente ou simultaneamente em função das circunstâncias. Ou seja, não se pode partir de perspectivas monolíticas que considerem exclusivamente um tipo de categoria espacial. A tripartite espaço absoluto-relativo-relacional atua simultaneamente de forma que uma não exclui a outra, e sim, complementa para a existência de outras, permitindo, assim, um caráter multidimensional e multiescalar ligado a um momento histórico e uma espacialidade específica. O que acaba por reiterar as diferentes interações sócio espaciais que se manifestam no tempo.

No texto “Uma reflexão sobre a produção do espaço”, Paulo Godoy (2004) analisa as bases teóricas da noção de ‘produção do espaço’ bem como a sua utilização pela vertente crítica da geografia brasileira. A ideia central é a de suscitar o debate sobre a concepção crítica da produção do espaço, de modo a trazer à tona algumas questões de cunho teórico metodológico no interior de uma problemática de maior vulto, que é a proposição de um pensamento crítico na construção do conhecimento geográfico. Nesse contexto o autor enaltece que é “a Geografia já havia conhecido inúmeras transformações teórica, metodológicas e de conceitos no interior de seu corpo científico”.

 GODOY (2004) indica que já na filosofia antiga (Platão e Aristóteles) conceberam o espaço e a matéria como sendo inseparáveis, sendo um sistema de relações. Mais tarde, na segunda metade do XX o espaço passou a ser visto como uma criação humana que se realizava através do movimento da sociedade sobre a natureza. “A natureza apresenta-se, neste caso, separada da sociedade, constituindo a base física sobre a qual o homem atua e produz o espaço geográfico ou, em outras palavras, a ‘segunda natureza’. A ‘primeira natureza’ é concebida como algo que não pode ser produzido, é a antítese da atividade humana” (SMITH, 1988).

A separação do conceito de espaço em relação aos lugares particulares, surge com as origens da filosofia moderna, onde a consciência do espaço não decorre mais da prática imediata, mas da ação sobre um espaço abstrato. Ou seja, o debate acerca da produção do espaço remonta à própria institucionalização da Geografia como saber científico.

A partir disso, o autor privilegia o debate sobre os conceitos de “(des)construção” e de “rugosidades espaciais”, uma vez que os entende como “conceitos-pilotos” que acabam por (re)definir as orientações explicativas sobre os movimentos de interação e retroação existentes – em consonância com a ampliação das possibilidades de realização de um “pensamento verdadeiramente crítico que vise à construção do conhecimento geográfico”.

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